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Na geopolítica, poucas coisas são tão perigosas quanto confundir empatia pessoal com interesse estratégico. Foi exatamente isso que o presidente americano Donald Trump acabou fazendo ao decidir impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, contribuindo para agravar uma situação já delicada.
Ao misturar a política doméstica brasileira com interesses legítimos dos Estados Unidos, Trump involuntariamente enfraqueceu o impacto das sanções e acabou oferecendo ao presidente Lula uma oportunidade perfeita para desviar a atenção de suas próprias ações.
Primeiramente, é preciso entender por que essas tarifas foram aplicadas. Na prática, não são apenas tarifas; são sanções econômicas. O Brasil está sendo sancionado porque Lula decidiu transformar sua terceira passagem pela presidência numa cruzada aberta contra os Estados Unidos.
Liderando movimentos para enfraquecer o dólar, abrindo as portas da América Latina à influência da China e do Irã e aumentando significativamente o envio de dinheiro brasileiro para a Rússia através das importações de diesel, Lula escolheu claramente seu lado. E não foi o lado de Washington. Tampouco o lado do Brasil.
Em vez de colocar os interesses do seu país em primeiro lugar, Lula colocou o dos BRICS (leia-se China) e de sua ideologia mofada, ancorada no antiamericanismo dos tempos da Guerra Fria.
A lógica dessas sanções é clara e objetiva: pressionar o Brasil a reconsiderar a direção escolhida pelo governo petista e seus aliados internacionais. Era uma jogada legítima e fácil de justificar para os Estados Unidos.
Afinal, Lula dia sim outro também estava cutucando Trump. Fazendo ameaças trabalhando para (ainda que no campo retórico) os Estados Unidos e na prática abrindo avenidas para China e Irã na América do Sul.
Trump deveria tratar sua medida como uma consequência das ações geopoliticamente suicidas de Lula. No entanto, ao introduzir na narrativa o fator Jair Bolsonaro, com quem Trump compartilha uma certa afinidade como políticos que enfrentam perseguições semelhantes, Trump acabou diluindo o foco principal.
Foi um deslize estratégico. Lula aproveitou rapidamente a chance de transformar a discussão em uma suposta interferência norte-americana. Bolsonaro e seus aliados acabaram no centro de uma disputa na qual Lula facilmente assumiu o papel de defensor da soberania nacional. Para agravar a situação, a família Bolsonaro entrou nesse debate de maneira ainda mais arriscada.
A resposta do campo político ligado a Bolsonaro, embora compreensível diante do cenário doméstico, acabou reforçando esse desvio de foco.
Os bolsonaristas, possivelmente levados pela emoção do momento, correram para reivindicar créditos pela ação norte-americana, sugerindo que Trump estava agindo especificamente para salvar o Brasil de Lula. Essa atitude, embora talvez bem-intencionada, foi extremamente imprudente.
Para entender melhor o risco dessa postura, vale lembrar a descrição feita por Jessica Stern em sua obra "Terror em Nome de Deus". Stern aponta que homens-bomba muitas vezes agem não apenas pela causa em si, mas também por fama, reconhecimento ou redenção pessoal.
Embora a comparação seja forte, ilustra o risco de assumir desnecessariamente uma responsabilidade política que pode trazer graves consequências econômicas e políticas ao país.
Além disso, as divergências internas entre os aliados de Bolsonaro já começaram a surgir, enquanto Lula se beneficia estrategicamente das dificuldades internas dos adversários, capitalizando cada erro da oposição.
Seria sábio se a direita brasileira usasse este episódio para refletir sobre estratégias políticas mais maduras e menos emocionais
Para o brasileiro médio, habituado a interpretar o mundo através da lente nacional, é natural pensar que tudo gira em torno de suas próprias questões internas, como se o país fosse uma potência central no cenário global.
Mas as sanções americanas não são somente uma reação emocional de Trump ao drama envolvendo Bolsonaro. Elas representam também um alerta claro para a aliança sino-brasileira, para os embates judiciais contra empresas americanas e para a insistência de Lula em desafiar constantemente os interesses dos Estados Unidos.
Infelizmente, a confusão gerada pela abordagem menos precisa de Trump e pela reação impulsiva dos bolsonaristas diminuiu a clareza desse alerta.
No fim das contas, enquanto Lula segue cometendo erros geopolíticos diariamente, atuando como um proxy chinês e um aliado indireto da Rússia, sempre parece haver alguém disposto a disputar com ele o protagonismo no campo dos deslizes estratégicos.
Desta vez, Trump e os bolsonaristas acabaram tropeçando numa situação delicada, que poderia ter sido evitada com um pouco mais de calma e ponderação estratégica. Resta agora observar os próximos capítulos dessa crise, que nasceu da combinação perigosa de emoção e política internacional.





