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Que os principais alvos da intentona internacional de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos sejam Alexandre de Moraes e o STF, isso ninguém pode negar, ainda que ele diga que seu objetivo “é anistia através do Congresso”. As sanções impostas ao Brasil, inclusive as tarifas escorchantes sobre setores produtivos, bem como o cabedal de ameaças a autoridades depois da aplicação da Lei Magnitsky, falam por si, sem a necessidade da exposição de nenhuma conversa privativa revelada via apuração da Polícia Federal. O que se evidencia, suplementarmente, no conjunto de mensagens chulas e vulgares trocadas entre Eduardo e seu pai é que seu alvo secundário não é nem mesmo Lula, mas sim o resto da direita brasileira, representada, em boa medida, na figura de Tarcísio de Freitas.
Com seu movimento nos Estados Unidos, Eduardo forçou uma fragmentação definitiva do campo chamado conservador. Tal divisão, é verdade, já existia preliminarmente: um núcleo central bolsonarista, ideologicamente disruptivo e antissistêmico, e outro mais genérico, composto por subdivisões de orientações diversas, mas irmanadas pela rejeição ao PT. Este último, sempre a reboque e sob desconfiança do outro. Bolsonaristas se reconhecem e só se identificam a partir da fidelidade resoluta a Bolsonaro. E isso inclui a pauta da anistia “ampla, geral e irrestrita”, o impeachment de Moraes e o rompimento com o que eles entendem ser o “establishment”. Qualquer movimento alheio a essa diretriz de ação é tomado como sedição política.
Nem Romeu Zema, nem Ronaldo Caiado, nem Ratinho Junior e nem o já mencionado Tarcísio de Freitas, por mais que façam acenos, por mais que busquem sinalizar alinhamento (às vezes até de forma patética e constrangedora), são tomados como integrantes legítimos do núcleo central do bolsonarismo. Muito pelo contrário: a toada é enquadrá-los como oportunistas e aproveitadores. Os filhos do ex-presidente, principalmente Eduardo e Carlos, já identificaram o que eu mesmo escrevi nesta Gazeta do Povo em abril: que os governadores de oposição “ganhariam mais com Bolsonaro inelegível e recebendo dele o apoio para se tornarem competitivos”.
Em uma das trocas de mensagens com o pai, Eduardo afirmou que Tarcísio “nunca te ajudou em nada no STF”, mantendo-se “de braços cruzados, vendo você se fuder e se aquecendo para 2026”. Também o apontou como um obstáculo ao seu objetivo nos Estados Unidos: “Agora ele quer posar de salvador da pátria. Se o sistema enxergar no Tarcísio uma possibilidade de solução, eles não vão fazer o que estão pressionados a fazer. E pode ter certeza: uma solução Tarcísio passa longe de resolver o problema, vai apenas resolver a vida do pessoal da Faria Lima”.
Nos últimos dias, os ataques e a patrulha política se intensificaram dentro da direita. O apito de cachorro veio de Carlos, o mais visceral integrante da família. Em suas redes sociais, naquele seu estilo inconfundível, escreveu que esses governadores “se comportam como ratos, sacrificam o povo pelo poder e não são em nada diferentes dos petistas que dizem combater". Foi endossado pelo irmão nos Estados Unidos. Zema, Ratinho, Caiado e Tarcísio tergiversaram ou silenciaram, evitando o conflito direto. Mas ele é inescapável.
Ao que tudo indica, mesmo o endosso formal de Jair Bolsonaro a um candidato que não seja ele em 2026 não resultará na adesão do seu núcleo ideológico. A campanha de boicote, aliás, já começou, mesmo que implique no fortalecimento de Lula. O movimento “só voto em Jair Bolsonaro” já ganhou forma e força nos grupos bolsonaristas, que se ocupam de triturar a imagem daqueles que são tomados como inimigos internos. O bolsonarismo declarou guerra ao resto da direita.




