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Imagem ilustrativa.| Foto: Tung Lam/Pixabay

Nós, seres humanos, somos animais complexos. Aquilo que nos eleva acima dos animais irracionais – a linguagem, a inteligência, a consciência, a razão, o discernimento, a religião e a moral – é justamente o que nos faz um feixe de emoções, sentimentos, virtudes e vícios, com capacidade de distinguir o verdadeiro do falso, o certo do errado, o bem do mal, o justo do injusto, o belo do feio.

Por sua complexidade, o ser humano é o que nasce menos pronto de todos os animais. Ortega y Gasset disse: “A vida nos é dada, mas não nos é dada pronta”. A arte de completar sua personalidade segue um processo. Ao sair do ventre materno e aprender os primeiros movimentos e sensações, milhares de circunstâncias entram em ação. Com o desenvolvimento físico, as sensações, ações e reações vão se moldando, e nossa personalidade, única e irrepetível, vai se formando.

Todos nascemos com potencial intelectual e com talentos diferentes. Porém, ninguém nasce com todas as aptidões para enfrentar os desafios da vida e para a tomada de decisões. A rigor, nós construímos nossas capacidades e aptidões a partir do choque com a realidade e da maneira como evoluímos pela educação, estudo, trabalho e pela ação diária.

Por sua complexidade, o ser humano é o que nasce menos pronto de todos os animais. A arte de completar sua personalidade segue um processo

Em meio a dúvidas e incertezas, podemos afirmar que crescemos com várias fragilidades, as quais se manifestam diariamente em nossa luta pela sobrevivência, no trabalho, nas relações familiares, nas relações sociais e na relação com nossas próprias emoções.

Destaco aqui um ponto: se todos temos fragilidades várias, surge o desafio de evitar que tais fragilidades dificultem nossa tomada de decisões e a prática dos atos da vida com o melhor resultado possível. Neste curto espaço, sugiro refletirmos sobre o seguinte: a melhor arma contra nossas fragilidades é decidir e agir com base em princípios.

Princípios são verdades fundamentais, os quais dão base às nossas decisões e atos, sobretudo nas decisões difíceis e cruciais em que as circunstâncias são adversas e o quadro geral se apresenta complexo e perigoso.

Pego o exemplo de um profissional de empresa – seja gerente, diretor ou técnico – cuja personalidade apresenta timidez, medo e insegurança diante de conflitos, opiniões diferentes e decisões dificies. Afirmo que a melhor estratégia para enfrentar as próprias fragilidades é agir com base em princípios. Cito alguns.

Princípio da verdade. Se você conhece o assunto, estudou os aspectos do problema em discussão e consegue mostrar argumentos com base na ciência e na técnica, então emita sua opinião e seu parecer, mesmo que sejam diferentes dos apresentados por seu chefe ou alguém superior. Verdade é uma declaração afirmativa ou negativa que corresponda à realidade. Verdade não é chute, não é achismo.

Princípio da moralidade. Diante de uma decisão difícil a cargo de um grupo de pessoas, concentre-se apenas nas opções que sejam morais, comece por descartar toda hipótese que seja imoral, e defenda esse princípio.

Aristóteles nos ensinou que a busca da felicidade requer abraçar três amores: amor à verdade, amor à liberdade, e amor à humanidade

Princípio da legalidade. Assim como o princípio da moralidade, descarte as opções ilegais. Mas lembre que nem tudo que é legal é moral; nem tudo que é permitido é decente. Há atos e comportamentos que a lei me autoriza, mas que eu me vedo. A lei não me proíbe odiar, ser avarento, mentiroso, desleal, grosseiro ou opinar sobre o que não conheço, mas não devo me permitir tais vícios.

Princípio da coerência.  Quando adota uma vida baseada em princípios e age com base neles, você é tido e visto como uma pessoa coerente, alguém que tem uma linha de conduta previsível com atitudes lógicas e compatíveis com seu pensamento, seu jeito de ser. Coerência é, também, conformidade entre discurso e gesto.

Princípio da impessoalidade. Quando tiver de emitir opinião diferente de quem lhe seja superior em termos hierárquicos, pense que o problema e a decisão pertinente não constituem elementos pessoais. Deixe isso claro e enuncie seus argumentos e sua opinião respeitosamente. Combata ideias, não pessoas.

O filósofo Aristóteles nos ensinou que a busca da felicidade requer abraçar três amores: amor à verdade, amor à liberdade, e amor à humanidade. Pelo primeiro (amor à verdade), o indivíduo constrói sua personalidade e seus valores lastreados na verdade extraída da realidade e das teorias provadas. Pelo segundo (amor à liberdade), a pessoa incorpora profundo respeito pelo direito do outro de ser diferente, pensar diferente e ter opinião diferente, sem invadir o espaço do outro nem tentar impor seus caprichos sobre seus semelhantes. Pelo terceiro (amor à humanidade), o indivíduo age não apenas em função da lei, mas também em função de virtudes que a lei não obriga, como respeito, consideração, compaixão, paciência e solidariedade.

No fundo, a proposta de Aristóteles nada mais é que um conjunto de princípios. Essa conversa começou com a ideia de que todos temos fragilidades, pontos fracos, inseguranças e medos, mas que apesar disso temos de agir, enfrentar desafios, decidir e seguir em frente assumindo as consequências de nossos atos. Isso nos torna fortes.

Para encerrar, certo dia um aluno me perguntou como ele poderia conquistar a segurança. Respondi-lhe: mais importante que buscar a segurança é conquistar a força. Uma vida lastreada em princípios (verdades fundamentais) lhe dará força para conquistar a segurança e, portanto, ter êxito na busca da felicidade.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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