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Criança de família que sobrevive de Bolsa Família em Rebouças, na região Sul do Paraná, espia por fresta da parede de sua casa de madeira
Em 40 anos, apesar das riquezas geradas, Brasil foi incapaz de combater a pobreza de forma eficaz.| Foto: Gazeta do Povo

A chamada “quarta revolução tecnológica”, que abrange mais ou menos o período de 2010 a 2040, vem criando dois efeitos opostos: de um lado, a sensação de maravilhamento diante da genialidade humana refletida nos inventos e inovações na biotecnologia, nanotecnologia, inteligência artificial, robótica cognitiva e muitos outros; de outro lado, criou uma espécie de pânico diante da destruição de empregos, tanto os que deixarão de ser gerados por causa da tecnologia quanto aqueles que serão extintos.

A hipótese de haver, como diz o escritor Yuval Harari, uma multidão de humanos sem trabalho e sem utilidade tem a colaboração da explosão populacional nos últimos 190 anos. O mundo levou até o ano 1830 para atingir 1 bilhão de habitantes; em apenas 100 anos a população dobrou, atualmente está em 7,8 bilhões e a previsão é de que chegará a 9,4 bilhões em 2050. Apesar disso, não se sabe como o mundo estaria caso o crescimento populacional fosse metade do que é.

Apesar de o futuro da humanidade estar vinculado ao progresso da ciência e da tecnologia, não se sabe como os avanços tecnológicos serão utilizados em favor dos pobres do mundo, que são muitos

Eu tenho lido livros, matérias e previsões de autores diversos e confesso que, nesse assunto, considero-me infectado pela angústia da dúvida. Acabo de ler o livro Sobre o Futuro: Perspectivas para a Humanidade, que trata de questões críticas sobre ciência e tecnologia que definirão nossa vida. É um livro de 241 páginas, publicado em 2021 por Martin Rees, um autor inglês com formação acadêmica em astronomia e estudioso de vários temas, sobretudo tecnologia e inovação.

Não confundir astronomia com astrologia. Astronomia é uma ciência cujo objeto de estudo é o universo, o espaço sideral e os corpos celestes, para entender sua origem, tamanho, movimento, formação etc. Astrologia, por sua vez, estuda a influência dos astros na vida e comportamento das pessoas e nos acontecimentos terrestres, e pretende ser uma ciência, sobre o que uns concordam e outros discordam.

O livro é interessante, pois aborda temas que afetam a todos nós e nossos descendentes, trata das mudanças e efeitos da revolução tecnológica, analisa o futuro da ciência e da tecnologia e arrisca listar alguns reflexos sobre o planeta e a vida. O progresso gera benefícios e cria os meios para melhorar a qualidade de vida, porém, traz também consequências negativas.

Um dos aspectos não esclarecidos é que, apesar de o futuro da humanidade estar vinculado ao progresso da ciência e da tecnologia, não se sabe como os avanços tecnológicos serão utilizados em favor dos pobres do mundo, que são muitos. Segundo o Banco Mundial, 35% dos habitantes do planeta são pobres. Isso dá 2,7 bilhões de pessoas, entre as quais há uma parcela de miseráveis vivendo em condições sub-humanas.

Os debates e as opiniões sobre esses temas vêm ocorrendo em dois extremos: os alarmistas (aqueles que acham que tudo vai piorar e o mundo vai virar um caos) e os otimistas (aqueles que acham tudo uma maravilha). Há um terceiro grupo que nem é alarmista nem otimista; são os neutros, que se mantêm alheios e não se dedicam a estudar o problema. Há também analistas e palpiteiros que não conhecem ou conhecem pouco o assunto.

O mundo será forçado a confrontar-se com os três maiores dramas atuais: a miséria, a pobreza e o desemprego, e suas consequências. Resta saber o que fazer

Federico Pistono é um escritor italiano estudioso das novas tecnologias e seus impactos sobre o trabalho e a sociedade, e ele diz: “Sem empregos, ou adotamos um novo contrato social, ou o sistema todo vai entrar em colapso. Se mudarmos o contrato social, tudo tende a se tornar mais fácil. As pessoas poderão arriscar mais, poderão fazer coisas que sempre quiseram fazer. Será a primeira vez que a humanidade terá tempo livre para operar em um nível diferente. Não no modo sobrevivência, mas no modo criativo”.

Não é preciso concordar com Pistono, mas não se deve desprezar as conclusões dele. Em minhas palestras, tenho dito que os empresários, embora devam cuidar da eficiência de suas empresas e, muitas vezes, fazer cortes e demitir pessoas, como membros da sociedade eles têm responsabilidade e devem se comprometer com a solução dos flagelos do mundo.

Por enquanto, dado que os efeitos da revolução científica e tecnológica estão aí e seguirão por mais três décadas pelo menos, e ainda considerando que ninguém tem solução miraculosa para os danos colaterais do progresso, cumpre continuar estudando e se informando a respeito. O mundo será forçado a confrontar-se com os três maiores dramas atuais: a miséria, a pobreza e o desemprego, e suas consequências. Resta saber o que fazer.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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