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Agência do Sicredi no bairro Centro Cívico, em Curitiba.
Agência do Sicredi no bairro Centro Cívico, em Curitiba.| Foto: Reprodução.

Nessa semana que passou, aconteceu o primeiro ESG Day, evento que foi fruto da parceria de duas grandes instituições do nosso mercado, a ADVB/PR e o LIDE Paraná. Marcos teóricos importantes, discussões interessantíssimas e cases muito bacanas de grandes empresas de segmentos muito variados - Grupo Boticário, Compagás, Valmet, Claro, Neodent, Renault e Sicredi. Ter sentido a movimentação e ouvido todas as discussões que rolaram sobre ESG resgatou um assunto sobre o qual eu queria escrever há algum tempo: o modelo cooperativista de se fazer negócios.

Venho, há alguns anos, trabalhando junto a cooperativas agroindustriais e, por consequência, estudando e observando o seu modelo de negócio. E desde a primeira vez que ouvi falar na sigla ESG (Environmental, Social & Governance), uma coisa ficou clara pra mim: as cooperativas por definição já são “S” e já são “G”. Estão se desenvolvendo e investindo cada vez mais em ações relacionadas à conservação ou regeneração do ambiente (ou “Environmental”, o “E” da sigla), mas as questões sociais e de governança são inerentes ao modelo de negócio, estão na essência de sua existência e propósito.

As cooperativas normalmente surgem a partir da união de agentes econômicos com interesses comuns, que produzem algo para o qual existe demanda, mas que não têm capacidade ou escala para vender sua produção. Ao se organizarem dessa forma, garantem a escala para venda, além de comprarem insumos, armazenarem a produção e outras atividades que costumam trazer ótimos resultados. Esses resultados das operações (ou “sobras”) são divididos entre os cooperados na proporção de sua participação econômica e, normalmente, trazem grande desenvolvimento para uma comunidade ou região – e não dividendos para acionistas externos, muitas vezes de outros países. Ou seja, nenhum modelo de negócio pode ser mais social (ou “S”) do que uma cooperativa.

Do ponto de vista de governança (ou “G”), a adesão é voluntária e as cooperativas por definição são independentes e autônomas. Sua gestão é democrática e as assembleias de cooperados são absolutamente transparentes e soberanas em suas decisões. Os gestores – inclusive o C-Level eventualmente contratado – respondem a quem efetivamente produz. Ou seja, a pirâmide hierárquica se inverte: aqueles que poderiam ser os empregados na produção ou fornecedores são aqueles que efetivamente mandam no negócio, além de acompanhar e auditar cada etapa ou processo da instituição.

Há alguns anos, quando estava estudando esse tema por conta de um projeto para uma cooperativa agroindustrial, cliente da agência de comunicação na qual eu trabalhava naquele momento, deparei-me com uma grande surpresa. Michael Porter, criador dos conceitos de Estratégia e Vantagem Competitiva nos negócios e (ao lado de Philip Kotler), provavelmente, o maior guru dos meus tempos de graduação em administração, lá na virada do milênio, reviu as suas teorias que tanto estudamos para incluir o conceito de Valor Compartilhado, que concilia geração de valor econômico para a empresa com a criação de valor para a sociedade. Ou seja, não é sobre filantropia, mitigação, responsabilidade social ou mesmo sustentabilidade: é sobre obter sucesso econômico gerando impacto positivo.

E essa discussão pautou as apresentações no ESG Day. O grande Marcel Fukayama destacou exatamente esses pontos, desvendando diversos “mitos” sobre o tema: ESG não é apenas sobre sustentabilidade, mas sobre impacto positivo. Não é sobre custo, mas sobre valor – compartilhado a longo prazo com todos os stakeholders (e não apenas os shareholders). Que não é sobre filantropia ou ação social, mas é algo dentro da cadeia de negócios. E, claro, que não é uma pauta política ou partidária, mas uma agenda de todos – não é uma causa progressista ou conservadora, portanto, mas um conceito que demonstra que ser melhor para a sociedade e para o planeta tem valor para o mercado.

A queridíssima Paula Harraca trouxe, inclusive, uma variação da sigla original, que talvez defina melhor esse conceito, o EESG, incluindo o “Economic” antes do "Environmental, Social & Governance" – e reforçou a importância de lideranças “ambidestras” nas empresas, que sejam capazes de olhar para as metas do mês, mas também de trabalhar na cocriação de melhores futuros.

E aí chegamos ao terceiro ponto do título desse texto/reflexão: Futuro. Parece que o modelo de negócio das cooperativas faz tanto sentido e vem dando tão certo exatamente porque aponta para o futuro. Mais que isso: porque possibilita um futuro. Ao conciliar resultados financeiros com os conceitos de ESG (ou EESG), parece que começa a responder à equação proposta pelo conceito de sustentabilidade: garantir o atendimento às demandas da geração atual, sem comprometer o atendimento às demandas das gerações futuras. E isso vale para qualquer segmento de negócio.

Conforme comentei, há algum tempo venho estudando e acompanhando o sucesso das cooperativas agroindustriais – em todo o Brasil, mas especialmente aqui no Paraná. Mas, a cada dia, me impressiona mais o crescimento do modelo cooperativista também no mercado financeiro. Meu colega de trabalho na Tif Comunicação e grande amigo, Waldemar Segundo, chamou minha atenção para algo que me fez perder o foco na reunião para o qual a gente estava se dirigindo – senti o próprio cara daquele meme da explosão no cérebro...

A agência bancária da foto que acompanha esse texto é um belíssimo prédio de arquitetura modernista, no coração do Centro Cívico de Curitiba/PR. Foi construída originalmente para ser uma sede do antigo Banco Bamerindus, depois foi agência do HSBC e posteriormente do Bradesco. Há pouco mais de um mês, em junho, passou a ser uma agência do Sicredi, instituição fundada em 1902 e uma das mais bem sucedidas cooperativas do mercado financeiro no Brasil.

E mais: pelo que o Segundão me contou, essa agência foi parte de um conjunto de prédios modernistas, encomendados na época (anos 70) a arquitetos da cidade exatamente para apontar para o seu futuro. E, hoje, talvez tenha se tornado um grande símbolo de uma mudança de poder (ou de paradigma de negócios) ao se tornar agência bancária de uma cooperativa centenária mas que cresceu de maneira acelerada nos últimos anos – e que parece que continuará crescendo no futuro próximo. Muito provavelmente por ser (E)ESG na sua essência e no seu propósito e, principalmente, porque seu modelo de negócio parece fazer cada vez mais sentido no mercado e no mundo em que vivemos hoje – e no que queremos deixar para as próximas gerações amanhã.

*Cícero Rohr é diretor de Operações da Tif Comunicação e diretor de Campanhas da ADVB-PR.

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