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Na terça-feira, 18 de fevereiro, ocorreu uma pitoresca conversa telefônica entre o presidente francês Emmanuel Macron e sua contraparte brasileira, Luiz Inácio Lula da Silva.
O colóquio se deu em meio ao que Macron definiu como “um eletrochoque”, o duríssimo choque de realidade experimentado pelos líderes europeus com a constatação de que os EUA, de Donald Trump, não se mostram mais dispostos a manter o guarda-chuva estratégico e militar do “atlanticismo”. E, basicamente, consideram os europeus como irrelevantes para uma conclusão do conflito na Ucrânia, o que demonstraram com o restabelecimento de um entendimento direto com a Rússia.
Em um esforço para tentar salvar aparências de relevância, Macron organizou às pressas duas reuniões de cúpula em Paris com líderes da União Europeia, que se revelaram um monumental fiasco, sem qualquer decisão conjunta tomada pelos participantes atordoados com o novo cenário estratégico.
Na conversa do dia 18, segundo a nota do Itamaraty, dois temas receberam destaque: o conflito na Ucrânia e a conferência climática COP 30. De acordo com ela:
“Lula expressou sua preocupação com o cenário internacional e reafirmou o compromisso do país com a promoção da paz e com a defesa da democracia. Macron reconheceu a importância da contribuição de atores como o Brasil para a busca de uma solução para o conflito na Ucrânia.
“Os dois mandatários reiteraram a importância de uma solução para a guerra que inclua a participação de todas as partes envolvidas no conflito. Ambos acordaram seguir em permanente contato sobre esse tema.
“O presidente francês também reiterou seu apoio à realização da COP 30, em Belém. Os dois presidentes se comprometeram a discutir uma iniciativa conjunta voltada para ampliar o financiamento climático disponível para países em desenvolvimento, no marco do aniversário de 10 anos do Acordo de Paris.”
No tocante à Ucrânia, a relevância da conversa foi um literal zero, dado o fato de os pesos pesados da arena, EUA e Rússia, terem deixado claro que os europeus não têm nada a fazer nos entendimentos em curso – e nem se fale do Brasil.
Já o novamente reiterado apoio de Macron à conferência de Belém, foi uma manifestação do empenho de ambos os mandatários em revestir de importância um evento que se mostra cada vez mais esvaziado em seu propósito original de consolidar a pauta do “financiamento climático” para a mal concebida e denominada transição energética.
Com o fiasco das duas últimas COPs, em Dubai e Baku, onde o apelo dos combustíveis fósseis se mostrou mais forte e justificado que os delírios dos ambientalistas iludidos, e, principalmente, com o retorno de Donald Trump à presidência dos EUA - onde já iniciou o desmonte das engrenagens tecnocráticas “verdes” que implementavam a agenda climática - a meta pretendida para Belém parece uma miragem cada vez mais distante.
Nesse contexto, a presença de Macron em Belém, contrastando com a praticamente certa ausência dos EUA e outros países de peso, poderá acabar representando para ele um palco internacional
E para Lula, poderá ser um prêmio de consolação para lustrar um evento no qual seu governo deposita tantas expectativas.
Aliás, é por conta de tais expectativas que Lula demonstra tanta tolerância com a “lenga-lenga” do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), e sua agenda de obstaculização sistemática a toda sorte de atividades produtivas, das quais a exploração de hidrocarbonetos na Margem Equatorial Brasileira constitui apenas um exemplo entre muitos.
Apesar de falar grosso em público, não passa por sua cabeça melindrar a sua poderosa ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, para quem é um artigo de fé impedir a expansão da produção de petróleo e gás natural. Como Marina é o cartão de visitas internacional de seu governo, Lula vai engolindo os desafios do Ibama, que nada têm de “técnicos”.
A questão é que as pressões dentro e fora do governo pela concessão da licença ambiental à Petrobras, para o poço exploratório no Amapá, já atingiram o ponto de ebulição e será muito difícil que o órgão ambiental possa prosseguir com as suas chicanas protelatórias.
Assim, qualquer “reforço” externo como o de Macron é muito bem-vindo para as pretensões de Lula, e pode acabar sendo a sua boia de salvação para a conferência de Belém.
Conteúdo editado por: Aline Menezes




