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Guilherme Macalossi

Guilherme Macalossi

Guerra na Ucrânia

Trump faz Reagan se revirar no túmulo

Donald Trump e Vladimir Putin (Foto: EFE/ Anatoly Maltsev)

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Que a abordagem de Donald Trump para a guerra entre Ucrânia e Rússia seria diferente da de Joe Biden isso todos sabiam. O que ninguém imaginava, talvez nem mesmo alguns de seus mais entusiasmados apoiadores, seria que, ao retomar as negociações com o ditador Vladimir Putin, o presidente norte-americano incorporaria o tom discursivo do Kremlin. Nos últimos dias, Donald Trump e seus aliados, especialmente o bilionário Elon Musk, se dedicaram a espezinhar, desmoralizar e desconstruir o presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky.

Na última quarta-feira (19), em uma publicação na rede social Truth Social, Trump acusou Zelensky ser um “ditador sem eleições”. A acusação decorre da suspensão das eleições na Ucrânia, mas não tem cabimento, uma vez que o país está em guerra, vítima de uma ação militar criminosa da Rússia. O que Trump deseja, afinal? Que Zelensky entre em campanha política enquanto os eleitores são bombardeados? Que haja votação sob o risco de ataques. A democracia precisa de estabilidade para se consumar.

Até aqui, a conduta de Trump nas conversas com Putin compromete a imagem dos Estados Unidos como líder do mundo livre. Além de ter atraiçoado uma nação que buscou proteção no Ocidente, ele deliberadamente alijou os aliados europeus do processo de negociação

A decisão de não realizar o pleito não decorre de uma arbitrariedade do presidente ucraniano, mas de uma circunstância imposta pela Rússia e seu expansionismo belicoso. A própria Constituição da Ucrânia impede a realização de eleições sob a vigência de Estado de Guerra, situação em que se encontra desde 2022 e Donald Trump não pode fingir desconhecer essa realidade. O faz, portanto, de má-fé, como se Zelenzky e Putin fossem autocratas equivalentes. Não passa de relativismo.

Muitos estão comparando Trump com Neville Chamberlain, primeiro-ministro britânico que tentou evitar a II Guerra Mundial negociando com Hitler. É injusto. Chamberlain foi, sim, enganado pelo ditador nazista, mas nunca chegou ao ponto de, tratando com ele, passar a concordar com seu ponto de vista sobre a Europa.

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Em 1987, já nos estertores da Guerra Fria, o presidente Ronald Reagan, luminar do conservadorismo americano no Século XX, foi aos portões de Brandemburgo desafiar a União Soviética a derrubar o Muro de Berlim. “Secretário Geral Gorbachev, se você procurar paz, se você procurar a prosperidade para a União Soviética e Europa Oriental, se você procurar liberalização, venha aqui a este portão. Sr. Gorbachev, abra o portão. Sr. Gorbachev, derrube este muro!", disse vaticinando a queda da “cortina de ferro”.

Até aqui, a conduta de Trump nas conversas com Putin compromete a imagem dos Estados Unidos como líder do mundo livre. Além de ter atraiçoado a Ucrânia, uma nação que buscou proteção no Ocidente, Donald Trump deliberadamente alijou os aliados europeus do processo de negociação, o que difere de cobrar deles maior participação financeira no apoio militar. Pragmatismo não é sinônimo de prostração. Reagan se revira no túmulo.

Conteúdo editado por: Jocelaine Santos

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