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Leonardo Coutinho

Leonardo Coutinho

Brasil, América Latina, mundo (não necessariamente nesta ordem)

Legítima defesa

O direito de Israel de reagir e existir

Mulher segura um cartaz com a mensagem em alemão “Nunca mais é exatamente AGORA”, em referência ao Holocausto, ao lado de uma bandeira de Israel em cerimônia no campo de concentração desativado de Bergen-Belsen, na Alemanha. (Foto: Clemens Bilan/EFE/EPA)

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Os ataques de Israel contra instalações militares e nucleares iranianas são vistos por alguns como provocação e, para outros, como legítima defesa. Faço parte daqueles que entendem que Israel esperou muito para agir. Deixou o Irã não só de chegar perto demais de ter uma arma nuclear como também de melhorar muito o seu arsenal militar.

Só alguém muito mal-intencionado é capaz de negar o que o regime iraniano nunca escondeu. Há décadas, os aiatolás e seus súditos pregam a morte de Israel. Não se trata de retórica, mas de um desejo imanente da teocracia que tomou o Irã de assalto há quase meio século. 

Eles dizem, abertamente, sua intenção de destruir o Estado de Israel. E volto a reafirmar: não é uma retórica, tampouco um jogo político interno: é uma promessa ideológica, militar e religiosa.

Desde a Revolução Islâmica de 1979, o Irã transformou a eliminação de Israel em política de Estado. O aiatolá Ali Khamenei, atual líder supremo, já se referiu ao país como um “tumor cancerígeno” que deve ser “removido”. O ex-presidente Mahmoud Ahmadinejad declarou, com todas as letras, que Israel “deveria ser varrido do mapa”.

Esses discursos não são isolados: são seguidos de ações concretas, como o financiamento e o armamento de grupos terroristas como o Hamas, na Faixa de Gaza, e o Hezbollah, no Líbano. Ambos são reconhecidamente empenhados na destruição de Israel. Por isso, não há outra saída para Israel que não seja destruí-los.

Ignorar esse histórico de hostilidade seria tão irresponsável quanto culpar um país por se proteger de um ataque iminente. O programa nuclear iraniano é conduzido nas sombras. Dia após dia, manipulado e conduzido em instalações subterrâneas e com o auxílio de regimes autoritários como Rússia e Coreia do Norte. 

Quando Israel age para impedir que esse projeto avance a ponto de representar uma ameaça existencial, está exercendo o mais básico dos direitos de qualquer nação: o direito de sobreviver.

No entanto, a diplomacia brasileira, sob o comando de Luiz Inácio Lula da Silva, tem escolhido se posicionar com estranha leniência em relação ao Irã e com uma crítica recorrente, quase obsessiva, contra Israel.

Em teoria, o governo petista diz buscar “neutralidade” e “equilíbrio” no conflito. Na prática, o Brasil sussurra frente a crimes hediondos praticados por terroristas e se manifesta com veemência contra Israel

Um exemplo: o governo brasileiro foi ágil em expressar, por meio de nota, sua “firme condenação” e “forte preocupação” à ofensiva aérea israelense lançada contra o Irã. Mas até a publicação desta coluna, não se dedicou uma linha que seja para condenar o Irã pelo disparo de mísseis contra alvos civis em Israel.

A ilusão de neutralidade brasileira fica ainda mais patente quando se observa as manifestações pela morte de brasileiros no Oriente Médio. Três casos ilustram essa incoerência de forma brutal. 

Em 7 de outubro de 2023, o grupo terrorista Hamas invadiu o território israelense, promoveu um massacre e sequestrou civis. Entre os mortos estavam dois cidadãos brasileiros: Bruna Valeanu e Ranani Glazer.

As manifestações oficiais do governo brasileiro se deram por meio de notas insossas, tímidas, quase telegráficas. Apenas uma formalidade burocrática. Feitas, aparentemente, para constar. No caso de Bruna, foram dedicados 320 caracteres e no de Ranani, 328 caracteres. 

Em contraste, em março deste ano, Walid Khalid Abdalla Ahmad, de 17 anos, um brasileiro de origem palestina, morreu em uma prisão israelense, em circunstâncias ainda não completamente esclarecidas. O governo reagiu com uma nota dura e com mais que o triplo da extensão daquelas dedicadas às vítimas do Hamas. 

Em 1.055, o governo brasileiro manifesta indignação, cobra explicações e pede investigações. Nada de anormal se não fosse uma altivez seletiva. No caso das vítimas judaicas, além de somente lamentar, o governo sequer mencionou o Hamas como autores dos assassinatos. É a famosa saída por meio das ações em sujeito.

O Brasil, país que já liderou iniciativas de paz, hoje se vê refém de uma visão ideológica que transforma assassinos em mártires e vítimas em culpados. A política externa lulista não é neutra, tampouco pragmática. É engajada. E, pior, engajada do lado errado.

O Irã tem nas mãos o sangue de judeus, árabes, curdos, sírios e libaneses. Explodiu a Amia em Buenos Aires e está envolvido no assassinato do procurador Alberto Nisman. Financia atentados, oprime mulheres, enforca homossexuais, encarcera dissidentes ou manda matá-los no exterior. E ainda assim é recebido com deferência por chanceleres e presidentes, incluindo os do Brasil. 

VEJA TAMBÉM:

O Hamas, que executou, sequestrou civis e matou mulheres e mulheres no ataque de outubro, é citado com eufemismos diplomáticos como “grupo militante”

Enquanto isso, Israel segue condenado por se defender. O país que abriga sobreviventes do Holocausto, que nasceu do trauma do extermínio, é acusado de “genocídio” por quem parece ignorar que quem nega o Holocausto hoje é justamente quem mais quer repetir a história.

Não se trata aqui de endossar tudo o que Israel faz. Nenhum Estado democrático está acima de críticas. Mas comparar Israel, uma democracia que busca proteger seus cidadãos, com um regime ditatorial e expansionista, que tem como missão a aniquilação de Israel, é intelectualmente desonesto. É moralmente perigoso.

A reação de Israel à ameaça nuclear iraniana não é só compreensível, como é necessária. Aqueles que argumentam que os israelenses deveriam esperar para ter a certeza se o Irã tem ou não a bomba atômica, simplesmente estão exigindo que Israel assine a sua própria sentença de morte.

Conteúdo editado por: Aline Menezes

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