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Guilherme Macalossi

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Sanções

Bombas atômicas tarifárias de Trump explodem no colo da família Bolsonaro

Eduardo Bolsonaro defende tarifaço e pede anistia.
O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro defendeu o tarifaço de Trump e pediu anistia. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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“Não é possível servir a dois senhores”. O provérbio bíblico se reafirmou em meio à guerra tarifária de Donald Trump contra o Brasil na forma das críticas feitas por Eduardo Bolsonaro ao comportamento dúbio, e de certa forma desesperado, de Tarcísio de Freitas. Quando o mandatário norte-americano anunciou a imposição das taxas como forma de punição ao país pelo que ele entende ser uma “caça às bruxas” ao ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador de São Paulo rapidamente se alinhou contra o governo Lula escrevendo que o petista havia colocado “sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”. O que Tarcísio não contava é que o impacto de tais medidas não seria sentido pela população ou pela classe empresarial da mesma forma, transformando-se em pressão imediata sobre ele dos setores econômicos que o apoiam de forma mais entusiasmada.

Como poderia, afinal, o governador do estado mais rico e industrializado do Brasil não condenar e nada dizer sobre tarifas que destruirão empregos e negócios em seu próprio pais? As imagens de Tarcísio usando o boné do movimento Make America Great Again circularam com força nas redes sociais, causando inequívoco constrangimento para ele. O forçoso recuo, incentivado por aliados políticos de centro, foi percebido como um desaforo pelo núcleo duro do bolsonarismo, que não o vê com confiança.

O all-in geopolítico de Eduardo Bolsonaro se converteu, na prática, numa injeção de adrenalina em Lula, que recuperou protagonismo e agora aparece até como grande articulador dos interesses do capitalismo brasileiro

O próprio Eduardo Bolsonaro tratou de enquadrá-lo. Primeiro em entrevista para a Folha de São Paulo, depois que Tarcísio se encontrou com um representante do governo americano para discutir tarifas. Classificou a abertura de diálogo como um “desrespeito com ele”, ao que Tarcísio tentou contemporizar afirmando que estava “olhando para São Paulo, para o seu setor industrial, para sua indústria aeronáutica, de maquinas e equipamentos, para o nosso agronegócio, para nossos empreendedores e trabalhadores”. Não adiantou. O filho 03 voltou à carga chamando-o de “subserviente” e “servil”.

Durante a manhã desta última terça-feira (15), o vice-presidente Geraldo Alckmin apareceu ao lado de importantes industriários e representantes dos principais setores produtivos que exportam para os Estados Unidos. Vocalizou suas preocupações, anunciou ações conjuntas e deu as linhas gerais do difícil processo de negociação com as autoridades americanas. Até alguns dias atrás, tal situação pareceria impossível, com o governo acossado pela polêmica do IOF e o problema fiscal crescente.

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O instituto Atlas Intel revelou em números a percepção dos brasileiros sobre as tarifas, bem como a avaliação que fazem de Lula no episódio. E não poderia ser pior para a estratégia do bolsonarismo. A aprovação do presidente voltou a subir, chegando a 49,9%. Sua política externa teve salto de percepção positiva de 11%, chegando a 60%. Na comparação com Bolsonaro, Lula é melhor visto como representante do Brasil no exterior, em um placar de 61% a 38%. Já as tarifas, tão comemoradas por Eduardo Bolsonaro, são consideradas injustificadas por 62% dos entrevistados e a reação do governo é aprovado por 44%. Já Trump tem uma imagem negativa para 63%.

O all-in geopolítico de Eduardo Bolsonaro se converteu, na prática, numa injeção de adrenalina em Lula, que recuperou protagonismo e agora aparece até como grande articulador dos interesses do capitalismo brasileiro. Enquanto isso, lá dos Estados Unidos, o filho 03 continua a pregar que o sacrifício da economia é um preço a se pagar em nome do que entende ser “liberdade”, mesmo que sob o custo do desemprego alheio. E ele ainda ameaça com possíveis taxas adicionais.

Há quem veja nessa verdadeira chantagem uma forma peculiar de patriotismo. O que Eduardo Bolsonaro fez, entretanto, foi colar seu núcleo político a uma pauta percebida pela maioria como ruinosa para o país, e com a qual setores de centro que estavam se afastando do governo petista não querem ser identificados. Durante uma entrevista para a CNN, Flávio Bolsonaro chegou a comparar as tarifas de Trump a bombas atômicas lançadas contra o Brasil. Pelo visto elas acabaram estourando no colo da família Bolsonaro.

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