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No maior ato de rua promovido até aqui contra a política monetária, as centrais sindicais e outros movimentos de esquerda acharam por bem tacar fogo numa imagem de Roberto Campo Neto. A foto do presidente do Banco Central estava colada a um papelão em formato de cavalo, em uma alusão ao Cavalo de Troia. Empapada de líquido inflamável, um manifestante se aproximou da imagem e acendeu um isqueiro, fazendo-a arder na fogueira santa de amor progressista.

Os fanáticos deliram achando que a decisão do BC de manter a taxa de juros em 13,75% tem o propósito de inviabilizar o governo Lula, e que Campos Neto atua mancomunado com Jair Bolsonaro. É inequívoco que o cerco político promovido pelo Planalto, e coordenado a partir das críticas feitas pelo próprio Lula, vão criando um clima de ódio que, agora, se verifica nas ruas por meio da ação de militantes.

Até aqui, só tivemos espuma ideológica, gritaria e conspiracionismo vulgar, o que gera apenas mais desacerto e confusão.

Qual o significado implícito de queimar a imagem de uma pessoa? O que se pretende com isso? Ninguém pode negar que há nessa ação uma simbologia, e que levada ao extremo pode gerar ações objetivas eventualmente criminosas. Ninguém no governo ou nas esquerdas condenou o que se viu na Paulista. E isso serve como um apito de cachorro de que tal comportamento é bem-vindo. Até que alguém ache por bem tocar fogo no Campos Neto em pessoa.

A decisão de manter o atual índice da Selic foi, como as demais, técnica. Há fatores conjunturais relevantes, para além das teorias conspiratórias de sindicalistas e quejandos. Ainda antes da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Federal Reserve havia anunciado a elevação dos juros americanos em 0,25%. É possível iniciar um ciclo de baixa da taxa de juros no Brasil ignorante de que o ciclo de alta no mundo desenvolvido ainda não acabou?

Há evidências contundentes de que o aumento generalizado de preços nas cadeias produtivas ainda não foi estancado. É só observar os núcleos de inflação. Para além disso, o Brasil vivencia outros condicionantes próprios que deveriam despertar atenção e serem devidamente combatidos. O economista Aod Cunha, que já ocupou a Secretaria da Fazenda do Rio Grande do Sul, aponta alguns: histórico de inflação alta, alto volume de crédito direcionado, riscos legais, carga tributária, concentração bancária, dentre outros.

O governo Lula também ainda não apresentou sua nova regra fiscal. Ficará para depois da viagem para a China – que acabou adiada. Até aqui, só tivemos espuma ideológica, gritaria e conspiracionismo vulgar, o que gera apenas mais desacerto e confusão. A continuidade da Selic no atual patamar não foi para afrontar o governo, mas serviu para reafirmar a independência funcional do Banco Central, que não se permitiu dobrar ante a pressão política do lulopetismo, que agora parece disposto até mesmo a intimidar com piras e fogueiras.

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