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José Pio Martins

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Economia

O mistério do desenvolvimento

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Seul, capital da Coreia do Sul: país deu um enorme salto de desenvolvimento nas últimas décadas, mesmo sem recursos naturais. (Foto: Huong Nguyen/Pixabay )

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Alguns países conseguiram eliminar a miséria, reduzir a pobreza e atingir elevada renda por habitante, enquanto outros (a maioria) continuam chafurdando em graves carências sociais, muita pobreza e baixa renda por habitante.

Por que alguns ficam ricos e desenvolvidos, enquanto outros seguem pobres e atrasados? Esse é um dos grandes mistérios econômicos na história das nações. Desvendar suas causas não tem sido fácil, embora algumas delas sejam conhecidas.

Sem ter a riqueza e o bom padrão de vida ostentado pelos países desenvolvidos, governos e povos latino-americanos purgam seu complexo de inferioridade louvando as riquezas naturais que, em nosso continente, são abundantes.

Abundância de recursos naturais, entretanto, não garante desenvolvimento e bom padrão de vida e eliminação da miséria. Pelo contrário, quase todos os países latino-americanos ricos em recursos naturais se mantêm na miséria, com multidões em graves carências sociais.

O crescimento econômico pressiona por democratização política, mas a abertura política nem sempre pressiona por abertura econômica

Se a posse de recursos naturais abundantes fosse suficiente para levar uma nação ao clube dos desenvolvidos, o Brasil e a República Democrática do Congo (o antigo Zaire) seriam ricos, enquanto Japão e Coreia do Sul viveriam na mendicância. No entanto, o inverso ocorre; e há causas para isso.

O economista Roberto Campos (1917-2001) dizia que “mais importantes do que as riquezas naturais são as riquezas artificiais da educação e da tecnologia”. Ele queria lembrar que a educação gera o conhecimento, a tecnologia revoluciona os processos produtivos, e o desenvolvimento acontece.

Vale destacar que a educação e a tecnologia sozinhas não substituem a ausência de certos ingredientes fundamentais, como o direito de propriedade privada, mercado concorrencial e instituições que garantam estabilidade de moeda e justiça eficaz.

Outra discussão oportuna trata da relação entre regime político e crescimento econômico. A história apresenta exemplos de países que cresceram sob regimes autoritários e nações que estagnaram sob regimes livres. Em geral, os países que cresceram quando sob ditaduras foram os que mantiveram o direito de propriedade e a liberdade econômica.

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O Brasil teve crescimento expressivo sob o governo autoritário do presidente Médici, de 1968 a 1973. Taiwan, Coreia do Sul e Chile cresceram em períodos de regimes ditatoriais. Nesses países, a expansão econômica gerou fortes pressões pela democratização política.

Inversamente, há casos de baixo desempenho econômico em regimes democráticos. O economista Robert Barro (1944-), famoso professor e escritor norte-americano, diz que, em muitos países pobres, a liberdade democrática pressionou por gastos sociais à custa de menos gastos com investimentos.

Então, pode haver crescimento econômico em regimes políticos abertos ou fechados, como pode haver estagnação em quaisquer desses mesmos regimes. Como dito, o crescimento econômico pressiona por democratização política, mas a abertura política nem sempre pressiona por abertura econômica.

Outro aspecto são as evidências de que tendem a crescer mais rapidamente os países que conseguem baixa inflação, impostos moderados, participação modesta do governo no PIB, boa educação básica, abertura internacional e expansão de importações e exportações.

A economia brasileira está muito mais para coletivista e estatal do que para liberal

É geralmente aceito que a segurança jurídica da propriedade privada e a proteção dos contratos juridicamente válidos são dois dos mais fundamentais incentivos ao empreendedorismo e ao desenvolvimento. 

O historiador econômico inglês Robert Skidelsky listou cinco realidades que prejudicam a liberdade econômica e dificultam o desenvolvimento, além de serem medidas de intromissão estatal no funcionamento da vida econômica e social cujo efeito é inibir investimentos e negócios.

Essas cinco realidades são: 1. elevado gasto do governo como fração do PIB, que na América Latina chega a ser superior a 40% do PIB; 2. elevada fração do PIB produzida pelo governo, suas empresas e seus monopólios estatais; 3. interferência do Estado no mercado de bens e serviços, capital e trabalho; 4. elevada carga tributária; e 5. excessiva quantidade de leis e regulamentos, caracterizando o país como a “ditadura da burocracia”.

A julgar por tudo isso, a economia brasileira está muito mais para coletivista e estatal do que para liberal. De qualquer forma, tudo o que foi dito ainda não responde adequadamente à questão inicial sobre o que leva alguns países a enriquecerem e outros não. As perguntas continuam.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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