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A Venezuela já havia mergulhado numa ditadura militar de esquerda quando, numa sessão do simulacro legislativo que havia restado, a então deputada Maria Corina Machado, agora ganhadora do Nobel da Paz, se levantou para contestar as mentiras em série e o cinismo de Hugo Chávez, que já falara sem parar por horas consecutivas sobre um país que existia apenas na propaganda bolivariana, mas que, na prática, se fechava na perseguição a oposição, restringia o direito de propriedade e condenava o povo a carestia e a miséria.
Levantou-se, dando de ombros para as vaias, os gritos e o deboche dos áulicos e sicários do regime. Olhou nos olhos do ditador e disse em tom firme, sem tergiversar: “A Venezuela decente é aquela que não quer, definitivamente, avançar em direção ao comunismo, quer respeito pela propriedade, e queremos uma Venezuela solidária, uma Venezuela de justiça, uma Venezuela de melhorias. (...) Diga a verdade à Venezuela. Aqui está uma Venezuela decente, que quer uma transformação profunda e é hora de enfrentar o desafio histórico com seriedade e responsabilidade, que está a nossa frente. O seu tempo acabou. É hora de uma nova Venezuela”.
O Nobel dá proporção às coisas. Celebra uma heroína da América Latina e destaca a podridão de uma ditadura condenada desde já ao lixo da história
Essa sua disposição ao enfrentamento, evidenciada incontáveis vezes na luta contra o arbítrio de burocratas sanguinolentos, apenas ressalta a fibra moral que lhe fez a representante maior de um movimento político de resistência a um dos regimes mais brutais e corruptos do mundo. A longa trajetória de heroísmo e destemor foi reconhecida nessa sexta, dia 10 de outubro, com um merecido prêmio Nobel da Paz.
O Nobel que ela recebeu serve não apenas de reconhecimento ao seu trabalho em prol da liberdade, mas também para denunciar os crimes contra a humanidade cometidos que se tornaram o verdadeiro plano de governo do chamado “socialismo do Século XXI”, hoje liderado por Nicolás Maduro, discípulo menos sofisticado, mas não menos celerado de Chávez.
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Em seu comunicado de oficialização do prêmio, o Comitê Nobel Norueguês ressaltou que “a democracia é uma condição prévia para a paz duradoura”, e que “quando líderes autoritários tomam o poder, é essencial reconhecer os defensores da liberdade que se erguem e resistem”.
Ao receber, via telefone, a informação de que seria agraciada com o Nobel, Maria Corina, que hoje vive na clandestinidade, reagiu emocionada, sem encontrar as palavras necessárias para expressar o que sentia. Mas não era necessário dizer coisa alguma. Afinal, o que lhe fez ganhadora do Nobel da Paz já havia sido dito na cara do tirano que inaugurou um regime que oprime e marginaliza seus compatriotas na Venezuela. O Nobel dá proporção às coisas. Celebra uma heroína da América Latina e destaca a podridão de uma ditadura condenada desde já ao lixo da história.
Conteúdo editado por: Jocelaine Santos




