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O jogo de forças econômicas entre os Estados Unidos e a China entrou em uma nova rodada. A imposição de tarifas duras sobre as importações chinesas, seguida da retaliação de Xi Jinping e da aposta dobrada de Donald Trump, a batalha tarifária não ficará restrita aos campos dos dois países.
Na dinâmica do comércio global, nada acontece isoladamente; cada movimento tem consequências que reverberam como ondas, às vezes como tsunamis, sobre as economias conectadas direta ou indiretamente aos gigantes em conflito. É isso que acontecerá com o Brasil.
Com as tarifas impostas pelos Estados Unidos, os produtos chineses, que antes eram imbatíveis em competitividade no mercado norte-americano, perderão grande parte de seu apelo.
A China não vai se sentar em cima de uma montanha de bugigangas e terá de buscar novos destinos para suas exportações excedentes. E aqui começa o dilema para países, como o Brasil, potencialmente vulneráveis à inundação de produtos chineses baratos, especialmente manufaturados e bens tecnológicos.
Um aumento súbito e maciço dessas importações poderia desorganizar segmentos produtivos inteiros, já enfraquecidos por anos de desindustrialização e falta de inovação.
Mas, antes que Pequim consiga redirecionar eficazmente seus produtos para mercados alternativos, como o brasileiro, há uma questão ainda mais urgente em curso: a saúde da economia chinesa.
As tarifas americanas não são apenas barreiras comerciais pontuais. Elas são mecanismos poderosos que podem provocar danos estruturais ao rival asiático.
A China, tradicionalmente resiliente e ágil em lidar com crises, agora precisa lidar com um cenário de abrupta desaceleração econômica.
Uma das saídas esperadas é a desvalorização agressiva do yuan. Com uma moeda mais fraca, os chineses tentarão compensar o aumento artificial de preços gerado pelas tarifas americanas.
Só que esta estratégia não é uma panaceia. Uma desvalorização brusca gera consequências internas severas, como inflação, queda do poder de compra dos consumidores locais e, principalmente, desestímulo às importações chinesas. E é aqui, novamente, que o Brasil entra no tabuleiro.
Atualmente, o Brasil depende significativamente da demanda chinesa, especialmente no que diz respeito às commodities agrícolas e minerais. Uma China enfraquecida e com menor apetite por produtos brasileiros representaria uma queda sensível no volume e no valor das exportações nacionais.
O efeito seria sentido imediatamente por setores estratégicos do país, que têm na China seu maior comprador e parceiro comercial. Uma armadilha que o Brasil criou para si, ao criar uma relação suicida que é de “cliente único”.
Neste cenário, surge a necessidade urgente de uma revisão profunda das políticas comerciais brasileiras. Não se trata apenas de defender o mercado interno contra o "dumping" chinês iminente, mas também de buscar alternativas e novos mercados que possam amortecer o impacto de uma possível retração econômica chinesa. E não há como fazer isso sem o governo Lula mudar sua abordagem política.
Lula terá que abrandar o seu antiamericanismo e arrefecer seu amor por Pequim para manter a neutralidade estratégica necessária para proteger os interesses econômicos do Brasil
Mesmo não fazendo parte da mesma liga em que Trump e Xi jogam, Lula terá que ter a destreza de entender que o conflito entre Washington e Pequim não é apenas um duelo comercial, mas um embate geopolítico profundo que redefine o equilíbrio global.
Não se trata de o Brasil ficar na plateia sentadinho assistindo ao jogo. O Brasil tem que não virar torcida e organizar o seu time. Os próximos meses serão decisivos. A capacidade do Brasil em antecipar os movimentos da China e reagir rapidamente será determinante para mitigar os prejuízos.
Para o agronegócio brasileiro, uma das melhores estratégias é diversificar mercados. Isso significa reduzir a dependência da China e ampliar relações comerciais com outras regiões, como a União Europeia, Oriente Médio, demais países da Ásia e os Estados Unidos.
Além disso, olhar para dentro. O Brasil é um mercado interno gigante que pode ajudar a diluir o impacto.
Outra abordagem essencial é fortalecer as cadeias produtivas internas, melhorando a eficiência logística e reduzindo custos operacionais. Esse movimento permitiria que o Brasil se tornasse ainda mais competitivo globalmente, absorvendo melhor os choques externos e ampliando seu potencial exportador mesmo em um cenário adverso.
Sob o risco de exportar cada vez menos e importar cada vez mais para a China, o Brasil está diante de um desafio que tem tudo para ser benéfico para o país a médio e longo prazo.
Mas o governo, o empresariado e o agro brasileiro precisam se mexer. Cair na tentação de pedir mais proteção só impedirá que o país aproveite essa chance de se tornar mais competitivo e atraente.
As chances de o Brasil tirar proveito da crise são baixíssimas. Mas não custa ter esperança.
Conteúdo editado por: Aline Menezes





