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Ben Shapiro, nascido em 1984, com formação em Direito pela Universidade Harvard, tornou-se um respeitado escritor e analista político, com presença marcante em veículos de comunicação. Em seu livro O lado certo da história, ele faz duas perguntas provocantes. Por que a vida é tão boa? Por que nós estragamos tudo?
Shapiro nota que, após os humanos terem vivido milhares de anos em condições precárias, pobreza e adversidades que fizeram a vida curta, perversa e brutal, os últimos 300 anos deram ao mundo invenções, descobertas científicas, acelerado aumento da produção, progresso nas áreas de alimentação, combate às doenças, prolongamento da vida etc.
Conquanto o mundo tenha sido castigado por guerras, fome e mortes em certos períodos nesses mesmos 300 anos, as conquistas citadas e outras mais foram as maiores de todos os tempos, mais favoráveis à vida e ao bem-estar do que toda a existência humana nos tempos anteriores.
Ao lado das maravilhosas e revolucionárias conquistas da ciência e da tecnologia, não devemos esquecer as tragédias dos milhões de mortes nas guerras entre nações e nas revoluções políticas sanguinárias que fizeram o século 20 ser o mais violento, apesar de ser um século altamente inventivo.
A humanidade corre o risco de acabar jogando fora a herança deixada por Atenas, Jerusalém e Roma, dentro de um cenário que ninguém, rigorosamente ninguém, sabe como será
As invenções disruptivas que ajudaram a aumentar as curas e prolongar a vida, como é o caso do antibiótico, descoberto em 1929, não impediram que milhões de vidas fossem exterminadas no século 20 em duas grandes guerras mundiais e outras tantas, bem como em revoluções políticas, principalmente nas revoluções comunistas.
Zbigniew Brzezinski (1928-2017), conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos na gestão de Jimmy Carter, entre 1977 e 1981, publicou um relatório chamado “As Megamortes”, listando 243 conflitos militares no século 20, que teriam resultado em 187 milhões de mortes – esse número é contestado, pois nele constam 20 milhões de mortes pelo regime comunista chinês de Mao Tsé-tung, de 1949 a 1976, enquanto informes posteriores garantem que as mortes chegaram a 70 milhões, o que elevaria o total de megamortes para 237 milhões.
Chegando ao século 21 e já caminhando para a metade de sua terceira década, a marca atual é a aceleração da quarta revolução tecnológica moderna, com suas invenções e inovações em diversos setores: biotecnologia, inteligênia artificial, farmacologia, máquinas inteligentes, robôs cognitivos, metamateriais, cura de doenças etc.
O século 21 caminha para ser um século de maiores transformações, inclusive na área demográfica – segundo os mais recentes estudos, a população mundial pode atingir os 9,4 bilhões de habitantes até 2050, para depois chegar a 2100 com algo em torno de 4,7 bilhões.
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Para um mundo que só chegou a 1 bilhão de habitantes em 1830 e precisou de apenas 192 anos para bater os 8,1 bilhões, em 2022, a previsão de que a população pode cair à metade em 2100 é uma mudança gigantesca, cujas consequências são de difícil previsão.
A história mostra que a humanidade chegou até aqui com suas conquistas e percalços sob a inspiração de três fontes, das quais somos filhos intelectuais e culturais. A primeira fonte é Atenas, simbolizando a filosofia, a ciência e a política grega. A segunda fonte é Jerusalém, representando a moral judaico-cristã. A terceira fonte, que inspira até hoje a vida em sociedade, é o direito romano.
Nessa linha, usando a expressão de Ben Shapiro, somos filhos de Atenas, Jerusalém e Roma. Mas agora, com a possibilidade de o mundo ter uma experiência única, a de ver pela primeira vez a população mundial cair, e cair muito, chegando nos próximos 100 anos à metade do que será em 2050, ninguém sabe o que será a vida na Terra.
Se a esse assustador fenômeno da queda no número de habitantes da Terra somarmos o arrefecimento dos valores judaico-cristãos e a redução da crença em um ser superior, a sobrevivência da democracia, da liberdade e dos direitos humanos pode tornar-se difícil.
Nessa linha, a humanidade ficará sob o risco de acabar jogando fora a herança deixada por Atenas, Jerusalém e Roma, dentro de um cenário que ninguém, rigorosamente ninguém, sabe como será quando a população mundial cair à metade do que deve ser em 2050. Isso lhe parece longe? Não, não está longe. Uma criança que está hoje com 5 anos entrará o século 22 com 80 anos e poderá facilmente chegar à idade de 100 anos em 2120, quando o cenário mencionado estará em plena ocorrência.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




