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Velhas e novas lições da esquerda sobre o jornalismo
| Foto: Unsplash

É curioso perceber a diferença entre a teoria e a prática, entre o discurso e a ação. Falar sobre virtudes é bem diferente de ser virtuoso; defender ideais elevados não significa necessariamente (infelizmente) que se viva tais ideais na prática. Claro, pode ser que haja um verdadeiro desejo de agir da forma como se diz. Nesse caso, há pelo menos a intenção de se agir bem. Já é um começo. Muito pior é quando quem faz o discurso nunca teve a real intenção de buscar a realização daquilo que prega.

Mais ou menos isso é o que ocorre com a esquerda brasileiras em relação ao jornalismo e a liberdade de imprensa e pensamento. Mas é bom que se diga que isso não ocorre apenas com a esquerda: temos várias instituições e políticos de diversos matizes ideológicos que estão exatamente na mesma situação: defendem aos quatro ventos a liberdade de imprensa, expressão, pensamento e agem de todas as maneiras possíveis para censurar e impor sanções a quem diz aquilo de que não gostam.

Falar sobre virtudes é bem diferente de ser virtuoso; defender ideais elevados não significa necessariamente (infelizmente) que se viva tais ideais na prática.

Anos atrás, por exemplo, uma das lições mais repetida pelos professores com mais afinidade com a esquerda dentro das faculdades de comunicação era a de que o jornalismo dos grandes veículos só atendia aos interesses do capitalismo. Eram sempre “chapa-branca”, como se dizia na época, quando um veículo sempre estava do lado do governo, funcionando como uma grande assessoria de imprensa, publicando apenas elogios e matérias para promoção e blindagem do governo de plantão. A população, coitada, nunca tinha acesso ao que de fato acontecia dentro dos governos porque a “grande mídia” não deixava.

“Um absurdo”, repetiam os professores de esquerda. “Jornalismo não pode ser assim. Precisa ser livre, democrático, popular”, insistiam.  Falavam também do clima de terror dentro das redações, onde os jornalistas assalariados não podiam escrever uma vírgula sequer que contrariasse os interesses dos “donos” da mídia. Bom mesmo eram os jornais de sindicatos, movimentos sociais e afins, que, “bravamente”, resistiam à lógica capitalista, e só assim conseguiam tornar realidade o propósito de informar bem e “dar voz à população”. Lá, os jornalistas eram livres, podiam mostrar a realidade.

Outra crítica comum dos professores de esquerda era a chamada concentração dos meios. Poucas pessoas tinham o “poder” de publicar e veicular conteúdos nos meios de comunicação. A população não tinha como expressar suas posições e pensamentos, eram continuamente calados pelo sistema. Por isso todas as formas de comunicação alternativa eram enaltecidas, rádios e tvs comunitárias, e a internet despontava como um alento: com as redes sociais, finalmente, o povo teria voz, poderia ter acesso a meio de contrapor os grandes veículos de comunicação. Sociedade em Rede, de Manuel Castells, era leitura obrigatória.

Seria interessante ver, hoje, se esses professores ainda defendem as mesmas ideias. Será que conseguiriam chamar de imprensa chapa-branca os jornais de sindicados, movimentos sociais e partidos que só sabem tecer elogios aos disparates de Lula e sua equipe? Teriam coragem de apontar a perseguição cada vez mais desenfreada aos jornalistas e colunistas de veículos que ainda resistem e insistem em tentar exercer a liberdade de imprensa sem se curvar aos ditames dos poderosos de plantão? Defenderiam a liberdade de expressão e o direto de voz da população nas redes sociais? Teriam a capacidade de elogiar os grandes veículos e suas reportagens que mostram a podridão embrenhada nas esferas do poder? Duvido muito.

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