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Quando Bolsonaro surgiu como candidato à presidência, e depois como presidente eleito, diversos setores da sociedade – como mídia, academia, artes e demais progressistas em geral – entraram em pânico e passaram a lutar, com todos os meios, para inviabilizar o seu governo. Na interpretação da esquerda, Bolsonaro era um Hitler tropical, um ditador que havia praticado “genocídio” (por meio da covid), não usava máscara, importunava baleias e precisava, assim, ser retirado do governo, a qualquer preço.
Era preciso “salvar a democracia”, e para isso legitimou-se uma série de medidas de exceção, como a volta da censura (inclusive a censura prévia), a perseguição à direita, o esvaziamento do devido processo legal, dentre outras medidas. Enfim, para salvar a democracia os progressistas decidiram que valia a pena, inclusive, destruir a própria democracia.
Ainda é difícil saber no que dará o escândalo envolvendo o Banco Master, mas o mais surpreendente não foi a revelação de possíveis atos de corrupção; desde quando isso é surpresa? O fato mais surpreendente é que, aparentemente, alguns jornalistas do consórcio resolveram voltar a praticar jornalismo
Nem todo apoiador da tirania era sincero, obviamente. Como ocorre em qualquer regime autoritário, muitos apoiam a tirania sem fervor ideológico, visando apenas algum benefício pessoal (como o financeiro). O antibolsonarismo psicótico do consórcio foi, assim, um movimento bastante diverso, plural e inclusivo, reunindo tanto pessoas que realmente odiavam Bolsonaro quanto outras que apenas precisavam de um álibi para empreender suas ilegitimidades. Eu estou fraudando uma licitação aqui, mas você sabia que eu sou contra o bozo? Se Bolsonaro existe, tudo é permitido.
Mas se Bolsonaro está preso, esvai-se o álibi, e algumas coisas deixam de ser permitidas. Como continuar a concentrar poder e amealhar benefícios se não há mais a justificativa do malvadão que quer destruir a democracia?
Vencido o câncer, o sujeito lembrou da azia. Sem o fascismo iminente, o consórcio voltou a preocupar-se com a concentração de poder que ele mesmo apoiara.
Ainda é difícil saber no que dará o escândalo envolvendo o Banco Master, mas o mais surpreendente não foi a revelação de possíveis atos de corrupção; desde quando isso é surpresa? O fato mais surpreendente é que, aparentemente, alguns jornalistas do consórcio resolveram voltar a praticar jornalismo. Alguns deles estão com receio, meio claudicantes, porque agora têm medo do monstro que alimentaram. Mas sem dúvida pode-se sentir que há algo estranho, uma postura diferente, do jornalismo do consórcio.
Subjetivamente, na cabeça desses jornalistas, nada mudou. Ao menos essa é a minha interpretação: eles sempre souberam que apoiavam uma perseguição injustificável. Não tenho nenhuma informação privilegiada, mas posso imaginar a conversa: realmente está exagerada essa censura, essas penas estão excessivas, mas é só até tirar o bozo; depois, voltaremos à normalidade. Não é à toa que, passada a prisão do Bolsonaro, o consórcio publicou uma série de editoriais clamando pela autocontenção e pela volta à normalidade institucional.
Agentes de poder não toleram grandes concentrações de poder; alguém começa a crescer demais em Brasília, e logo aparecem as matérias com escândalos para minar a projeção da figura eminente. A política é um jogo de ascensão em que todos puxam a perna daqueles que emergem um pouco acima dos outros. A histeria do antibolsonarismo acabou interrompendo esse processo, e uniu muitos agentes em torno do álibi do combate ao fascismo. Mas agora, findo o álibi, a tendência é que se voltem à contenção do poder dos outros agentes, com o apoio de sempre do consórcio.
É por isso que acredito que os progressistas estejam hoje dedicados a encontrar o novo fascismo; a quem vamos acusar de estar atacando a democracia? Quem será o tirano que devemos combater? Sem o pânico e a histeria dos últimos anos, a tendência é que o consórcio (ou ao menos parte dele) desperte para a realidade política do país, em especial para a concentração monumental de poder construída para perseguir a direita brasileira.




