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José Pio Martins

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Comportamento

As empresas e o campo psicológico

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Ambiente da empresa influencia trabalhadores, que podem ser mais esforçados ou desleixados. (Foto: louisehoffmann83/Pixabay)

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Começo propondo uma reflexão. Se um trabalhador de qualificação média e bom nível ético for contratado por uma empresa séria, competente, organizada e honesta, o trabalhador contratado cresce em competência técnica e padrão ético.

Inversamente, se esse mesmo trabalhador for contratado por uma empresa ineficiente, desorganizada, corrupta e desonesta, ele decresce, sua competência profissional diminui e seu comportamento ético piora.

A lógica inerente a esse fenômeno se aplica a todo grupo humano que opera atividades pessoais ou profissionais em instituição ou organização de qualquer natureza, no setor privado ou no governo.

Por ter começado a trabalhar dentro de uma organização empresarial muito cedo, aprendi que hábitos e condutas das pessoas dentro da organização sofrem forte interferência das características do ambiente de trabalho.

Hábitos e condutas das pessoas dentro da organização sofrem forte interferência das características do ambiente de trabalho

Quem percebeu e estudou a interação entre as pessoas e o ambiente, e a influência exercida sobre a ética e a conduta humana, foi o psicólogo alemão Kurt Lewin (1890-1947), considerado um dos pais da psicologia social.

Após suas pesquisas e a sistematização dos resultados, esse assunto passou a ser chamado de “teoria do campo psicológico”, tendo por base a tese de que o comportamento humano não pode ser analisado isoladamente, mas sim dentro do contexto dinâmico em que ocorre.

O ser humano não é um ser isolado. Pelo contrário, ele é parte de um campo em que a pessoa e o ambiente existem em estado de influência mútua constante. Isso vale inclusive para as pesquisas científicas no ponto em que o resultado encontrado é afetado pelas crenças e características do pesquisador.  

Lewin, na teoria do campo, dedicou-se a entender como as crenças pessoais, as relações interpessoais e as condições do ambiente afetam o indivíduo em seu comportamento e sua ética, cujos efeitos se refletem em suas decisões e ações.

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Kurt Lewin nasceu na Prússia (em local onde é hoje a Polônia), estudou Medicina e Biologia na Alemanha, mas sua paixão passou a ser a psicologia e a filosofia. Após ter lutado na Primeira Guerra Mundial, ingressou no Instituto Psicológico de Berlim e ali ficou até emigrar para os Estados Unidos em face da ascensão nazista.

Dada sua experiência de vida envolvendo guerras, o socialismo e o nazismo, Lewin passou a cultivar a ideia de que a psicologia pode ajudar a humanidade a construir um mundo melhor, menos violento e com menos desigualdades.

A partir dessa ideia, o psicólogo redirecionou seus estudos sobre o comportamento humano e constatou que as teorias psicológicas conhecidas não levavam em conta que as condutas são o resultado da interação entre as pessoas e o ambiente.

Por ser um dos primeiros psicólogos a estudar as organizações, Lewin criou as bases iniciais da relação entre os padrões de comportamento e as influências decorrentes das interações entre o homem e o meio de sua atuação – o campo psicológico, como ele denominou.

O ser humano não é um ser isolado. Pelo contrário, ele é parte de um campo em que a pessoa e o ambiente existem em estado de influência mútua constante

Essa teoria explica também como os indivíduos sintetizam de forma diferente as vivências com o meio ao longo de suas vidas. Cada ser humano tem uma dinâmica interna própria; por isso, interpreta e percebe as coisas, as pessoas e as situações de forma própria e particular.

Sobre a teoria do campo psicológico, há fartos exemplos em que a tese de Lewin está presente. É o caso do comportamento das pessoas nos atos da vida particular e na gestão de empresas quando o governo renega contratos e dá calote em dívidas.

A história está repleta de casos em que o governo renegou dívidas, declarou moratória internacional e não cumpriu contratos, colhendo como consequência colateral uma onda de inadimplência e atrasos nos pagamentos de dívidas de pessoas e empresas.

Quando age, o governo educa para o bem ou para o mal, e toda ação do governo tem efeito pedagógico

Em 1987, o ministro da Fazenda Dilson Funaro declarou moratória da dívida externa brasileira e parou de pagar as prestações. Essa prática levou pessoas e empresas a terem o mesmo comportamento, na linha do “se o governo pode, eu também posso”.

Quando age, o governo educa para o bem ou para o mal, e toda ação do governo tem efeito pedagógico. É o efeito do campo psicológico nacional influindo no comportamento da sociedade.

Por fim, é importante lembrar que a teoria do campo psicológico está presente em nossa vida familiar e que nossos valores, nossas ações e nosso jeito de agir interferem nos valores e no jeito de ser de nossos parceiros e nossos filhos. Eis aí um bom tema para examinar.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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