Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Lorenzo Carrasco

Lorenzo Carrasco

Sucesso imaginário

COP 30: o fracasso e a negação da realidade

Fracasso da COP 30 expôs a bolha verde: enquanto vozes celebram um “sucesso” imaginário, Belém só provou o abismo entre narrativa e realidade. (Foto: Sebastião Moreira/EFE)

Ouça este conteúdo

O inocultável fracasso da conferência climática COP 30 em seus objetivos primários ensejou uma onda de negação da realidade entre as partes engajadas na agenda da descarbonização da economia mundial, com não poucos dos seus porta-vozes se empenhando em afirmar um ilusório sucesso do convescote de Belém. Vejamos dois exemplos: um do meio financeiro e outro das “tropas de choque” do ambientalismo internacional.

O primeiro é uma coluna do presidente do Conselho de Administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, no “Estadão” de 30 de novembro, emblematicamente intitulada “COP fortaleceu entendimento de que é preciso insistir na união de todos contra o aquecimento global”. Diz ele: “As mensagens emitidas do coração da Amazônia reforçam a conscientização da relevância da luta contra o aquecimento. Sob a presidência brasileira, o País apresentou alternativas objetivas de modelos de financiamento para as ações climáticas.”

Em sua avaliação: “A COP 30 consolidou a imagem de que a busca da sustentabilidade ambiental é, por definição, uma caminhada paulatina, pois sujeita a visões econômicas contraditórias e à captação de recursos volumosos para sua viabilização. Saiu fortalecido o entendimento de que é preciso insistir na união dos esforços de países, empresários e sociedade contra o aquecimento global. O Brasil mostrou que está fazendo a sua parte, e isso foi fundamental para reafirmar o senso de urgência da questão climática.”

Seria o caso de se perguntar: que entendimento saiu realmente fortalecido de Belém?

Mas vejamos o outro caso de negação, desta vez com Claudio Angelo, coordenador de Política Internacional do Observatório do Clima, uma das ONGs brasileiras mais ativas na promoção da agenda descarbonizadora. Em um artigo publicado na Folha de S. Paulo de 28 de novembro (“A COP 30 foi um sucesso? SIM”), ele teve um lapso de sinceridade ao afirmar que “o primeiro grande êxito da COP foi evitar a própria implosão”. Isto porque “depois do colapso das negociações internacionais sobre plásticos, em Genebra, em agosto, e sobre emissões de navegação, em Londres, no mês passado, um naufrágio em Belém não estava descartado”.

VEJA TAMBÉM:

Como afirmam há tempos os críticos dessas conferências climáticas, não sem boas razões, a principal realização de uma COP é acertar a realização da seguinte

Mas, logo em seguida, ele entra em negação delirante ao insistir que:

“O segundo e talvez maior triunfo de Belém aconteceu fora da negociação. A COP 30 assistiu à consolidação de um movimento pelo fim dos combustíveis fósseis que tem todas as características de uma onda. Ele começou com a improvável conversão de Lula à proposta de um roteiro (roadmap) para a eliminação gradual dos fósseis. O mesmo Lula que licenciou a Foz do Amazonas discursou quatro vezes na COP pedindo os roadmaps – contrariando o Itamaraty, a Casa Civil e o próprio PT... Ao longo da COP, o número de países favoráveis ao mapa do caminho saiu de 1 para 82.”

Uma onda pelo fim dos combustíveis fósseis é algo existente apenas nas elucubrações delirantes dos promotores da indústria do catastrofismo climático. Até a Agência Internacional de Energia (AIE), que até o retorno de Donald Trump à Casa Branca vinha sendo uma das principais batedoras de bumbo da “descarbonização”, admite, em seu último relatório (World Energy Outlook 2025), que a demanda por petróleo e gás natural não deverá reduzir-se antes de 2050.

Um editorial do “Estadão” de 24 de novembro (“A COP como ela é”) resumiu essa mudança de percepção:

“O divórcio entre diplomacia climática e realidade material ficou claro em Belém. O palco segue maximalista, enquanto o mundo real migra para outra lógica: transições mais lentas, foco em adaptação e prioridade à segurança energética e à prosperidade como condição de resiliência climática. Em três décadas, a obsessão por cortar na marra a oferta de combustíveis fósseis praticamente não alterou a trajetória das emissões. A insistência num modelo que não entrega resultados, mas multiplica custos, corroeu a legitimidade política da agenda. O cansaço dos eleitores não é negacionismo: é aritmética doméstica. Energia cara destrói o consenso social. A já folclórica coxinha a R$ 45 – ainda que os preços em Belém durante a COP não tenham relação direta com a energia – serviu involuntariamente como um aperitivo indigesto do custo de vida global se vierem a prevalecer as políticas energéticas exigidas pelo ambientalismo radical.”

A rigor, talvez a melhor definição do convescote paraense tenha sido a de Charles Rotter, colunista do ótimo sítio WattsUpWithThat, que reúne uma coleção de aguerridos críticos científicos do catastrofismo climático. Disse ele: “Um evento que tropeçou da crise ao fingimento com toda a elegância de uma turbina eólica perdendo as suas pás.”

Sem mais palavras.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.