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Casa destruída e corpos cobertos no assentamento Beeri, no sul de Israel, onde ocorreu um dos ataques mais letais da ofensiva do grupo terrorista Hamas.
Casa destruída e corpos cobertos no assentamento Beeri, no sul de Israel, onde ocorreu um dos ataques mais letais da ofensiva do grupo terrorista Hamas.| Foto: EFE/Alejandro Ernesto

No dia 7 de outubro de 2023, os terroristas do Hamas invadiram uma festa de música eletrônica e mataram 260 jovens. Os relatos das execuções e sevícias mostram que os perpetradores empregaram níveis máximos de crueldade e covardia. Há casos de estupros, tortura e uma série de barbaridades que seguiram para além do espaço da festa e tingiram de sangue e horror estradas e povoados. Não pouparam mulheres, idosos ou crianças – muitas delas ainda bebês. Mais de 1,2 mil pessoas foram assassinadas em poucas horas de incursão terrorista no território de Israel. Uma ação sem precedentes do grupo terrorista que tinha, até então, o modelo de ação baseado em atentados suicidas e o emprego de foguetes disparados aleatoriamente contra alvos civis israelenses.

No dia 7 de outubro de 1985, os terroristas da Frente Popular de Libertação da Palestina (FPLP) tomaram de assalto, na costa do Egito, o navio de cruzeiro italiano Achille Lauro. Os quatro terroristas fizeram 400 reféns, entre passageiros e tripulantes, e exigiam em troca a libertação de 50 comparsas que estavam presos em Israel. Impedidos de atracar na Síria, eles decidiram dar uma demonstração de que “não estavam brincando”. Ameaçaram matar os reféns, caso suas demandas não fossem atendidas. Para provar que estavam dispostos a cumprir o que diziam, no dia seguinte escolheram um dos reféns; em seguida, deram-lhe um tiro na cabeça e o arremessaram no mar.

O empresário e inventor norte-americano Leon Klinghoffer – um judeu de 69 anos que dependia de cadeiras de rodas para se locomover – foi baleado na frente de sua mulher Marilyn. Seu corpo agonizante foi jogado no mar por dois tripulantes que foram obrigados, sob a mira de fuzis, a fazer o descarte. A brutalidade da ação chocou o mundo. Yasser Arafat, então líder da Organização para Libertação da Palestina (OLP), agiu rápido. Viu que a selvageria da FPLP, um dos grupos abrigados sob o seu guarda-chuva institucional e por sinal o mais radical de todos, danificaria a sua imagem e a de sua “causa”.

Os exatos 38 anos que separam o sequestro do Achille Lauro e a carnificina em Israel trazem uma mudança de comportamento brutal. Não dos terroristas. Mas do mundo. De todos nós.

Arafat viu a opinião pública mundial voltar-se rapidamente contra a sua organização. O líder palestino entendeu que o sequestro seguido do assassinato de Klinghoffer teria um custo para a imagem dos palestinos e dos grupos que formavam a OLP. Um dano que poderia ser letal. Ele, então, determinou que o chefe da FPLP, Muhammad Zaidan, que era conhecido pelo codinome Abu Abbas, desmontasse a operação.

Depois de uma série de negociações e tratativas que geraram um salvo-conduto para construção de um “corredor de imunidade” para que ele viajasse ao Egito para “resgatar” seus terroristas, Abbas desembarcou no norte no Egito para levar seus terroristas sãos e salvos para a Líbia – que era o refúgio desse pessoal.

O sequestro durou apenas três dias. Abbas e seus quatro terroristas embarcaram em um avião e seguiam lépidos para a glória de heróis sob a guarda de Muammar Kadafi, quando caças da Força Aérea dos Estados Unidos interceptaram a aeronave e obrigaram-na a descer, ainda na Itália. Os quatro terroristas foram presos, julgados e condenados. Abbas foi liberado e só reapareceu em 2003, quando foi encontrado pelos norte-americanos entocado em um esconderijo no Iraque.

