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Uma breve história do Foro de São Paulo – Final
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Para quem leu o primeiro e o segundo artigos desta série, deve ter ficado claro que o crescimento das esquerdas na América Latina na primeira década do século 21 esteve diretamente associado à adoção de uma estratégia de guerra cultural, de inspiração gramsciana. Em seus “Cadernos do cárcere”, Antonio Gramsci, fundador do Partido Comunista Italiano, teve uma iluminação: a transformação da sociedade nos países da Europa ocidental não se daria pela força, como acontecera na Rússia, mas por meio do lento e persistente ataque aos valores que serviam de alicerce à civilização ocidental. Este processo ainda está em curso.

Gramsci inverteu assim o postulado de Marx de que são as relações econômicas que determinam as condições da vida em sociedade – e, portanto, qualquer projeto revolucionário que se preze deve focar na economia, não na cultura. Para o pensador italiano, são as ideias e valores dominantes que determinam as relações sociais e econômicas: estas só mudarão quando novos valores e ideias forem incutidos na cabeça das pessoas, de forma a eliminar qualquer resistência moral à revolução.

No lugar de “Mude a economia, a cultura virá a reboque”, Gramsci propôs: “Mude a cultura, a economia virá a reboque”. Daí a sua célbre recomendação aos militantes de esquerda: "Não tomem quartéis, ocupem escolas e universidades. Não ataquem blindados, ataquem ideias."

Já na década de 1930 Gramsci entendeu que controlar as universidades e os meios de comunicação seria a melhor estratégia para fazer a sociedade se acostumar com a ideologia socialista. A criação, no nível mental e simbólico, de uma nova hegemonia, de um novo conjunto de crenças e valores, seria assim uma premissa necessária para a revolução.

Paradoxamente, quem se ausentou do (e subestimou o) debate sobre valores e costumes, que estava originalmente no cerne da sua identidade política, foi a direita, que fez o movimento inverso: passou a se preocupar apenas com questões econômicas. Durante décadas, mesmo fora do poder, a esquerda encontrou assim território livre para doutrinar, catequizar e conquistar os corações e mentes dos jovens, geração após geração, com a conivência e a omissão do centro e da direita, aparentemente conformados com a apropriação pela esquerda de bandeiras como justiça social, idealismo e ética.

Isso aconteceu até mesmo nos Estados Unidos, onde o meio acadêmico foi totalmente ocupado pela esquerda (tema do livro “Lavagem cerebral”, de Bem Shapiro, resenhado aqui): já há décadas, as grades curriculares dos cursos de ciências humanas são dominadas por estudos de gênero, estudos de raça, estudos feministas etc, todos vinculados à mesma agenda de destruição de valores e solapamento dos alicerces da sociedade americana. Foi esse ambiente de hegemonia da esquerda nos campi e meios de comunicação, aliás, que tornou possíveis fenômenos como os Antifas e o movimento Black Lives Matter.

O terceiro ciclo do Foro de São Paulo

O declínio dos partidos de esquerda na América Latina a partir de 2010 se explica mais pelo fato de que mentiras não se sustentam por muito tempo do que por qualquer reação relevante do centro e da direita. No Brasil, particularmente, o fracasso na condução da economia ficou patente no desastroso Governo Dilma: tão determinante para o impeachment quanto os escândalos de corrupção e os crimes de responsabilidade efetivamente cometidos foi a extrema incompetência da "presidenta" na gestão econômica, explicitada imediatamente após o estelionato eleitoral cometido na campanha de 2014.

Ao longo da década, a onda bolivariana foi perdendo força, e no final de 2019 só quatro países do continente eram governados por partidos associados ao Foro de São Paulo: Cuba, Nicarágua, México e Venezuela. Mas, nos últimos anos, o pêndulo voltou a se movimentar a favor da esquerda, com a vitória do kirchnerismo na Argentina e, na Bolívia, o êxito do partido MAS, de Evo Morales, na eleição de 2020.

