

Charge do Sindicato dos Bancários ironiza largura da ciclofaixa da Marechal Floriano, em Curitiba.
A Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (CicloIguaçu) divulgou uma carta com o posicionamento da entidade sobre a implantação da ciclofaixa na Avenida Marechal Floriano, em Curitiba.
A obra, que foi anunciada em julho de 2008 pelo então prefeito Beto Richa (PSDB) e só começou a ser implantada no fim do ano passado, está suspensa após a revelação de que o projeto implantado tem sérios erros técnicos que colocam em risco a segurança dos usuários. Pelo cronograma inicial, a obra já deveria ter sido entregue em novembro de 2011.
Um dos problemas apontados é que, em alguns trechos, a área útil de rolamento tem apenas 72 centímetros de largura, descumprindo a previsão dos órgãos técnicos de trânsito.
Inicialmente, a prefeitura reconheceu o erro e informou que o trecho seria refeito de forma a garantir a largura mínima para garantir a segurança dos usuários.
A informação foi dada pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) após reportagem publicada no blog Ir e Vir de Bike. Por meio de nota, o órgão reconheceu a falha na execução do projeto, atribuindo o erro à URBS.
Vale lembrar que, anteriormente, fontes da própria URBS ouvidas pelo blog, se disseram “surpresas” com a ciclofaixa de apenas 75 centímetros e reconheceram que, “muito provavelmente houve um erro”, atribuindo essa responsabilidade ao Ippuc.
A Prefeitura de Curitiba, através da Secretaria Municipal de Trânsito (Setran) realizou um encontro com os ciclistas para colher opiniões.
Confira as fotos
O documento a seguir, escrito por Goura Nataraj, Antonio Miranda, Divo Maia e Andre Feiges expressa o posicionamento da entidade:
Posicionamentos da CicloIguaçu sobre o projeto de Ciclofaixa na Av. Mal. Floriano Peixoto
Após debates, visitações e medições da obra de implantação da primeira ciclofaixa oficial de Curitiba, localizada na Av. Mal. Floriano Peixoto, apresentamos através deste documento algumas conclusões e sugestões à Secretaria Municipal de Trânsito (SETRAN) e demais órgãos envolvidos. Guardamos certeza de que serão bem recebidas e consideradas.
1. Velocidade nas vias lentas
Verificamos que em muitos pontos da via em questão diversos veículos trafegam acima da velocidade permitida, sendo que causou-nos maior espanto verificar que dentre tais veículos muitos são do transporte coletivo, ironicamente denominados Ligeirinhos.
Revisando referências sobre planejamento cicloviário, concluímos que a velocidade adequada para vias compartilhadas entre automotores e bicicletas deve respeitar o limite de 45 km/h.
Entendemos como necessárias a adoção de medidas que vão além da redução do limite de velocidade, visando não apenas a segurança dos ciclistas, mas também resguardar o pleno funcionamento do transporte coletivo, sendo elas:
Migrar o fluxo de Ligeirinhos para que trafeguem pelas vias exclusivas (canaletas); reduzir o limite das vias lentas para 45 km/h, implementar radares e sinalização horizontal e vertical;
Realizar ações educativas na via em questão e nas vias que lhe dão acesso;
Promoção de campanhas midiáticas noticiando a nova estrutura, as mudanças decorrentes, as justificativas e funções.
Existem ainda razões especiais para intensificar a fiscalização na via, pois há trechos cuja disposição de comércios, sem locais para estacionamento próximo, ocasionam cotidianamente o estacionamento irregular, principalmente de caminhões, e trechos com pista asfáltica nova, que sem a devida fiscalização preventiva tendem a se converter num convite a transgressão do limite de velocidade.
Tal fiscalização não deve ser apenas através de radares, importando em necessidade de deslocamento de agentes de trânsito para a via periodicamente, a fim de se obter uma adesão mais expressiva às normas de trânsito gerais e locais.
2. Largura da ciclofaixa
Constatamos larguras ínfimas, como os apenas 72 cm dos trechos iniciais da ciclofaixa implantada até o momento, de modo a contrariar a recomendação do Manual de Planejamento Cicloviário, do Ministério dos Transportes, de que ciclofaixas unidirecionais devem ter, no mínimo, 100 cm (um metro) de largura interna, conforme:
4.1 PROJETO GEOMÉTRICO
4.1.1 Espaço Útil do Ciclista
(…)
A largura de 1,00m resulta da largura do guidom (0,60m), acrescida do espaço necessário ao movimento dos braços e das pernas (0,20m para cada lado). O gabarito a adotar, entretanto, por medida de segurança, será superior em 0,25m na altura e para cada lado, tendo em vista o pedalar irregular dos ciclistas.
(…)
4.1.2 Pistas e Faixas de Ciclistas
Ciclofaixas Comuns
Usualmente, define-se como sendo de 1,20m a largura mínima interna de uma ciclofaixa, devendo a ela ser acrescida a faixa de separação da corrente do tráfego motorizado. Em muitas situações, é importante criar espaço de separação através da pintura de duas faixas paralelas, preenchido com pinturas em diagonal, formando “zebrados”, acrescentando-se ainda “tachinhas” refletivas. Este espaço deve ter um mínimo de 0,40m que, somando-se à faixa separadora da via ciclável da linha do meio-fio (0,20m), eleva a largura total da ciclofaixa para 1,80m.
É necessário garantir maior largura da pista destinada à bicicleta a fim de evitar eventuais invasões do espaço de segurança do ciclista, dando efetividade não apenas às recomendações técnicas, mas também às normas de trânsito.

