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Guilherme Macalossi

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Preços

O café caro do governo e o café frio da anistia

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Imagem ilustrativa. (Foto: Arquivo pessoal/Alexandre Kunz)

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“Disseram-me que hoje é o dia do café. Vai um cafezinho ai?”, escreveu Geraldo Alckmin em suas redes sociais. A mensagem veio ilustrada com imagens e vídeos do vice-presidente consumindo o produto que se tornou iguaria de luxo nos supermercados brasileiros. O item subiu impressionantes 77% ao longo dos últimos 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Só em março, o café subiu 8%, cumulando mais de 30% desde o início de 2025. Considerando o contexto inflacionário atual e a alta específica no preço do café, a postagem pode muito bem ser interpretada pelos eleitores como deboche. É o resumo perfeito do governo petista: incapaz de resolver o problema e indiferente quanto aos seus efeitos.

Enquanto Alckmin toma tranquilamente seu café e faz memes no Instagram, a população diminui o seu consumo médio de alimentos. Foi o que revelou uma pesquisa feita pelo Instituto Datafolha no início do mês de abril. 58% dos entrevistados disseram que reduziram seu gasto médio com comida. Entre os mais pobres, na estratificação que abrange os que ganham até dois salários mínimos, o percentual sobe para impressionantes 67%. Outros números retratam o efeito devastador do aumento de preços entre a população. A cada 10 brasileiros, 8 tiveram de alterar seus hábitos de consumo. 50% reduziram água e gás, 36% a aquisição de remédios e 61% a alimentação fora de casa.

A sorte de Lula é que sua oposição ainda não surfou em seu mau momento econômico. E nem parece ter planos de fazê-lo. O único tema explorado pela direita monopolizada pelo bolsonarismo é a anistia

Não há classe social que não tenha sido afetada pelo aumento generalizado de preços, dentre eles o do café, que incidem também sobre outros setores econômicos, mas é evidente, e até natural, que o impacto maior seja entre os mais pobres. Pessoas que tem renda mínima, vivem na informalidade ou recebem benefícios sociais. Estes não conseguem se proteger da inflação, e veem seu poder de compra ser corroído no bolso. Quase sempre, do esfacelamento da renda vem a reboque a corrosão dos indicadores de popularidade do governo de turno.

Nada menos que 54% dos entrevistados pelo Datafolha entendem que Lula tem “muita responsabilidade” pela alta dos alimentos, incluindo o do café. Só 14% acham que ele “não tem nenhuma responsabilidade”. É por isso que os indicadores negativos do presidente não param de crescer. A rejeição do petista sobe consistentemente em todo o país, incluindo o Nordeste, histórico bastião eleitoral de Lula. Em outra pesquisa também publicada no início de abril, a Quaest apontou que os indicadores negativos do presidente subiram 9% naquela região, chegando a 46%.

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A sorte de Lula é que sua oposição ainda não surfou em seu mau momento econômico. E nem parece ter planos de fazê-lo. O único tema explorado pela direita monopolizada pelo bolsonarismo é a anistia. Tópico, aliás, tão impopular quanto Lula. Segundo o mesmo Datafolha que tem medido a deterioração do presidente, 56% dos brasileiros são contra o perdão aos que participaram dos ataques do 8 de janeiro. O assunto só “existe” para dar a Bolsonaro condições políticas para disputar a eleição de 2026, mesmo isso sendo legalmente improvável.

Mesmo com indicadores de inflação em alta e sua popularidade em decomposição, Lula surge competitivo para a eleição de 2026. Dizem que o presidente “tem sorte”. Considerando seus problemas e as escolhas de seus críticos, fica difícil de dizer o contrário. A incompetência de seus adversários também lhe serve de ativo. Enquanto Alckmin oferece café inflacionado aos internautas, o bolsonarosmo oferece o café frio da anistia para sua bolha.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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