Mas o que ficou claro no terceiro ciclo do Foro de São Paulo é que sucessivos fracassos eleitorais levaram a esquerda a apostar na desestabilização e sabotagem dos governos eleitos – e há quem afirme que esse movimento inclui ações violentas financiadas pelo narcotráfico.

A esquerda sempre aposta no "quanto pior melhor", porque o caos a favorece - e lhe permite associar a direita ao aumento da violência. Mas, vejam só, foi no governo Dilma que o número de assassinatos bateu recordes sucessivos no Brasil, até chegar ao número absurdo de 61,6 mil mortes violentas em 2016, pessoas pobres em sua imensa maioria. Já no primeiro ano do Governo Bolsonaro, os homicídios tiveram queda recorde, despencando para 41,6 mil. Mas na narrativa da grande mídia, a violência diminui nos governos de esquerda e aumenta nos governos de direita.

Em julho de 2019, o jornal “Diario de las Américas publicou uma reportagem intitulada “El Foro de São Paulo hace una alianza estratégica con el Cartel de los Soles”. O Cartel é uma organização clandestina formada por militares de alta patente do Exército venezuelano, dedicada ao narcotráfico e outras atividades ilícitas.

Um resumo da ação do cartel de los Soles é apresentado no vídeo abaixo:

Segundo a reportagem, recursos do Cartel de los Soles foram oferecidos ao Foro em uma reunião em Havana, em maio daquele ano. No 25º Encontro do Foro, realizado em Caracas em julho, Nicolás Maduro e Diosdado Cabello, número 2 do Chavismo, teriam sugerido a realização de protestos violentos em vários países da América Latina, com o propósito de estimular convulsões sociais e desestabilizar os governos de direita. Poucos meses depois, eclodiram manifestações simultâneas no Equador (com 10 mortes e mais de 1.000 feridos), no Chile, na Bolívia e na Colômbia.

No Chile, desde que a esquerdista Michelle Bachelet foi derrotada nas urnas, igrejas são periodicamente vandalizadas e incendiadas, e estações do metrô são destruídas com técnicas que sugerem a atuação de milícias estrangeiras, com treinamento em guerrilha, o que aliás já foi cogitado por organismos internacionais. No Brasil, no primeiro semestre de 2020, houve um ensaio da volta dos black blocs, tema que abordei neste artigo.

Coincidência?

A pandemia, uma aliada do Foro

Desde o início da tragédia humanitária provocada em todo o planeta pela pandemia de Covid 19, a esquerda enxergou no sofrimento e nas mortes em escala industrial provocadas pelo coronavírus uma janela de oportunidade. A pandemia foi, seguramente, um dos fatores decisivos para a derrota de Donald Trump na última eleição americana (ao lado dos protestos provocados pelo assassinato de George Floyd).

Na verdade, quanto mais mortes e sofrimento, melhor para a esquerda - que, de forma oportunista, faz da dor alheia pretexto para sabotar e destruir adversários. É por isso que, ao longo dos últimos meses, semana sim, semana não, a esquerda, com apoio velado ou não tão velado da grande mídia, tenta encontrar um novo pretexto para derrubar o Governo de Jair Bolsonaro.

Mas a politização da pandemia com propósitos golpistas não colou, pelo menos até agora. Ao contrário, o presidente, por motivos diversos, vem demonstrando contar com uma base de apoio popular que se mostra indiferente aos erros cometidos e à persistente sabotagem da mídia (como analisei no artigo “A resiliência de Bolsonaro”).

A recente vitória do governo na eleição dos presidentes do Senado e da Câmara foi outro balde de água fria na oposição golpista, mas Bolsonaro não terá sossego. Como ele próprio afirmou em post no Twitter em outubro de 2019: “O Foro de São Paulo está mais vivo do que nunca!” No vídeo inserido no post, o ditador Nicolás Maduro declara:

“Todas as questões que foram propostas no Foro de São Paulo nós estamos cumprindo uma por uma. A união dos movimentos populares, progressistas, revolucionários, nacional de toda a América Latina e o Caribe e do mundo.”

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