Os deputados e senadores gastaram R$ 3 milhões com aluguel de aviões e combustível para suas aeronaves durante a pandemia – dinheiro suficiente para comprar 60 mil doses de vacina. O líder da gastança foi o senador Ciro Nogueira (PP-PI), hoje ministro-chefe da Casa Civil do governo Bolsonaro. Ele torrou R$ 432 mil com combustível para aeronaves. O deputado Sidney Leite (PSD-AM) gastou R$ 420 mil com o aluguel de aeronaves. Átila Lins (PP-AM) aplicou R$ 203 mil em aluguel de aviões. Mas quem pagou tudo, na verdade, foi o contribuinte.
Ciro gastou R$ 1,5 milhão com combustível para aviões desde 2011, mais R$ 1 milhão com fretamento de aeronaves, como mostrou reportagem do blog. Os aluguéis de aeronaves por Sidney Leite custaram R$ 279 mil em 2020 e R$ 142 mil neste ano. Ele esteve em Tefé e Japurá no dia 11 de junho deste ano, onde visitou obras e instalações públicas, além de anunciar emendas de sua autoria para financiar obras. O aluguel do avião Caravan custou R$ 36,5 mil. Em 4 de junho, já havia estado em Humaitá, Manicoré e Matupi. Mais R$ 42 mil na conta do contribuinte.
Os dados sobre os deputados foram levantados pelo blog no site do instituto Operação Política Supervisionada, que fiscaliza as despesas dos parlamentares feitas com a cota para o exercício do mandato.
No “abrandamento” da pandemia
O deputado Átila Lins (PP-AM) gastou R$ 99 mil em 2020, após a chegada da pandemia, e R$ 104 mil neste ano com fretamento de aeronaves. Em 11 de novembro do ano passado, pagou R$ 26 mil pelo trecho Manaus/Itamarati/Manaus. Em 17 de julho deste ano, esteve em Caapiranga para participar da entrega simbólica de mil cestas básicas adquiridas pela prefeitura municipal. Também passou por Beruri, onde entregou mais cestas. O aluguel do avião Caravan anfíbio custou R$ 16 mil.
O deputado afirmou ao blog que, em 2021, “com o abrandamento da pandemia, que, não obstante, causou sérios transtornos ao Amazonas no início do ano”, voltou a cumprir agenda no interior do estado, “sempre obedecendo os protocolos sanitários, como o uso de máscaras e o distanciamento social”. Na verdade, em 30 de abril, quando Lins fez a primeira viagem no ano, para Codaias (AM), num hidroavião turbohélice, a média diária de mortes no país estava em 2,6 mil.
Silas Câmara (Republicanos-AM) concentrou seus voos em 2020. As despesas chegaram a 206 mil, sendo R$ 123 mil após o início da pandemia. Uma das viagens mais caras foi para Eirunepe, em agosto, no valor de R$ 32 mil. Houve um voo mais dispendioso, de R$ 49 mil, em dezembro, mas essa nota fiscal não está disponível.
Os voos fretados dos senadores
Os senadores também fretaram aviões durante a pandemia. Randolfe Rodrigues (Rede-AP), vice-presidente da CPI da Covid, alugou um avião para de deslocar da Macapá para Laranjal do Jari, em 8 de maio, quando a média diária de mortes ainda era de 2,1 mil. Visitou obras de passarelas em áreas alagadas e participou da entrega de quase 5 mil cestas básicas para a população vulnerável. O voo para o aeroporto Monte Dourado, em Almeirim (PA), próximo a Laranjal do Jari, custou R$ 8,9 mil.
O senador foi questionado pelo blog por que não viajou de carro, já que a distância era de 270 km. O senador afirmou que o trecho não é totalmente pavimentado, sendo percorrido em mais de seis horas, principalmente no período mais chuvoso. Randolfe salientou que esse foi o seu único fretamento no ano e destacou que está trabalhando também como vice-presidente da CPI, “agenda que está diretamente ligada a vida de milhões de brasileiros e brasileiras”.
Randolfe acrescentou que, de janeiro a agosto deste ano, mesmo morando num dos Estados em que a passagem para Brasília é das mais caras do país, utilizou R$ 193 mil da cota para o exercício do mandato, o “cotão”, deixando de desembolsar R$ 170 mil que teria direito (usou 53% da verba).
Voos “imprescindíveis em uma democracia”
No período da pandemia, o senador Ângelo Coronel (PSD-BA) fez 14 voos em aviões fretados da Alphajets Taxi Aéreo, num valor total de R$ 60 mil. Nos poucos voos em que há a descrição da rota, o trecho é entre Brasília e Salvador. Questionado pelo blog se não seria um exagero essa despesa em tempos de crise sanitária e fiscal, a assessoria do senador argumentou que as normas da casa estabelecem o valor de R$ 15 mil por mês para deslocamento por transporte aéreo.
“Dessa forma, o valor apontado pelo senhor está muito abaixo do que foi disponibilizado pelo Senado Federal e representa a preocupação do Senador com a economia dos gastos públicos”, diz nota do gabinete. “Todos os deslocamentos foram para o cumprimento das atividades parlamentares como senador da República, imprescindíveis em uma democracia, inclusive, em momentos de crise sanitária, econômica e fiscal”, seguiu a nota.
O senador Zequinha Marinho (PSC-PA), gastou R$ 40 mil com fretamento da aeronaves em janeiro, março e agosto deste ano. Esteve nos municípios de Almeirim, Ourilândia, Marabá e Novo Progresso. Não respondeu aos questionamentos feitos pelo blog.
Você paga o combustível dos aviões
Além de alugar aviões, os senadores também costumam abastecer o próprio avião com a verba do “cotão”. O campeão disparado dessa gastança é Ciro Nogueira, que também gastou muito com viagens internacionais nos últimos anos. Mas o senador Acir Gurgacz está lutando muito pelo título. Ele costuma ir para o trabalho no seu avião, com o combustível por conta do contribuinte. Fez abastecimentos em Ji-Paraná (RO), onde mora, Porto Velho, Goiânia e Várza Grande (MT). O blog questionou o senador sobre os voos para fora do estado e perguntou se essa gastança não seria um exagero em tempo de crise sanitária e fiscal. Não houve resposta.
Jayme Campos (DEM-MT) gastou R$ 54 mil com combustível para aviões no mesmo período. Wellington Fagundes (PL-MT), mais R$ 46 mil. A senadora Eliane Nogueira (PP-PI), que assumiu o mandato na vaga do filho Ciro Nogueira – uma tradição do Senado – já torrou R$ 14 mil com combustível para aviões à turbina. Mãe e filho não responderam aos questionamentos do blog.
Plano do governo Lula para segurança tem 5 medidas que podem aumentar a criminalidade
Poderes chegaram a “consenso possível” para impasse sobre emendas, diz Barroso
Barroso ameaça banir as redes sociais no Brasil; acompanhe o Sem Rodeios
Justiça Eleitoral de São Paulo nega pedido de cassação de candidatura de Boulos
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS
Deixe sua opinião