Ligeirinho invade trecho da ciclofaixa da Marechal colocando em risco integridade dos ciclistas: “Tenho horário para cumprir”, justifica o motorista.
Para evitar a repetição do triste episódio, relatado e fotografado pela imprensa e por membros desta associação, em que um ônibus invadiu a ciclofaixa, causando sério risco a diversos usuários de bicicleta, deve-se imprescindivelmente adotar a recomendação do referido manual, além de realizar uma ação de reciclagem com os motoristas do transporte público coletivo, garantido-lhes a devida capacitação e sensibilização.
Ainda, quanto às adaptações decorrentes da largura necessária à implantação de ciclofaixa, faz-se necessário rever a divisão das faixas destinadas ao tráfego de veículos automotores, visto que o simples redimensionamento sem supressão da faixa destinada a estacionamento, ocasiona impossibilidade de circulação segura para todos os componentes do trânsito.
Neste sentido sugerimos a redistribuição do espaço para que se crie, ao menos nos pontos de estrangulamento, uma “faixa livre” de ampla largura.
3. Sinalização Adequada

Em janeiro, Bicicletada percorreu 20 km para fazer vistoria na ciclofaixa da Marechal Floriano.
Tratamento especial deverá ser dedicado às interseções e cruzamentos evitando assim situações de risco desnecessárias. É preciso esclarecer a todos os componentes do trânsito aspectos referentes a implementação da nova estrutura (ciclofaixa) através de sinalização vertical e horizontal e ações educativas, que devem ter variações dedicadas a cada componente (ciclistas, motoristas e pedestres).
A simples novidade demanda maior cuidado em sua implementação, devendo a título educativo, desempenhar um papel fundamental na transformação da própria concepção de trânsito da cidade, levando ao conhecimento geral a inclusão e reconhecimento da bicicleta como modal de transporte.
Entendemos ainda que é necessário sinalizar o sentido exclusivo de circulação da ciclofaixa, mesmo durante a implantação da obra, pois a mesma já vem sendo utilizada por ciclistas em ambos os sentidos por desconhecimento e ausência de indicação. Além deste fato, importa desde já destacar a necessidade de iluminação apropriada à circulação de bicicletas ao longo de todo o trajeto.
4. Impactos locais
Deve ser estabelecida uma agenda de minimização de impactos locais. Prevemos certa resistência do comércio local, devido a possibilidade de supressão de faixa destinada ao estacionamento.
Para reduzir o sentimento de resistência é preciso dedicar-lhes comunicação e atenção, explicando que a implementação da nova estrutura trará benefícios à cidade e à região, sugerindo-lhes ainda que para obterem vantagens locais busquem a implantação de estruturas dedicadas aos ciclistas, como a instalação de paraciclos e bicicletários.



