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José Fucs

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Eleições

“Onda conservadora” na América do Sul renova expectativas de vitória da direita no Brasil em 2026

O presidente eleito do Chile, José Antonio Kast (Foto: EFE/Elvis González)

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Com a eleição do candidato da direita, José Antonio Kast, no Chile, no domingo, a América do Sul deu mais um passo importante para varrer a esquerda do poder na região. Sua vitória também renovou as expectativas de que o Brasil possa seguir o mesmo caminho nas eleições de 2026, defenestrando nas urnas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a “turma do amor” que o apoia.

Agora, com a ascensão de Kast, serão seis os países governados pela direita na América do Sul – Chile, Argentina, Paraguai, Bolívia, Equador e Peru. Do lado da esquerda, além do Brasil de Lula, principal trincheira do grupo no momento, restaram apenas o Uruguai, a Colômbia do “companheiro” Gustavo Petro, a Venezuela do ditador Nicolás Maduro, o Suriname e as Guianas. E em breve, se tudo der certo, a queda de Maduro – talvez acompanhada pelas derrotas de Lula e do PT no Brasil e do candidato de Petro e da esquerda na Colômbia, no ano que vem – deverá dar novo impulso à guinada direitista sul-americana.

Passados 25 anos da chamada “maré rosa” – uma expressão criada pela própria esquerda para “romantizar” a ascensão em série de seus líderes na região no início dos anos 2000 – parece ter chegado, enfim, a vez de uma “onda conservadora” inundar a América do Sul. Depois de décadas de governos esquerdistas, que condenaram os países sul-americanos ao atraso e à miséria com suas bandeiras emboloradas, a virada à direita dá um sinal relevante de que a região pode estar finalmente forjando um futuro mais promissor para sua população.

É certo que há diferenças consideráveis entre os novos mandatários da direita sul-americana, mas o mais importante são suas semelhanças. Em vez de “demonizar” o capitalismo e a produção de riqueza, de pregar um estatismo soviético, de gastar como se não houvesse amanhã, de taxar até a medula a  iniciativa privada e de “passar pano” para bandido, eles abraçam, em maior ou menor grau, a economia de mercado e valorizam os empreendedores e o sucesso dos indivíduos como caminho mais curto para o desenvolvimento.

A onda da direita na América do Sul (e no mundo) mostra que o zeitgeist (espírito do tempo) joga a favor da oposição. Pode ser que, no fim, o Brasil continue a ser a exceção que confirma a regra na região. O tempo dirá

Também se mostram empenhados, de forma geral, em manter as contas públicas em ordem, conter a sanha tributária, combater a criminalidade com rigor e garantir o mínimo de segurança para que os cidadãos não precisem viver com medo, atrás de grades. Não é pouca coisa. Certamente, uns terão mais sucesso do que outros em seus governos. Faz parte do jogo. Pelo menos, eles estão do lado certo da história, buscando recuperar o tempo perdido.

Suas eleições mostram que a maioria da população está farta das promessas vazias da esquerda, dos privilégios da ‘casta’ de que tanto fala o presidente argentino, Javier Milei, dos voos de galinha na economia, da insegurança pública e do identitarismo que abafa a meritocracia e privilegia grupos da sociedade conforme a raça, o gênero e a orientação sexual.

A grande questão hoje, aqui no Brasil, é se queremos nos juntar a eles e abrir novas perspectivas para o país e para os brasileiros ou se vamos seguir pelo desgoverno que a esquerda nos impõe, em nome de uma suposta redução da desigualdade e de uma suposta defesa da democracia, que se revelou um atalho sem volta para o arbítrio. É disso que se trata.

Bancar o “isentão” nesse contexto, em nome de purismos ideológicos e de teorias conspiratórias, é favorecer a perpetuação de tudo isso que está aí, independentemente de quem seja o candidato que dispute um eventual 2º turno contra Lula. Nesta altura do campeonato, parece mais urgente promover a “troca da guarda”, para voltar a ter esperança no Brasil, do que ficar esperando aparecer o candidato dos sonhos para apoiar. É difícil, quase impossível, imaginar que não haja um representante da oposição no 2º turno que possa fazer melhor, mesmo que não seja o candidato ideal ou o preferido de cada um.

Lula e seus aliados acreditam que, com a concessão de benesses em escala industrial para o povão, como a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil por mês, o Vale Gás e o Vale Luz, e com promessas como “tarifa zero” para o próximo mandato, a eleição está no papo. Muita gente que não é petista nem do PSOL e nem do PCdoB, também. Na verdade, no entanto, não é bem assim.

Como no futebol ou em qualquer outro esporte, não há vitória de véspera. Ninguém ganha jogo no grito também. Se fosse assim, nem precisaria haver disputa nas quadras, nos gramados ou nas urnas. Seria só proclamar o vencedor por antecipação e o problema estaria resolvido.

Mesmo com todas as benesses concedidas por Lula, com os gastos monumentais do governo em propaganda e com o uso das redes oficiais e dos pronunciamentos gratuitos no rádio e na TV para fazer campanha antecipada, a desaprovação do governo continua acima de sua aprovação em várias pesquisas.

Além disso, a questão da segurança, que a esquerda e o PT nunca levaram nem levam a sério, já ultrapassou a economia entre as prioridades da população, segundo as sondagens mais recentes. Há perspectivas concretas, portanto, de a oposição vencer o pleito, ainda que as narrativas predominantes por aí, propagadas pelos “porta-vozes” do governo na mídia, digam o contrário.

