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Guilherme Macalossi

Guilherme Macalossi

Cinismo

O ódio e a falsa retratação de Peninha

O historiador Edurado Bueno, conhecido como Peninha, que comemorou nas redes o assassinato de Charlie Kirk.
O historiador Edurado Bueno, conhecido como Peninha, que comemorou nas redes o assassinato de Charlie Kirk. (Foto: Reprodução Rede Social - X - @Clauwild1)

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O escritor Eduardo Bueno, vulgo Peninha, está tão obcecado e absorto na busca por identificar extremismo nos outros que se tornou absolutamente incapaz de reconhecê-lo em si mesmo. E isso se evidenciou nos vídeos que gravou após a repercussão negativa, principalmente do ponto de vista financeiro, pela forma grotesca com que comemorou a morte do ativista conservador Charlie Kirk, assassinado com um tiro no pescoço durante um evento numa universidade americana.

Depois de ter dito que era "terrível um ativista ser morto por ideias, exceto quando é Charlie Kirk" e que o resultado da violência "foi bom para suas filhas", o historiador veio a público fazer o que chamou de “retratação seguida por um rosário de poréns”. Em outras palavras, o que Peninha fez foi uma falsa retratação. Na prática, o que ele fez foi reafirmar sua posição original, modulando apenas o tom. Seu arrependimento não se deu quanto ao mérito, apenas na forma. E ele mesmo o admite, lamentando ter dado “combustível” aos críticos.

Charlie Kirk, independente das opiniões que tinha, fez de sua atuação nos Estados Unidos um permanente convite ao debate aberto e franco de ideias. O mundo não está melhor sem ele

No vídeo que se seguiu ao que suscitou a onda de reações negativas, Peninha reafirmou seu “desprezo pelo assassinado” e completou dizendo que “embora o assassinato sempre seja algo a ser lamentado, o mundo sem a presença de certas pessoas, como Hitler e Stalin – embora ele (Kirk) não tenha o mesmo alcance que esses aí – é um lugar que fica melhor”. É aqui que a reafirmação da comemoração se comprova, bastando uma dedução lógica para tanto. Vejamos a proposição, segundo as premissas de Peninha: É preciso melhor o mundo. Atos que melhoram o mundo são positivos. O mundo fica melhor sem Charlie Kirk. Logo, eliminar Charlie Kirk é bom.

Ao longo da carreira, Peninha, a quem conheço pessoalmente, construiu uma persona pública. O esquisitão que mistura conhecimento de verbete com linguagem descolada. Transita entre intelectualismo e fanfarronice como a linha de um eletrocardiograma. Ninguém como ele personifica tão bem o tipo “maluco galera” que diz coisas absurdas, mas de modo engraçado. Nunca se sabe quando está falando sério e quando está brincado, o que permite supor que nunca está brincando.

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A persona de Peninha, construída para agregar público e lhe dar publicidade acabou também lhe servindo de escudo, dando a ele um salvo conduto para mascarar boçalidades, juízos extremos e, até pouco tempo, fazer o que ele condena nos outros: discurso de ódio. Não mais. As atenções se voltaram para ele, inclusive em retrospectiva, com impropérios outros que cometeu sendo resgatados de suas múltiplas intervenções públicas em comentários, entrevistas e conferências. Sua licença poética foi cassada.

A superação do que se entende como extremismo político depende do compromisso das elites pensantes em racionalizar o ambiente público e o diálogo social. Para tanto, não é necessário abrir mão do contraditório, da divergência ou da contundência das posições que se buscam afirmar. Charlie Kirk, independente das opiniões que tinha, fez de sua atuação nos Estados Unidos um permanente convite ao debate aberto e franco de ideias. O mundo não está melhor sem ele. Sua morte brutal é o triunfo da bestialidade e da eliminação do divergente. Quem aplaude isso, sem transparecer o mínimo de consciência ou autocrítica, é que contribui para torná-lo pior.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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