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Parece haver consenso no Palácio do Planalto de que uma candidatura de Jair Bolsonaro em 2026 está descarta. Por mais que o governo americano pressione com sanções econômicas e políticas, a chance de o Supremo Tribunal Federal paralisar ou reverter os processos que o ex-presidente enfrenta é mínima. Mesmo uma anistia eventualmente aprovada pelo Congresso seria fatalmente discutida no âmbito do judiciário, com alta probabilidade de ser tomada como inconstitucional. Cenário posto, sobrerrestam no campo oposicionista os governadores de direita, alvos diletos de Eduardo Bolsonaro e, agora, também de Lula.
O petista já disse que não acompanhará o julgamento de Bolsonaro, ainda que seja improvável que não dê uma espiadinha. Em entrevista para a Rádio Itatiaia disse que “tem coisa melhor para fazer”. Dentre essas coisas está mirar em seus adversários mais prováveis. Nas últimas 48 horas, o mandatário petista disparou uma série de ataques a Romeu Zema, governador de Minas Gerais, e Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo.
Lula afirmou que Zema “mente”, o chamou de “falso humilde”, e ainda debochou do vídeo em que o governador mineiro aparece comendo banana com casca. “Quando ele aparece nas redes dele comendo uma banana com casca, ele poderia ter sido mais radical, comer um abacaxi com casca. Ou comer uma jaca com casca. Seria muito melhor para ele mostrar a bobagem que ele tentou passar para o povo”.
Sobre Tarcísio, que desponta como favorito para substituir Bolsonaro em 2026, a linha foi de associá-lo negativamente ao ex-presidente, reduzindo-o ao que seria um poste. “Ele vai fazer o que Bolsonaro quiser, até porque sem Bolsonaro ele não é nada. Ele sabe disso”. Curiosamente, essa foi a conduta de Lula em 2010, 2014 e 2018 com candidatos que ele escolheu para representá-los nas urnas. Tanto Dilma Rousseff quanto Fernando Haddad já foram suas testas de ferro eleitorais, quando, por força da lei, ele mesmo não podia concorrer.
Ainda que Zema tenha sido alvo de zombaria, fica evidente que o alvo principal de Lula é Tarcísio. E também de Eduardo. Enquanto o filho 03 achincalha Tarcísio por considerá-lo um empecilho a seus objetivos políticos nos Estados Unidos e um perigo ao monopólio político que a família Bolsonaro tem na direita, Lula vai no caminho contrário, atribuindo a ele o papel de figura servil ao ex-presidente. De certa forma, os dois acabaram por fazer uma dobradinha insólita, só que por razões inversas e, estranhamente, combinadas.




