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Lorenzo Carrasco

Lorenzo Carrasco

Transição energética

COP 30 na berlinda

Torre de transmissão de energia. (Foto: Brunno Covello/Arquivo/Gazeta do Povo)

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O retorno de Donald Trump à Casa Branca e a sua mão pesada desfechada contra o aparato montado sobre o alarmismo climático e a “descarbonização” da economia, já no primeiro dia do mandato, deixam cada vez mais claro que a agenda das “finanças climáticas” caminha rapidamente para o esgotamento.

Dirigindo-se por conexão de vídeo à reunião anual do Fórum Econômico Mundial (WEF), em Davos, Suíça, ele jactou-se de acabar com o chamado “Novo Acordo Verde” (Green New Deal) de seu antecessor Joe Biden, rebatizando-o como “Nova Fraude Verde” (Green New Scam).

Sem surpresa, as aflições tomam conta do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a perspectiva concreta do esvaziamento da conferência climática COP30, em Belém (PA), em novembro próximo, da qual a indústria do alarmismo climático espera uma solução definitiva para o financiamento da “transição energética” dos países em desenvolvimento e, no caso do presidente brasileiro, a sua consagração como pretenso estadista global.

O recém-nomeado presidente da conferência, embaixador André Corrêa do Lago já fala num “pacto nacional”: “Precisamos criar um pacto nacional para chegarmos unidos na COP30. O mundo adoraria ficar apontando: olha lá, estão todos lá divididos com relação à COP. Temos de decidir muito a questão da COP entre nós brasileiros para chegarmos maduros”, como disse à CNN Brasil.

Sem dúvida, o veterano diplomata terá que exercer ao máximo as suas habilidades profissionais, na tentativa de estabelecer qualquer tipo de pacto com setores da sociedade que têm sido largamente prejudicados pelos excessos da militância ambientalista-indigenista encastelada no governo federal. Em especial, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima da ministra Marina Silva e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), onde dá as cartas o seu fiel escudeiro Rodrigo Agostinho, parecem cada vez mais obstinados em bloquear atividades vinculadas a empreendimentos econômicos de peso, como o licenciamento ambiental da Margem Equatorial Brasileira, dragagens no rio Paraguai e muitas outras, por motivos meramente ideológicos.

Não será surpresa se a conferência acabar sendo um proverbial tiro pela culatra, tanto para as pretensões do governo Lula, como para a agenda “descarbonizadora”

Outro trunfo com que ele conta para atrair chefes de Estado e de governo, que estiveram virtualmente ausentes da COP29 em Baku, no ano passado, é o que chama o “poder de convencimento” de Lula. Como disse à Globonews, “a gente não pode subestimar o poder de convencimento do presidente Lula. Nós vimos isso no G-20, em que a presença dos chefes de Estado foi absolutamente recorde”.

Além do fato de a cúpula do G-20 ser um evento bem diferenciado, no qual a presença de chefes de Estado e de governo é a regra geral, será preciso aguardar para ver se a lábia presidencial terá condições de se sobrepor ao impulso centrífugo do “Efeito Trump”.

Aliás, o Canadá, outro alvo da verborragia trumpiana, proporciona um bom exemplo das consequências da troca de comando em Washington. Na província de Alberta, a primeira-ministra Danielle Smith se disse pronta a trabalhar com o governo Trump para retomar as negociações para a construção do oleoduto Keystone XL, que foi cancelada por Biden. E o pré-candidato do Partido Conservador às eleições parlamentares que serão realizadas ainda este ano, Pierre Poilievre, já anunciou que se eleito pretende revogar a controvertida taxa sobre as emissões de carbono instituída pelo renunciante Justin Trudeau.

No Brasil, outro desorientado parece ser o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que, em recente entrevista ao portal especializado em energia Eixos, afirmou que o Brasil poderá beneficiar-se do recuo dos EUA na transição energética. “Hoje nós sabemos que o Brasil é a maior potência da pluralidade energética do planeta. Nós temos a oportunidade de nos tornarmos ainda mais fortes, agora que os Estados Unidos dispensaram a transição energética publicamente. Mas acredito que a transição será impositiva e cada vez mais forte com o passar do tempo. Não é uma questão de princípios nem ideologia, ela vai se impor, afirmou o ministro”.

Mas o mais provável é que o mundo real divirja cada vez mais desse otimismo, na medida em que as ondas de choque oriundas dos EUA se espalhem, reforçando a percepção crescente da inviabilidade da badalada “transição energética” como apresentada atualmente, baseada numa substituição acelerada dos combustíveis fósseis por fontes energéticas ditas “limpas”.

O físico e engenheiro estadunidense Mark P. Mills, um dos mais acirrados opositores desse virtual retrocesso tecnológico, apresenta uma oportuna síntese do problema: “Temos evidências do que acontecerá se os Estados Unidos continuarem nesse caminho. Duas grandes economias – a do Reino Unido e a da Alemanha – estão mais adiante no mesmo caminho de ‘transição energética’ que a financiada pela Lei de Redução de Inflação [de Biden].

Embora ambas ainda dependam fortemente de combustíveis fósseis, elas aumentaram drasticamente o uso de energia eólica e solar. O resultado? Nenhuma mudança significativa nas emissões. Mas os custos de energia em geral, e da eletricidade em particular, dispararam e continuam a aumentar em ambas as nações. As limitações do vento e da luz solar significam que ambos os países estão agora sujeitos a choques de preços episódicos e esmagadores. Dados meteorológicos mostram que ‘secas’ de luz solar massivas e de longa duração (dias nublados) ou calmarias de vento podem durar semanas. (Os alemães até têm uma palavra para este último fenômeno, Dunkelflaute, uma das quais está atualmente em andamento).

Quando isso acontece, os preços da energia sobem o suficiente para colapsar empresas e esmagar cidadãos. As economias alemã e britânica não estão apenas acelerando a sua pobreza energética, mas também estão se desindustrializando devido aos altos custos de energia. “Não é de surpreender que a China não tenha perseguido essa agenda de autodestruição econômica e geopolítica. De fato, a China se beneficia enormemente: os gastos ocidentais em equipamentos eólicos, solares e baterias exigem minerais e componentes dos quais a China é o fornecedor dominante.

“A alegação da ordem executiva de Trump, de que ‘o extremismo climático fez explodir a inflação e sobrecarregou as empresas com regulamentação’ é indiscutivelmente verdadeira, especialmente, no que diz respeito às empresas de energia convencional. E vale notar que a esmagadora maioria de toda a energia fornecida à nossa sociedade, para todos os fins, continua a vir de combustíveis convencionais (City Journal, 24/01/2025).”

A combinação dessa percepção em alta com a ressonância do “Efeito Trump” coloca na berlinda a COP30, que já enfrenta não poucos problemas com a infraestrutura deficiente da capital paraense. E não será surpresa se a conferência acabar sendo um proverbial tiro pela culatra, tanto para as pretensões do governo Lula, como para a agenda “descarbonizadora”.

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