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Há, nesse momento, um enorme paredão diplomático na Casa Branca o qual o governo Lula é incapaz de transpor. Isso porque as relações entre os EUA de Trump e Brasil de Lula foram congeladas. Elas existem apenas protocolarmente. Na prática, entretanto, o afastamento entre os países é patente e está mais próximo de uma ruptura do que de um acordo. Os tais “canais de comunicação” inexistem.
Houve uma conversa entre vice-presidente Geraldo Alckmin e o secretário de comércio Howard Lutnick, mas nada além disso. Todos os demais esforços caiaram no silêncio e na indiferença das autoridades americanas. E por uma razão até aqui ignorada por todos os agentes políticos e empresariais brasileiros que tentaram se envolver: a natureza da taxação imposta por Donald Trump ao Brasil é política e ideológica, não comercial.
Considerando a preponderância da agenda política, há pouco ou nada que se possa negociar. Se já há um cenário de déficit brasileiro em relação aos Estados Unidos, o que sobraria é conceder a Trump uma inédita intromissão nos assuntos internos do Brasil
No comunicado em que anunciou as tarifas contra o Brasil, o personagem principal do texto não são déficits ou superávits, mas, sim, o ex-presidente Jair Bolsonaro, que aparece como vítima do que Trump chamou de “caça às bruxas” do Poder Judiciário. Em todas as oportunidades em que o republicano mencionou a imposição da medida, frisou a condição do ex-colega brasileiro.
Por mais que muitos neguem, o fator que aparece como principal para qualquer abertura de diálogo é a condição de Jair Bolsonaro. Ao longo dos últimos anos, Eduardo Bolsonaro constituiu uma rede de contatos com lideranças conservadoras nos Estados Unidos e em outras partes do mundo. De tal forma que até importou uma versão do Conservative Political Action Conference (CPAC) para o Brasil. Ele dispõe de mais elos comunicantes com o Partido Republicano atual e a Casa Branca do que qualquer membro do governo Lula. Daí a facilidade com que transita nos meios políticos influentes e próximos ao Salão Oval. Não é que ele “faça a cabeça de Trump”, mas é ouvido por quem conversa com o presidente. Mauro Vieira e Celso Amorim seriam barrados na portaria.
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Ainda em novembro de 2024, quando Trump estava para ser eleito, escrevi na Gazeta do Povo que “o presidente brasileiro deveria trabalhar nos bastidores para construir pontes com o futuro governo americano, o que inclui dialogar também com lideranças republicanas” e que se isso não fosse feito, “relações entre os dois países tende a sofrer as consequências, com prejuízo muito maior ao Brasil, que tem nos EUA o seu segundo maior parceiro comercial”. Ao invés disso, Lula deu de ombros para construção de pontes e preferiu as provocações contínuas. O erro agora cobra seu preço.
Considerando a preponderância da agenda política, há pouco ou nada que se possa negociar. Se já há um cenário de déficit brasileiro em relação aos Estados Unidos, o que sobraria é conceder a Trump uma inédita intromissão nos assuntos internos do Brasil. Em um discurso de palanque, o presidente comparou as negociações com o Trump a um jogo de truco. As cartas na mesa aqui, entretanto são outras, bem como as regras. E há quem ache que Trump vai retirar as tarifas falando com ele sobre laranjas.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos




