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Estudo da OCDE foi divulgado em 30 de junho de 2021
| Foto: Gil Leonardi / Imprensa MG

Pelos leitores da Gazeta do Povo, aceitei o desafio de escrever alguns textos de opinião sobre política educacional. Vou começar por este artigo, que traz um resumo não das chagas que acometem nosso sistema educacional público e privado (não se iludam, escola cara de gestão comercial não estabelece relação com educação efetiva), as quais, ad nauseam, já conhecemos, mas do Merthiolate ardido que as cura. Ou seja, falaremos, de forma resumida, da estrutura de políticas e decisões amargas e politicamente doloridas necessárias para superarmos a ignorância gerada na escola. Essas sim, são ações públicas e universais, pois educação é algo que funciona muito melhor no agregado, comunitário, do que no individual e competitivo, mesmo que seja benéfico valer-se aqui e ali de instrumentos de meritocracia.

Quais são os remédios, ou os hábitos “saudáveis” de gestão da educação que consistentemente, se usados em conjunto, vêm levando populações escolares de alguns países a apresentar bons resultados em provas comparativas internacionais?

Em primeiro lugar, temos que ter em mente o que o aluno vai aprender na escola, a cada dia letivo, semestre e ano. Como ele progride em cada disciplina, em cada habilidade, sem o quê, nenhum recurso humano ou material deveria ser mobilizado. Isso responde pelo nome de currículo nos contextos onde a nomenclatura ainda não foi corrompida pela novilíngua. Currículo é uma lista lógica, fácil de entender e progressiva de objetivos de aprendizagem. Exemplos: ler textos com velocidade de 50 palavras por minuto, com prosódia e demonstrando compreensão; ou: somar frações de mesmo denominador até a ordem dos dozeavos. Esses são itens curriculares de Singapura para alunos de seis anos, os quais aparecem escritos de forma similar em currículos de países desenvolvidos. Procurem na nossa tropicalíssima Base Nacional Comum Curricular (supostamente, nosso currículo nacional) algo parecido para a mesma idade. Good luck with that!

Se você já sabe que vai ter que ensinar isso aos alunos, pois haverá aferição interna e externa à escola para monitorar esse tipo de direito, terá de selecionar livros didáticos e materiais de ensino para tal. E se todos sabem que os alunos deverão aprender esse tipo de habilidade cognitiva, os professores deverão receber formação profissional para tal. Pronto, terminou a fórmula desse emplastro incrivelmente complexo! Resumindo e nessa ordem: currículo, livros didáticos, avaliação e formação docente – todos alinhados não aos interesses de sindicatos, fornecedores, ongueiros e palpiteiros remunerados, mas ao interesse dos indivíduos e da sociedade.

Nos próximos textos, desenvolvo cada aspecto.

E sim. Por último, mas não menos importante, há, realmente, uma base ideológica que piora nossas perebas cognitivas e dificulta as coalizões necessárias à sua superação. Apesar de a sociedade brasileira ter um histórico de negligência com os aspectos mais básicos da educação da população, o ambiente de ignorância extrema resultante desse descaso estrutural lentamente fertilizou um excelente substrato para o fenômeno marxista em sala de aula, que tem no nosso Patrono da Educação, Paulo Freire, sua personificação.

Resumindo e nessa ordem: currículo, livros didáticos, avaliação e formação docente – todos alinhados não aos interesses de sindicatos, fornecedores, ongueiros e palpiteiros remunerados, mas ao interesse dos indivíduos e da sociedade

Esse fenômeno consiste não preparar os alunos para a exercer autonomia intelectual, cívica, profissional e política, mas em fazer das salas de aula postos avançados de uma suposta revolução socialista. Essa estrutura organizacional está sim na pauta de esquerda e é conhecida como gestão democrática da educação: uma verdadeira estufa de contaminantes que aprofunda as chagas e enfraquece o efeito dos remédios.

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“Ganhar as eleições da cidade de São Paulo não significava inaugurar no dia seguinte o socialismo no país. Começávamos, porém, a dispor de algo de que antes não dispúnhamos: do governo da cidade.

[...]

Daí a necessidade urgente de aprender a lidar com os instrumentos de poder de que dispúnhamos, pondo-os tão sábia e eficazmente a serviço de nosso sonho político quanto possível.”

(FREIRE, Paulo. Política e Educação (2001) – texto original “ESCOLA PÚBLICA E EDUCAÇÃO POPULAR”, de 1992 – Paulo Freire foi Secretário de Educação do Município de São Paulo na gestão da prefeita Luiza Erundina.

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