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Não existe resistência ucraniana à invasão russa sem o financiamento norte-americano. Desde o início da guerra, os Estados Unidos destinaram centenas de bilhões de dólares em armamento ao governo de Kiev. Uma soma superior ao total das demais nações europeias que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Donald Trump não parece disposto a continuar sustentando tal desequilíbrio em relação à guerra na Ucrânia e já deu sinalizações contundentes de que a situação vai mudar, inclusive no trato com a Rússia.
O pontapé nas negociações começou semana passada, e devem ganhar força nos próximos dias. Na última quarta-feira (12), Trump conversou tanto com o ditador russo Vladimir Putin quanto com o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky. Em um comunicado oficial, o presidente americano relatou que “concordamos em trabalhar juntos de forma muito próxima, incluindo visitas mútuas aos nossos países”, e que as equipes de seus respectivos governos iniciariam “negociações imediatamente”. Trump também afirmou confiar em Putin no assunto.
Assim como vê a guerra entre Ucrânia e Rússia exclusivamente pela lupa de uma planilha de custos, Trump entende o mundo como um espaço a ser dividido entre os mais fortes
Que o mundo precisa de um cessar-fogo no leste Europeu, assim como precisava também no Oriente Médio, é inegável. A questão é saber quais serão os termos, e se de fato é possível acreditar em qualquer coisa que diga um dirigente imperialista russo formado pela KGB. A chance de o Ocidente estar sendo engambelado pelo Kremlin não pode ser descartada, ainda que se reconheça os atributos de Trump como negociador. O papel dele em Gaza é inequívoco, mas Putin e seu regime não são equivalentes aos terroristas do Hamas.
Putin é responsável por boa parte da insegurança global da última década e meia. Empreendeu três conflitos no leste europeu, sempre com o objetivo de ampliar as fronteiras da influência russa. A invasão da Ucrânia, depois da tomada da Geórgia e da Crimeia são exemplares inequívocos de sua disposição belicista. Não há razão para imaginar que vai parar por aqui. Ainda mais se a negociação resultar numa posição vantajosa para ele. Se sentirá estimulado a agir dessa forma sempre que tiver a oportunidade.
O movimento do presidente americano não foi bem visto pelos países europeus. Há o receio de que Trump abandone a Ucrânia e ignore seus aliados na Otan costurando um acordo diretamente com Putin. A filosofia trumpista de relações exteriores não obedece aos ritos tradicionais da diplomacia moderna. Ele é um empresário. Um negociador pragmático.
Assim como vê a guerra entre Ucrânia e Rússia exclusivamente pela lupa de uma planilha de custos, Trump entende o mundo como um espaço a ser dividido entre os mais fortes. É por isso que agora quer um encontro de cúpula com Putin e o ditador chinês Xi Jinping. E é por isso que começou a construir um acordo com a Rússia passando por cima da Ucrânia.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos




