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Luciano Trigo

Luciano Trigo

Estados Unidos

Um prefeito muçulmano em Nova York?

Zohran Mamdani no comício de resistência ao fascismo no Bryant Park, em 27 de outubro de 2024. (Foto: Bingjiefu He / Wikipedia)

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Zohran Mamdani, muçulmano e socialista, será o candidato do Partido Democrata à prefeitura de Nova York. Aos 33 anos, ele conquistou a indicação nas primárias realizadas no final do mês passado, com uma retórica polarizadora e uma plataforma radical, que inclui promessas populistas como o congelamento do valor dos aluguéis. Tudo em nome da justiça social. 

Mas essa ascensão meteórica já está levantando dúvidas, mesmo entre democratas moderados, sobre o impacto da eventual vitória de Mamdani na coesão social, na segurança pública e na economia da cidade. Por exemplo, suas críticas ferozes a Israel e seu apoio a manifestações pró-Hamas são sinais claros de uma visão extremista que não trará nada de bom.

Além disso, Mamdani tem vínculos com os grupos "Students for Justice in Palestine" e "Within Our Lifetime", que já foram acusados de apoiar ou celebrar a violência em protestos contra Israel. Uma vitória de Mamdani poderia aprofundar fissuras internas na sociedade novaiorquina, alimentando o ciclo de radicalização política em uma cidade com uma significativa população judia - e ainda marcada pela lembrança dos atentados de 11 de setembro.

Mamdani vem ganhando espaço com um discurso inflamado contra o sistema capitalista, a polícia, o mercado imobiliário e os bilionários. Embora atraentes entre eleitores jovens e comunidades marginalizadas, suas promessas têm um probleminha: carecem de viabilidade econômica e eficácia prática. Se levadas a cabo, podem transformar Nova York em um laboratório de fracassos, com consequências severas para a população – especialmente para os mais pobres.

Também existem dúvidas sobre a capacidade de Mamdani de administrar um orçamento municipal de mais de US$ 100 bilhões. Críticos, inclusive no esquerdista “The New York Times”, já estão escrevendo que a sua experiência política é "muito limitada" para lidar com os desafios administrativos de Nova York.

Em Wall Street, executivos temem que a eventual vitória de Mamdani provoque uma fuga de capitais e residentes de alta renda. Nova York já enfrenta desafios com a migração de contribuintes ricos para estados com impostos mais baixos, como a Flórida. Propostas como o aumento de impostos poderiam acelerar ainda mais esse êxodo, reduzindo investimentos privados e a geração de empregos na cidade.

Comentarei a seguir algumas propostas do candidato democrata e suas consequências potenciais, caso ele seja eleito.

Congelamento de aluguéis

Promessa: Congelar os preços de aluguéis em imóveis residenciais para aliviar o custo de vida. Proibir que proprietários obtenham lucro com aluguéis. Taxar pesadamente proprietários que deixarem imóveis desocupados por mais de 3 meses. Suspender despejos residenciais, mesmo em casos de inadimplência.

Comentário: Embora pareça atraente para locatários, o congelamento desestimula investimentos no mercado imobiliário, reduzindo a oferta de moradias. Diante de custos crescentes de manutenção e impostos sem aumento de receita, os proprietários tendem a negligenciar a conservação de imóveis e a mantê-los fechados, como já aconteceu em cidades que adotaram políticas semelhantes. A história de Nova York com controles de aluguel mostra que tais políticas podem até beneficiar alguns inquilinos atuais, mas acabam dificultando o acesso para novos moradores.

Essa proposta ignora o papel dos incentivos econômicos. A solução está em incentivos positivos, como benefícios fiscais para aluguel acessível, não em coerção cega. Até porque aluguel não é exploração — é uma forma legítima de investimento. Se o lucro for eliminado da equação, os proprietários simplesmente retirarão os imóveis do mercado, agravando a crise habitacional. Exatamente o oposto do que Nova York precisa.

Por fim, a suspensão dos despejos desestabiliza completamente o direito de propriedade. Proprietários deixam de ter meios legais de reaver seus imóveis, o que também cria um efeito dominó: imóveis fechados, menor oferta e aumento da informalidade. Proteger os vulneráveis não justifica a suspensão pura e simples da lei.

Fragilizar e eventualmente abolir a polícia

Promessa: Cortar drasticamente o orçamento do NYPD (New York Police Department), substituindo policiais por “mediadores comunitários” e “programas de justiça restaurativa”.

Comentário: A ideia de que comunidades podem se autogerir sem auxílio da polícia parte de um idealismo incompatível com o cotidiano urbano de uma metrópole de 8 milhões de pessoas. Nova York já sentiu na pele os efeitos do colapso da segurança pública, nas décadas de 1970 e 1980. O retorno à ordem com políticas mais rígidas de segurança pública nas décadas seguintes salvou milhares de vidas. Dados recentes mostram que áreas com policiamento ostensivo têm índices mais baixos de homicídio e agressão.

Transporte gratuito

Promessa: Tornar os sistemas de ônibus e metrô gratuitos para todos os novaiorquinos, 100% subsidiados pelo Estado.

Comentário: Adotar essa política exigiria bilhões de dólares em financiamento, via aumento dos impostos. A gratuidade pode sobrecarregar o sistema, aumentando a demanda sem qualquer garantia de expansão da infraestrutura. Além disso, o MTA (Metropolitan Transportation Authority) já opera com déficit crônico. Eliminar as tarifas sem um plano sustentável de financiamento — além de incentivar o uso abusivo — comprometeria a manutenção e expansão do sistema. Os custos superam claramente os benefícios.

Aumento de Impostos sobre os Ricos

Promessa: Financiar programas sociais com aumento de impostos sobre o 1% mais rico e as grandes corporações.

Comentário: Aumentar impostos sobre os ricos em Nova York levaria à fuga de capital, como já foi alertado por líderes empresariais, reduzindo a base tributária e a arrecadação. Estudos como os da "Tax Foundation" demonstram que políticas de tributação pesada em grandes cidades podem levar à saída de empresas e indivíduos de alta renda, prejudicando a economia local.

Creches Públicas Gratuitas

Promessa: Implementar creches públicas universais sem custo para as famílias.

Comentário: Creches gratuitas são uma proposta socialmente desejável, mas sua implementação em uma cidade de 8 milhões de habitantes é financeiramente inviável. O custo estimado em Nova York ultrapassaria US$ 10 bilhões, exigindo aumentos significativos de impostos - ou cortes em outros serviços. Além disso, a falta de infraestrutura e profissionais qualificados comprometeria a qualidade do atendimento.

Salário Mínimo de US$ 30 por hora

Promessa: Estabelecer um salário mínimo municipal de US$ 30 por hora.

Comentário: Um salário mínimo de US$ 30 por hora elevaria significativamente os custos trabalhistas para empresas, especialmente as pequenas e médias, que dominam a economia de Nova York. Isso poderia resultar em demissões, aumento de preços ou falências. Aumentos abruptos no salário mínimo costumam reduzir empregos em setores de baixa margem, como restaurantes.

Supermercados populares

Promessa: Criar uma rede de mercados municipais para oferecer alimentos mais baratos.

Comentário: A ideia enfrenta barreiras logísticas e econômicas intransponíveis. Operar mercados competitivos exige expertise que a prefeitura não possui, sem falar nos elevados custos operacionais. Experiências de mercados estatais em outros países, como a Venezuela, mostram problemas recorrentes de abastecimento e ineficiência. A proposta também desestimula a operação das redes privadas de supermercados, reduzindo as opções para consumidores.

Criação de "assembleias populares vinculantes" por bairro

Proposta: Substituir parcialmente sa atuação de vereadores por conselhos populares com poder de veto a decisões públicas.

Comentário: Essa é uma forma velada de deslegitimar a democracia representativa e institucionalizar o ativismo radical. A experiência demonstra que assembleias populares tendem a ser capturadas por grupos ideológicos organizados, sem qualquer transparência, responsabilização legal e mecanismos de prestação de contas.

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