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Convém lembrar também de que, em 2022, pelo menos de 10% a 15% dos votos recebidos por Lula não foram de petistas nem de simpatizantes do partido. E que grande parte do pessoal que acreditou que, desta vez, seria diferente, desencantou-se de vez com Lula no atual mandato e dificilmente votará nele novamente.

Ao mesmo tempo, parece improvável que ele tenha conquistado muitos votos entre os que não votaram nele na última eleição. Se este raciocínio está correto, isso significa, em tese, que Lula deverá receber algo entre 40% e 45% dos votos válidos no 2º turno, apesar de as pesquisas apontarem um teto mais alto para ele.

É preciso levar em conta também que, muitas vezes, o maior aliado da direita nas eleições são governos – ou desgovernos – de esquerda, como mostrou a vitória de Kast no Chile, após a gestão desastrada do esquerdista Gabriel Boric. Ou a vitória de Milei na Argentina em dezembro de 2023, em meio à hiperinflação e à explosão da pobreza registradas no governo do peronista Alberto Fernández. Ou a eleição de Rodrigo Paz, na Bolívia, encerrando quase vinte anos de “socialismo do século 21” no país.

No Brasil, Lula está em seu terceiro mandato e ainda conseguiu eleger sua pupila Dilma Rousseff para outros dois, rompendo essa escrita. Agora, eram outros tempos, quando o boom das commodities facilitava tudo, e um contingente considerável da população ainda acreditava nas suas lorotas. Não mais.

Hoje, além de já estar com 80 anos, Lula vive uma espécie de “fadiga de material”, provocada por sua interminável trajetória política e suas ideias envelhecidas, de resultados duvidosos. E, no atual mandato, parece haver uma saturação de boa parte dos eleitores com tudo o que diz respeito a seu governo, a ele mesmo e ao PT, num cenário semelhante ao que levou às vitórias de Kast, no Chile, Milei, na Argentina, e Paz, na Bolívia.

É claro que é preciso considerar a possibilidade de o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) repetir a gestão enviesada das eleições implementada em 2022, deixando a esquerda “nadar de braçada” e perseguindo e censurando a direita. Inclusive no horário gratuito de rádio e TV, em questões reconhecidamente verídicas, como a proximidade de Lula e do PT com Cuba e com os ditadores Maduro e Daniel Ortega, da Nicarágua.

Se isso acontecer novamente, será a “pá de cal” do regime de exceção que se instaurou no país na democracia brasileira. Aí, realmente, fica difícil haver alternância de poder, com uma vitória da direita nas eleições, e só uma mudança significativa de cenário vai recolar as coisas nos trilhos.

Nas fileiras da oposição, de qualquer forma, muita água ainda vai rolar antes de o quadro eleitoral ficar mais claro. Com a definição de que o candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro será seu filho Flávio, o 01, do PL, as cartas apenas começaram a ser postas à mesa. Embora ainda seja difícil dizer hoje se a candidatura dele é para valer mesmo ou se é só um balão de ensaio, seu anúncio já é um passo fundamental para colocar o barco em movimento.

Muitos políticos e analistas de plantão se apressaram em dizer que, com Flávio, a direita vai naufragar. Lula e seus apoiadores estouraram rojões, segundo o noticiário. Já vi por aí, porém, algumas pesquisas mostrando que a candidatura de Flávio é mais competitiva do que parecia à primeira vista, colocando-o ligeiramente à frente de Lula num eventual 2º turno, em empate técnico com o petista – e isso apenas algumas semanas depois de ele colocar o bloco na rua.

No campo da direita e da centro-direita, ainda há dúvidas também se o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, do PP, vai participar do pleito, seja no lugar de Flávio ou como uma alternativa a ele. O mesmo se pode dizer em relação ao governador do Paraná, Ratinho Jr., do PSD. Mas já há dois nomes praticamente confirmados na disputa: os governadores de Minas, Romeu Zema, do Novo, e de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil. São todos candidatos que, de um jeito ou de outro, tem condições de honrar a camisa da direita (ou da centro-direita) e dar um caldo em Lula num eventual 2º turno, com o apoio dos demais.

Hoje, há muitas pessoas preocupadas com a possibilidade de haver vários candidatos da direita disputando o 1º turno das eleições. Não faço parte desse grupo. Sou daqueles que acham que, quanto mais candidatos da direita houver, melhor. Não só para ver quem terá o discurso mais popular e quem será o mais votado do bloco, mas também para multiplicar as flechadas em Lula e pulverizar os ataques do presidente em vários adversários. Aí, aquele que conseguir se sobressair no 1º turno, vai para o corpo a corpo com o petista no 2º, com o apoio dos demais. É nessa hora que a união fará a diferença.

A onda da direita na América do Sul (e no mundo) mostra que o zeitgeist (espírito do tempo) joga a favor da oposição. Pode ser que, no fim, o Brasil continue a ser a exceção que confirma a regra na região. O tempo dirá. Mas a vitória de Kast no Chile e a “onda conservadora” sul-americana renovaram as expectativas de muitos brasileiros de que o país dê uma guinada para a direita e deixe Lula, o PT e seus aliados para trás.

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