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Privatizações, reformas, ações contra pandemia e pauta de costumes estão na agenda de Bolsonaro para o ano que se inicia.
Privatizações, reformas, ações contra pandemia e pauta de costumes estão na agenda de Bolsonaro para o ano que se inicia.| Foto: Evaristo Sá/AFP

Um dos melhores aspectos das más notícias que a mídia soca dia e noite em cima do público é o fato, bem mais comum do que se poderia imaginar, de que uma parte considerável dessa desgraceira acaba dando em três vezes nada. Ou seja: a coisa nunca foi tão feia assim, ou melhorou com o passar do tempo. Uma das conclusões possíveis desse fato é que o leitor, ouvinte e etc, em geral vai fazer um bom negócio para si mesmo se der menos atenção a esse cataclisma em modo contínuo que lhe é servido no noticiário cotidiano.

O recente episódio do “não cumprimento” a Joe Biden por sua vitória nas eleições presidenciais dos Estados Unidos promete ficar como um dos clássicos do gênero. Na época, foi um escândalo. “Que loucura”, foi dito em nove de dez comentários dos especialistas em questões diplomáticas e conexas. Como o governo brasileiro faz uma coisa dessas? O presidente Biden vai ficar muito bravo com o Brasil, e depois de tomar posse no seu cargo com certeza mandará o governo norte-americano adotar represálias possivelmente fatais contra o Brasil.

Havia vários problemas com essa história. O primeiro era supor que Biden estivesse preocupadíssimo com o Brasil. O segundo é que ele tivesse ficado ofendido com a ausência de felicitações por parte do presidente Jair Bolsonaro – quer dizer, isso no caso de ter realmente sabido que não fora felicitado.

O terceiro é achar que o presidente americano pode fazer o que lhe der na telha em matéria de política externa, ou interna, ou de qualquer tipo. O quarto é que as centenas de bilhões de dólares envolvidos no comércio Brasil-Estados Unidos e nos capitais americanos investidos aqui seriam simplesmente riscados do livro-razão para atender a possível bronca de Biden. E por aí se vai.

Passou o tempo e o que aconteceu? Bolsonaro cumprimentou o seu novo colega no exato momento em que o colégio eleitoral dos Estados Unidos anunciou oficialmente a vitória de Biden. Foi a mesma atitude da Rússia, do México e de outros países essenciais para a diplomacia norte-americana, que também estavam esperando o anúncio oficial para se manifestar a respeito.

Outra coisa: se nem Donald Trump, que é o presidente dos próprios Estados Unidos, havia reconhecido a vitória de Biden, por que raios o Brasil teria de dar palpite antes do resultado oficial?

A catástrofe nas relações entre os Estados Unidos e o Brasil, no fim das contas, não rolou – e nem poderia ter rolado, já que nunca existiu. No momento, as duas partes fazem discurso sobre a excelência de suas relações mútuas.

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