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Se não tivesse doado quase 90% de sua fortuna para fundos de assistência e filantropia, Warren Buffett seria, hoje, o homem mais rico do mundo. Só isso basta para aguçar a curiosidade em saber quem é Buffett, o que ele fez da vida e como chegou a essa posição.
Nascido em 30 de agosto de 1930, na cidade de Omaha, estado de Nebraska, no Oeste americano, onde vive até hoje, Buffett completou 94 anos no ano passado como o maior investidor de todos os tempos e o mais reverenciado, não só por sua riqueza, mas por sua sabedoria e ética.
Conhecer a formação e a profissão de Buffett, saber como ele trabalhou durante sua longa vida, como fez sua fortuna, quais princípios ele seguiu para construir seu império e, por fim, saber por que ele é um homem incomum é uma enorme fonte de aprendizado.
Buffett é um gênio como pensador e investidor, criador de princípios e técnicas sobre empresas, mercado de capitais, finanças, contabilidade e estratégia de investimentos. Ele próprio se tornou uma escola de pensamento. E o mais notável é que ele construiu seu império empresarial sob a mais rigorosa ética.
Buffett construiu um método próprio, uma forma peculiar de pensar a economia, as empresas, os investimentos e o mundo dos negócios
Que Buffett é um gênio, todo mundo sabe. O QI bem acima da média, a enorme capacidade de trabalho, a disciplina férrea e a disposição incomum para o estudo e a leitura são alguns dos ingredientes desse homem admirável.
A primeira observação intrigante sobre Buffett diz respeito a seu estilo de trabalho. Quase todos os grandes empresários e executivos corporativos têm longas e quase insanas jornadas de trabalho. Na vida deles, é comum o relato de histórias sobre excesso de trabalho, descuido com a própria saúde, estresse e falta de tempo para a família.
Mas Buffett, embora sempre tenha trabalhado muito, dedica quatro ou cinco horas por dia à leitura desde o início de sua vida de investidor. Ele leu montanhas de livros, jornais, revistas e relatórios sobre negócios, contabilidade, finanças, investimentos e outros temas. Charlie Munger, amigo e sócio de Buffett, falecido em novembro de 2023, poucas semanas antes de completar 100 anos, costumava dizer: “Em toda a minha vida, nunca vi pessoas sábias que não lessem o tempo todo; nenhuma, zero”. Aliás, Munger é outra figura humana extraordinária que merece ser estudada.
Outro aspecto notável de Buffett foi a construção de um método próprio, uma forma peculiar de pensar a economia, as empresas, os investimentos e o mundo dos negócios, a partir de um valioso conjunto de princípios sobre esses temas.
Nada disso, no entanto, o teria levado a acumular tanta riqueza se não fosse sua enorme capacidade de aplicar, na prática, o arcabouço teórico, conceitual e metodológico que ele edificou em sua mente e transformou em estratégias práticas de ação cotidiana.
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Tenho 22 livros escritos por autores diversos em torno das ideias de Buffett, seus princípios, seus negócios e principalmente sobre sua estratégia focada na compra de ações de empresas como investidor de longo prazo, não como especulador. Buffett diz: “Eu não invisto em ações; eu compro pedaços de empresas, segundo os fundamentos econômicos delas e de seus negócios, baseado em algumas poucas regras: empresa boa, lucrativa, com boa gestão, produtos que sejam estáveis e duradouros, em setores perenes, com objetivo de manter a posse dessas ações para sempre”.
Apesar de passar a maior parte do expediente no escritório lendo e estudando, Buffett reconhece que não entende o funcionamento de todos os setores. Por isso, ele segue rigorosa disciplina para investir somente em empresas dentro de seu círculo de competência (setores de atividade que ele domina).
Entre seus princípios, destacam-se: disciplina férrea, pensamento independente, temperamento adequado, não seguir a multidão barulhenta, ser cauteloso quando os outros são gananciosos e ser ganancioso quando os outros estão cautelosos, não entrar em modismos, ser paciente, aprender com os erros dos outros, ter consciência daquilo que não sabe.
O patrimônio de Warren Buffett vem de ele ser o presidente e maior acionista da Berkshire Hathaway, empresa de investimentos fundada nos anos 1960, que atua como holding sócia de empresas gigantes como Apple, Coca-Cola, Gillette, Kraft-Heinz, Mondelez, banco Wells Fargo, Goldman Sachs, JP Morgan Chase, Bank of America, Visa, Geico, Mastercard, Johnson & Johnson, Acme, See’s Candies, Wrigley, Burlington; o total ultrapassa 70 empresas.
Buffett somente adquire ações de empresas que, além de serem sólidas em produtos perenes, dão lucros consistentes e pagam dividendos para a Berkshire, cujo patrimônio líquido passa de US$ 1,1 trilhão.
O que torna Buffett ainda mais digno de admiração é sua ética rígida e o fato de, após mais de sete décadas acumulando a maior fortuna pessoal do mundo, ele ter resolvido devolver quase tudo para a humanidade
A filosofia de investimento de Buffett é chamada de value investing (investimento em valor), isto é, não importa muito o sobe e desce do preço das ações, mas os fundamentos econômicos da empresa que fazem dela uma fortaleza.
Buffett foge dos modismos. Em 2001, quando houve a quebradeira das empresas de internet, ele estava fora desse jogo e, por isso, era chamado de dinossauro. Quando a bolha estourou e muitas foram à falência, ele continuou rico enquanto seus críticos naufragavam.
Essa mesma história se repetiu durante a crise financeira mundial de 2008, na qual Buffett não perdeu dinheiro. Diversas gestoras de recursos começaram a quebrar e vender ações a preços baixos; Buffett agiu com frieza e usou a reserva de caixa da Berkshire para comprar boas empresas a preços baixos.
O que torna Buffett ainda mais digno de admiração é sua ética rígida e o fato de, após mais de sete décadas acumulando a maior fortuna pessoal do mundo, ele ter resolvido devolver quase tudo para a humanidade, criando com Bill Gates o que talvez seja a maior fundação beneficente do planeta.
Eis aí um homem incomum, que merece ser ouvido, lido, respeitado e usado como exemplo. Caminhando para completar 95 anos, em 30 de agosto próximo, Buffett segue dando expediente como presidente da Berkshire, embora com a sucessão já totalmente estruturada.




