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Líderes são seres humanos e como tal estão sujeitos às suas imperfeições. Combater vícios culturais é um dos desafios das lideranças brasileiras.

Julio Cezar Agostini

Julio Cezar Agostini

Júlio Cezar Agostini é Coordenador Nacional do Polo de Lideranças do Sistema Sebrae. Compartilha seu conhecimento pelo perfil no Instagram e também pelo canal no YouTube.

Ambiente Sociocultural

Os piores vícios das lideranças brasileiras

30/03/2023 15:01
Nem tudo são flores na vida real. Isso também vale para os processos de liderança. Líderes são seres humanos e, como tal, estão sujeitos às suas imperfeições. O ambiente sociocultural brasileiro está repleto de vícios culturais que funcionam como verdadeiras armadilhas a líderes que queiram usá-los de forma oportunista, o que potencializa a prática de atitudes e comportamentos atualmente inaceitáveis em função de gerar impactos negativos para seus liderados e para a sociedade de uma forma geral.
Geralmente, os piores vícios das lideranças brasileiras estão relacionados à manutenção de velhas práticas culturais (aquelas que vêm sendo cultivadas de geração em geração), nocivas ao desenvolvimento da sociedade e que levam o país e suas organizações ao atraso. São difíceis de ser combatidas, uma vez que são profundamente enraizadas nas tradições da sociedade, mas é importante reconhecer esses comportamentos prejudiciais e buscar maneiras de promover mudanças positivas na cultura.
Entre os principais vícios culturais brasileiros se encontram a corrupção, o autoritarismo, o coronelismo, o patrimonialismo, o nepotismo, a falta de transparência, a falta de coerência entre o que se diz e o que se faz, o clientelismo, o jeitinho brasileiro na forma de burlar as regras pré-estabelecidas, inclusive o compliance organizacional e os diversos tipos de preconceitos existentes, inclusive relacionados ao gênero, raça e classe social.
Quando líderes se apropriam e fazem uso desses vícios em suas atividades diárias promovem o pior cenário possível para a sociedade, porque tornam-se elementos disfuncionais que, ao invés de promoverem, passam a impedir seu desenvolvimento.
Cada um desses vícios culturais provoca danos com características diferentes, mas todos são prejudiciais ao processo de desenvolvimento mais equitativo e sustentável do país. Existem vários exemplos dos efeitos perversos dos vícios culturais brasileiros. Um exemplo clássico é a menor presença de mulheres nos quadros de dirigentes de instituições, de grandes corporações ou mesmo na política, o que pode ser explicado pela cultura machista predominante em países latinos.
O mesmo acontece com outras minorias como a sigla LGBTQIA+, que busca reconhecimento e espaço mais igualitário no mercado de trabalho. A Operação Lava Jato evidenciou os efeitos nocivos da corrupção. Recentemente, o escândalo das lojas Americanas evidenciou como a aplicação do jeitinho brasileiro na contabilização de credores pode representar, de fato, uma fraude. Poderíamos escrever listas intermináveis de problemas relacionados ao uso de vícios culturais.
Como se pode perceber, para desenvolver um país, não basta aumentar seu PIB per capita, mas talvez, mais importante, seja romper com velhas práticas culturais que, de forma persistente, permanecem ativas na sociedade. O desafio das lideranças seria o de quebrar o ciclo vicioso para iniciar um círculo virtuoso com novos elementos culturais que contribuam para a promoção do bem comum.
Na busca de soluções para a questão, é importante lembrar que esses vícios não se aplicam a todos os líderes brasileiros e que existem muitos exemplos de lideranças éticas e comprometidas com o bem público no país. Também importante lembrar que não serão os líderes que farão essa tarefa sozinhos, mas sim a sociedade organizada e consciente de que a evolução dela mesma implica na adoção de elementos culturais mais adequados à realidade do mundo universal contemporâneo e que possam levar o desenvolvimento a todos e de forma mais inclusiva, equitativa e sustentável.

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