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Jocelaine Santos

Jocelaine Santos

Liberdade de expressão é condição necessária para a democracia

Luto

Inestimável Guzzo, vá em paz

Foi uma imensa honra ser sua editora. Para você, meu mestre e amigo J.R. Guzzo, um último emoji de coração, azul. (Foto: Arquivo Pessoal)

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Hoje, o dia é triste porque perdemos um mestre. Recebi sua última mensagem na sexta-feira (1). Era sua coluna de sábado – como sempre, um texto lúcido, mordaz, inteligente, sem floreios desnecessários ou malabarismos intelectuais. Fosse qual fosse o tema, era assim com Guzzo: falava diretamente com seus leitores, com simplicidade, sem se colocar acima deles, como um amigo com quem se conversa ao fim da tarde. Sem esconder as desgraças, tão abundantes “no Brasil das realidades”, como ele dizia, Guzzo falava com todo brasileiro, especialmente com aqueles que se sentem sem voz.

Fui sua editora nos últimos anos aqui na Gazeta do Povo e, com ele, troquei centenas de mensagens. Envios de texto, pedidos de correção, lembranças sobre alguma coluna esquecida. Todas as mensagens iam e vinham acompanhadas de emojis, figurinhas carinhosas que complementavam as palavras do mestre Guzzo. Em especial, ele sempre gostava de enviar um coraçãozinho azul – sim, azul. Nada do vermelho, cor cujo significado foi manchado pelo esquerdismo e pelo “consórcio Lula-STF”, mas azul, cor singela da tranquilidade, da serenidade, da harmonia, a mesma que Guzzo, certamente, queria ver de volta ao Brasil.

Com Guzzo aprendi ensinamentos que jamais poderei esquecer, como a coragem de falar aquilo que deve ser dito. Guzzo jamais se calou, jamais deixou de tocar nos espinhosos assuntos que bem poderiam ter lhe rendido a inclusão em algum inquérito tenebroso ou na lista dos perseguidos pelos poderes supremos do país. Enquanto vemos, todos os dias, mais e mais comunicadores se curvando ao triste papel de serviçais dos poderes, Guzzo foi sempre um verdadeiro Jornalista.

Isso era evidente no amor pelo que fazia. Guzzo escrevia não só para a Gazeta do Povo, mas para tantos outros veículos, e também estava à frente da Revista Oeste, sua criação. Cada texto era cuidado com carinho – e, se o mestre, depois de enviar o texto, percebia algum erro, uma vírgula fora do lugar ou uma letra trocada, tratava logo de avisar e pedir a correção. Para não deixar de publicar, quando, tempos atrás, ficou hospitalizado, chegou a escrever do hospital. A escrita era sua vida.

Foi trabalhando com ele que nasceu a ideia de criar uma coluna aqui na Gazeta. Seus textos, seu estilo, ao mesmo tempo tão profundos e capazes de falar com todas as pessoas, com o povo, sempre foram meu ideal – quiçá um dia eu possa me aproximar de sua qualidade. Guzzo não falava para intelectuais nem para poderosos; falava diretamente comigo, com você, com todos nós.

Guzzo foi um grande mestre, que deixa um legado que jamais deverá ser esquecido, principalmente agora. Seus textos são um retrato do “Brasil de hoje”, que esperamos um dia ver superado. Guzzo denunciou as mazelas deste país com rigor, seriedade, mas também bom humor – aquele humor um tanto amargo que temos de ter para continuar lutando todos os dias.

Inestimável Guzzo, vá em paz. O Brasil sentirá sua falta. Foi uma imensa honra ser sua editora. Para você, meu mestre e amigo, um último emoji de coração, azul.

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