Instituto Jaime Lerner

Ônibus elétricos oferecem nova chance de se repensar a mobilidade

08/12/2023 11:15
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A necessidade de redução das emissões de poluentes, em busca de conter os problemas causados pelo aquecimento global, chegou de maneira mais visível às cidades por meio da troca da matriz energética no setor de transportes, em especial de ônibus à combustão para elétricos. Há um movimento conjunto da indústria, das empresas de transporte coletivo, da classe política e da sociedade como um todo na direção desse propósito. No entanto, é fundamental ter clareza de que essa mudança não vai, por si só, resolver os gargalos de mobilidade urbana. Ela deve servir de impulso para se repensar o planejamento das cidades, com um foco primordial: colocar o passageiro no centro das decisões.
É um momento chave na história que não pode passar batido, sob o risco de se perder uma chance única de melhoria dos deslocamentos das pessoas. Por isso, é tão preocupante ter conhecimento de que algumas cidades estão comprando ônibus elétricos – que custam três vezes mais do que um similar à combustão – sem um estudo aprofundado de operação desses veículos e negligenciando o planejamento urbano.
O resultado é que, de um lado, o ônibus elétrico não possui um desempenho satisfatório, devido à falta de treinamento e infraestrutura adequada, e, de outro, a população não tem qualquer incentivo para usar o transporte coletivo, pois ficam pelo caminho as soluções inovadoras e as políticas públicas de prioridade a esse modal. A meu ver, não haverá a tão necessária migração do transporte individual para o coletivo só pelo fato de os novos ônibus poluírem menos e serem mais silenciosos.
É preciso mais. E talvez Curitiba, referência em mobilidade urbana, possa dar algumas respostas. A cidade abriu um chamamento para que a indústria teste os ônibus elétricos, com o objetivo de avaliar se os modelos estão aptos a operar no sistema. As empresas de transporte coletivo contrataram serviços especializados a fim de explorar todo o potencial dos novos veículos, tanto na operação quanto no carregamento de suas baterias. Projetos de melhoria e adequações das estruturas viárias estão em andamento para receber os ônibus elétricos. A ideia é oferecer menor tempo de deslocamento e mais qualidade de viagem aos passageiros, criando incentivos ao uso desse modal.
Alguns desafios, porém, ainda precisam ser superados. Há dúvidas sobre modelos sustentáveis de financiamento do novo sistema, capacidade da indústria de atender a demanda de ônibus elétricos e a reposição de peças, a real autonomia dos veículos por um longo período de operação e a sustentabilidade ambiental das baterias. Também se espera que o poder público leve adiante outras ações prometidas, como um novo plano de mobilidade que se paute pela Mobilidade como um Serviço (MaaS, na sigla em inglês), que coloca o passageiro no centro das decisões por meio de uma plataforma que integre modais e soluções de pagamento.
Este é um momento crucial na história em que a transição para ônibus elétricos oferece não apenas a chance de se reduzir emissões, mas também de se repensar fundamentalmente o ir e vir nas cidades. Investimentos na troca da matriz energética, na infraestrutura urbana e na renovação da frota são necessários e importantes. No entanto, a parte mais desafiadora dessa equação é ouvir as pessoas e colocá-las no centro das decisões.
Cabe a cada um refletir não apenas sobre a importância dessa mudança, mas também desempenhar um papel ativo em sua implementação. Somente ao unir esforços e manter o cidadão como ponto focal do planejamento é que se garante que a transição para uma mobilidade mais sustentável seja não apenas uma realidade, mas também uma experiência significativa e benéfica para todos.