O que se passou entre 1985 e 2023?

Os exatos 38 anos que separam o sequestro do Achille Lauro e a carnificina em Israel trazem uma mudança de comportamento brutal. Não dos terroristas. Mas do mundo. De todos nós.

Enquanto naquele longínquo 1985 o assassinato de um idoso deficiente foi capaz de fazer os terroristas refletirem a respeito do impacto do terror sobre a imagem institucional de suas organizações, que se vendiam como “resistência” e vítimas de potências imperialistas e de uma “invasão” sionista, em 2023 os terroristas palestinos fazem streaming de suas chacinas.

O que se passou entre 1985 e 2023?

Em 1985, a reação à morte de uma pessoa fez os terroristas reavaliarem seus métodos. Passados 38 anos, o assassinato de 1,2 mil não é um motivo para reflexão interna, mas um estímulo para eles irem além.

Não se trata de matemática ou um balanço do número de cadáveres. O terrorismo, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, não tem como objetivo matar muitas pessoas, mas assustar muitos. Por isso tem esse nome. O terrorismo se alimenta do medo que provoca.

O Hamas sabe que, em todos os cantos do mundo, existe um exército de seguidores que renunciaram à capacidade de pensar diante do mal para simplesmente ruminarem palavras de ordem que os acompanham desde o ensino médio

Portanto, as ações violentas como as do Hamas e de qualquer outro grupo que recorre ao terror como instrumento de ação não podem ser vistas como o fim, mas como o meio pelo qual eles querem chegar a algum lugar. No caso do Hamas, a destruição do Estado de Israel e o genocídio judeu. Sendo assim, há muito pouco, ou nada a negociar.

O que se passou entre 1985 e 2023?

O filme da FPLP ficou tão queimado que a organização minguou. Existe até hoje, e sua base marxista a conecta com uma série de movimentos de esquerda pela América Latina. Seus maiores amigos estão no regime fundado por Hugo Chávez e herdado por Nicolás Maduro.

Mas o radicalismo não. Dois anos depois do sequestro do Achille Lauro, surgiu em Gaza o Hamas. Uma nova frente de ódio e violência que nos últimos dias mostrou ao mundo a sua cara. E mostrar não é uma figura de linguagem. A segurança que eles tiveram em divulgar as próprias ações, que fazem o método de seus antecessores parecer ações de escoteiros, se deve à mais absoluta segurança de que eles já venceram um dos campos de batalha.

O Hamas sabe que, em todos os cantos do mundo, existe um exército de seguidores que renunciaram à capacidade de pensar diante do mal para simplesmente ruminarem palavras de ordem que os acompanham desde o ensino médio. Um vazio crítico e moral cada vez mais profundo que não encontra impedimento algum para justificar o terrorismo como instrumento legítimo. Pois, afinal, trata-se da “causa palestina”, algo tão genérico que nela cabe tudo. Pois, afinal, trata-se de uma luta desigual de um Estado militarmente superior contra um povo munido apenas de pedras e estilingues. Não é mesmo?

O Hamas não precisa fingir nada, pois sabe da tragédia moral, da inversão de valores e da banalidade do mal de indivíduos, movimentos e governos

As primeiras vítimas do Hamas são os palestinos. O grupo terrorista sabotou e sabotará todos os esforços de paz. Qualquer caminho que passe pelo Hamas levará à guerra.

Da mesma forma que o Hamas usa o povo palestino como escudo humano, no sentido literal do conceito, eles também se escondem atrás da poderosa propaganda que angariou um apoio quase cego que muita gente oferece, inclusive justificando as suas ações.

O Hamas não precisa fingir nada, pois sabe da tragédia moral, da inversão de valores e da banalidade do mal de indivíduos, movimentos e governos que até ensaiam indignação, mas... Sempre há um “mas” para iniciar a desfiar mil e uma razões para justificar a existência do Hamas e “compreender” suas razões.

O que se passou entre 1985 e 2023?

A resposta, penso eu, está em cada um de nós.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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