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Jocelaine Santos

Jocelaine Santos

Liberdade de expressão é condição necessária para a democracia

Fins e meios

Você estaria disposto a fazer qualquer coisa para salvar o país (ou o mundo)?

Flores e velas são colocadas em frente a uma foto do ativista político americano assassinado Charlie Kirk durante uma vigília em reação ao seu assassinato, em Berlim, Alemanha, em 13 de setembro de 2025. (Foto: Filip Singer/EFE/EPA)

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Imagine que você tem certeza de que sua nação está em perigo – algo sombrio ameaça a democracia, os valores, a liberdade. Há um risco real avançando sobre a pátria, sobre você, sua família, sua comunidade. Estaria mesmo disposto a fazer qualquer coisa para salvá-la? Não se apresse em responder.

É evidente que estamos em perigo – e isso não vale apenas para as terras brasileiras. Democracias estão ruindo, tiranias avançando, guerras recrudescendo, liberdades sendo tolhidas a cada dia. Qualquer um com um mínimo de sensibilidade (e inteligência) percebe que há algo errado – e que pode piorar se nada for feito.

Enquanto a política do ódio e do ressentimento avança a ponto de pessoas acharem justificável (e até motivo de júbilo) a morte de alguém por professar ideias diferentes das suas, nunca foi tão necessário compreender que os fins jamais justificam os meios

Justamente nesse ponto – quando sentimos o perigo pairando sobre nós – surge a urgência de agir. Porque, se nada fizermos, estaremos compactuando, sendo cúmplices do mal. Se temos plena consciência da ameaça (e há quem não a tenha), cruzar os braços e simplesmente assistir ao avanço da maldade, do arbítrio, da injustiça não pode ser uma opção. Caso contrário, nós mesmos nos tornaremos parte do mal que desprezamos.

Na maioria das vezes, não é fácil reagir. Muito do que vemos se espalhando nasce em instâncias que parecem distantes de nós, nas altas cortes, nos poderes políticos que governam sobre nossas cabeças. É nos castelos das instituições que os arbítrios prosperam e lançam suas sombras – mesmo nas democracias, nossa voz mal chega até os poderosos encastelados e, quando chega, quase sempre é ignorada. Ainda assim, insistimos, resistimos, não nos rendemos. Continuamos a denunciar, a mostrar que não compactuamos com o arbítrio. E é bom que sigamos fazendo isso.

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Mas e se fosse possível ir além? Quantas vezes não desejamos ter o poder de fazer muito mais – de agir de forma imediata, contundente? Fazer algo que, num instante, desse fim aos problemas e ameaças que brotam por todos os lados. Se fosse assim, se você tivesse esse poder, estaria disposto a fazer qualquer coisa para restaurar a democracia, as liberdades, o Estado de Direito? Até onde iria para transformar os valores em que acredita – e dos quais tem certeza absoluta que são bons e justos – nas balizas que guiam a humanidade?

Muitos que acreditam ser possível “fazer qualquer coisa” em prol de um ideal – e não importa qual seja esse ideal, que fique claro – são os mesmos que juram defender a democracia enquanto renegam o Estado de Direito; pregam a liberdade de expressão enquanto calam vozes dissonantes; exaltam a vida enquanto matam inocentes; defendem a soberania enquanto invadem territórios alheios; protestam contra o fascismo enquanto querem o extermínio dos adversários.

A ânsia por combater o mal – ou aquilo que julgamos ser o mal – pode ser tão perniciosa quanto o próprio mal. Hoje, enquanto a política do ódio e do ressentimento avança a ponto de pessoas acharem justificável (e até motivo de júbilo) a morte de alguém por professar ideias diferentes das suas, como aconteceu com o ativista Charlie Kirk, cuja morte foi horrendamente celebrada mundo afora, nunca foi tão necessário compreender que os fins jamais justificam os meios. Há limites que não podem ser ultrapassados – não importa o fim que se pretenda alcançar.

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