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Guilherme Macalossi

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Disputa

Direita pós-Bolsonaro é só barraco

"Abutres": o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou os políticos que almejam substituir seu pai na corrida ao planalto em 2026. Eduardo está nos Estados Unidos e busca uma alternativa ao PL para concorrer à presidência.
"Abutres": o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) criticou os políticos que almejam substituir seu pai na corrida ao planalto em 2026. Eduardo está nos Estados Unidos e busca uma alternativa ao PL para concorrer à presidência. (Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EFE)

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O deputado Eduardo Bolsonaro está inconformado com o tratamento dispensado ao seu pai pela classe política, principalmente daquela que o orbita na esperança de colher votos. Isolado nos Estados Unidos, Eduardo afirmou que não colocou “a vida em risco” para ver o ex-presidente, preso desde 4 de agosto, ser tratado como “carniça política a ser rapinada por abutres”. Abutre, aliás, é o segundo animal usado como comparativo por um integrante da família para designar esses tidos como do Centrão ou da tal centro-direita. Anteriormente, Carlos Bolsonaro já havia chamado os governadores oposicionistas de “ratos”.

A troca de farpas, quando não de xingamentos explícitos, é o que se tornou o ambiente da direita nisso que se pode chamar de pós-Bolsonaro. Isso para deleite de Lula, do PT e de Sidônio Palmeira. Os barracos que se cumulam na forma de posts em redes sociais e entrevistas para veículos de imprensa não se restringem aos filhos do ex-presidente, ainda que estes sejam os mais estridentes e coléricos.

A probabilidade de uma oposição fragmentada em 2026 vai se ressaltando na medida em que se aprofunda a busca de protagonismo dos diferentes atores políticos menores na ausência de Jair Bolsonaro

As falas de Eduardo vem na sequência de ataques trocados entre o senador Ciro Nogueira e o governador Ronaldo Caiado. Em entrevista para o jornal O Globo, Nogueira falou sobre a disputa presidencial. Encontrou para si o papel de pitonisa da teoria política de direita, função que representa bem o estado de danação em que se encontra tal ideologia no país. De qualquer forma, se pôs a traçar cenários. Citou como possibilidades as candidaturas de Tarcísio de Freitas, de quem parece desejar ser vice, e Ratinho Jr. Aproveitou também para rifar os demais pretendentes, incluindo o governador de Goiás, que não gostou nada do que foi dito. Caiado acusou Nogueira de tentar se estabelecer como “porta voz” de Bolsonaro, o chamou de “senador inexpressivo” e lembrou que este, no passado, “jurou amor eterno ao Lula”.

As reiteradas desavenças no campo da direita são resultantes do fortalecimento político de Lula. E isso não é questão de gosto ou de preferência, mas de leitura da realidade objetiva. Sem ódio e nem amor. Até alguns bolsonaristas o têm hoje como favorito para 2026. O petista vê seus indicadores de popularidade subindo. Tanto os dele em relação a si mesmo quanto os que têm em comparação aos possíveis adversários. Além de anabolizado pelo discurso da soberania, que lhe foi concedido pela estratégia infame da “floresta queimada”, proposta por Eduardo Bolsonaro, o presidente encontrou um caminho narrativo pela chamada agenda positiva, estruturada em programas custosos para a máquina pública.

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O discurso de Lula está alinhado com temas tangíveis para o grosso da população. A isenção do Imposto de Renda de quem ganha até 5 mil reais não é um assunto distante do cidadão. Representa dinheiro no bolso de uma massa de assalariados que terão, por deixar de pagar o tributo, o ganho de um verdadeiro 14º salário. Enquanto isso, a oposição bolsonarista continua na toada da anistia, monotema que é prioridade apenas de um nicho político.

A probabilidade de uma oposição fragmentada em 2026 vai se ressaltando na medida em que se aprofunda a busca de protagonismo dos diferentes atores políticos menores na ausência de Jair Bolsonaro. O bolsonarismo raiz, hoje capitaneado por Eduardo, já propôs até o voto nulo como alternativa ao ex-presidente. Qualquer nome que não seja o dele ou o de alguém da família é visto como coisa de oportunista, de "de abutre", "de rato".

E, de certa forma, parece haver até mesmo a preferência desses por uma derrota para Lula em 2026 de forma a preservar a hegemonia política na direita, do que, eventualmente, uma vitória de alguém de fora do grupo que a coloque em risco. É nesse jogo de fogo “amigo” da oposição que o governo busca lucrar e se fortalecer. Lula nada de braçada enquanto seus adversários se estapeiam como num daqueles programas de auditório.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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