Longevidade

Eduardo Novaes Ramires*

Melhor tarde do que mais tarde

Eduardo Novaes Ramires*
26/08/2022 13:22
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Active happy mature old senior couple of Caucasian people walking on outdoor hiking in the countryside at sunset light enjoying healthy lifestyle. The husband helping his wife to climb. Copy space | Bigstock

A maturidade nos faz enfrentar o que jogamos para baixo do tapete ao longo de nossas vidas. Percebemos que talvez estivemos errados por décadas, em assuntos que a certeza pareciam imutáveis. Que sabemos muito menos do que supúnhamos em muitos temas. Ou ainda que boa parte do que aprendemos simplesmente não se aplica mais ao contexto atual.
Mas o que permanece é a impermanência. E o que é inexorável é a mudança.
Mais do que certezas, precisamos de posturas. Do eterno aprendiz. Com a maturidade, podemos nos tornar aprendizes cada vez mais avançados, selecionando prioridades com mais sapiência, aprofundando sempre o autoconhecimento. Promovendo relações mais saudáveis conosco mesmos e com as pessoas, aproveitando o tempo livre para se envolver em ações de voluntariado. Começando a aprender algo de novo, como tocar um instrumento musical, ainda que a única pessoa que aguente ouvir seja você mesmo. Aprendendo mais sobre tecnologia, e principalmente sobre como navegar com segurança na internet, para evitar cair nos novos golpes cibernéticos que surgem a cada dia. Fazendo atividades físicas de forma regular. Convivendo com grupos de pessoas fora de nossa “bolha”.
A flexibilidade mental é essencial para nossas vidas. A mente é como um músculo, se não a exercitarmos através de novos aprendizados, gerenciamento de estados emocionais e o hábito de posturas mentais mais abertas ao novo vamos perdendo essa capacidade tão importante.
O Brasil caminha rapidamente para uma transição populacional, com proporção bem maior de longevos. Em 2030, o país terá a quinta maior população idosa do mundo. Quanto mais os longevos exercerem um papel ativo na sociedade, em vários aspectos, melhor será para a nossa sociedade como um todo. Aspectos trazidos por essa coluna, como moradia, cuidados, saúde mental, não poderão mais ser abordados do mesmo modo como nas gerações anteriores. A economia da longevidade vai exigir adaptações de todos.
Uma frase que li recentemente, que me pareceu bem melhor do que “antes tarde do que nunca”, foi “melhor tarde do que mais tarde”. Essa última traz em si uma noção de processo, aprendizado e de que é possível fazer.
Sigo ultimamente esse “mantra” em muitos aspectos da vida. Se fui preconceituoso, antes tarde do que mais tarde vou reescrevendo o código de minha programação de visão de mundo e das pessoas. E mudando minhas atitudes. Se negligenciei meu planejamento de vida, agora posso planejar melhor. Se pisei feio na bola com alguém, antes tarde do que mais tarde me desculpo. Se fiquei sem foco por muito tempo, antes tarde do que mais tarde serei disciplinado. Se falharam minhas dietas, antes tarde do que mais tarde posso mudar de hábitos pra valer. E também ser feliz com o corpo que tenho agora. Por aí vai…
Melhor tarde do que mais tarde ter em mim cada vez mais a esperança, a autoestima, a fé sem dogmas, a caridade mais presente. Planos em ação.
Vejo ao meu redor pessoas idosas dizerem “sou assim mesmo, sempre fui, é tarde para mudar”. Posturas de intolerância cada vez mais acentuadas, isolamento social. Esse modelo de rigidez mental leva à infelicidade e a discussões sem sentido, muitas vezes.
Todos podemos mudar, melhorar, reanalisar, reconstruir aspectos de nossas vidas, antes tarde do que mais tarde. Vida é fluxo. Não sei quando o “nunca” vai chegar, ninguém sabe. Mas enquanto respirar, sempre buscarei fazer melhor. Antes tarde do que mais tarde. Com o perdão e a esperança que essas palavras carregam.
*Eduardo Novaes Ramires: embaixador Aging2.0 em Curitiba, co-fundador da startup Broder, participante do Sumaúma Hub.