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O que aconteceu na semana após a morte de Charles Kirk pode ser considerado um marco no movimento cívico e espiritual que transcende os Estados Unidos. Nos EUA, o número de vigílias, missas e postagens online, todas em homenagem a Charlie, chegou a impactar várias nações. O que está acontecendo? É um retorno aos valores do Cristianismo? É um levante político? Na verdade, é algo mais amplo. Estamos vendo o surgimento do movimento Neo-Romântico.
Nunca foi tão necessário revisitar o que foi o Romantismo, sem o filtro doutrinário do Positivismo e do Modernismo, e após a infiltração da esquerda militante nas escolas e universidades.
O que foi o Romantismo?
Em resumo, foi um movimento de valores, pensamentos e comportamentos que surgiu em contraposição ao Neoclassicismo, que abrigava as ideias iluministas. Enquanto o Iluminismo valorizava o homem, a razão, a tecnologia, a ciência e o progresso acima de tudo, o Romantismo exaltava a ordem natural, a fé, o mistério, a emoção, a natureza e a tradição como valores superiores.
O Romantismo teve impacto na literatura, nas artes, na filosofia, nas famílias, nas sociedades e na política, e compunha o ethos da sociedade conservadora nos séculos XVIII e XIX, que despertou com o horror gerado pelas revoluções iluministas.
Na literatura e na música
Obras como As Dores do Jovem Werther, de Goethe, de 1774, que narra a intensa paixão de um jovem artista, capturaram a essência do individualismo e da emoção. O impacto de Werther foi tão profundo que desencadeou uma onda de identificação, simbolizando a transição do racionalismo iluminista para a valorização da emoção e da natureza.
A essa obra seguiram-se Frankenstein, de Mary Shelley, na Inglaterra; O Corcunda de Notre-Dame, de Victor Hugo, e As Flores do Mal, de Charles Baudelaire, na França. Na música, surgiram expoentes como Beethoven, Chopin, Verdi e Wagner.
No Brasil, o Romantismo começou oficialmente em 1836, com a coletânea Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães. Outros poetas românticos elevaram o movimento, como Castro Alves, Álvares de Azevedo e Casimiro de Abreu; e, na prosa, José de Alencar, Joaquim Manuel de Macedo e Machado de Assis, cuja obra muitos professores de literatura insistem em encaixar no Realismo.
Compositores como Heitor Villa-Lobos e Carlos Gomes incorporaram elementos românticos em suas obras, assim como pintores como Pedro Américo e Almeida Júnior, que retrataram temas da natureza e da vida nacional, criando o conceito de identidade nacional, como mencionado à época pelo crítico literário Sílvio Romero.
Essas obras e seus autores foram fundamentais para a consolidação do Romantismo, refletindo as emoções humanas e as experiências individuais de maneira intensa e inovadora.
Sinais dos tempos: Essa foi apenas uma introdução informativa para recuperar a memória dos bancos escolares. O que você não sabia — porque seu professor não ensinou — é que o tempo não corre como uma linha em que os movimentos se diversificam em características aleatórias, mas se repete como uma espiral em que as ideias são retomadas em diferentes momentos.
Assim foi: a Idade Média chegou ao fim com a Renascença, entre os séculos X e XIV; a Renascença cedeu lugar ao Barroco, entre os séculos XIV e XVI; o Barroco foi substituído pelo Neoclassicismo, entre os séculos XVI e XVIII; o Neoclassicismo (pai do Iluminismo) encontrou seu maior rival no Romantismo, do final do século XVIII até a metade do XIX. E não parou por aí...
O Romantismo abriu espaço para o Realismo, da metade do século XIX até o início do XX; do Realismo veio o Modernismo, característico do século XX, com todas as suas fases subsequentes até chegarmos ao fatídico Pós-Modernismo, do final do século XX até hoje. Este último transformou cascas de banana em “arte” e precisa ser substituído urgentemente.
Saturno engole seus filhos, como na obra de arte de Goya e está na hora do Pós-Modernismo virar refeição.

Neoclassicismo versus Romantismo, destruição versus construção
Voltando um pouco no tempo, há um abismo profundo entre o Neoclassicismo e o Romantismo que veio a seguir, a ponto de destruir e reconstruir nações e povos.
No Neoclassicismo houve resgate dos valores greco-romanos e pagãos, assim como de ideias radicais que pautaram ações como as da Revolução Francesa, ápice do pensamento iluminista, que matou não apenas pessoas inocentes, mas também símbolos do antigo regime que sustentavam os valores europeus.
No Romantismo, o ser humano deixa de ser o centro e volta-se novamente para Deus, colocando em suas mãos, em oração e adoração, aquilo que não poderia ser resolvido por si, individual ou coletivamente.
O Neoclassicismo imitou obras clássicas; o Romantismo inovou, assim como o fez o Barroco. O Neoclassicismo matou o passado para criar um presente via revolução; o Romantismo incorporou o passado medieval como aprendizado para um legado futuro. O Neoclassicismo moldou a realidade de acordo com utopias; o Romantismo deixou-se guiar pela tradição histórica e religiosa.
O homem do Neoclassicismo considerou-se, mero ser humano, o centro de todas as coisas. O homem romântico sabia, humilde que era, que há uma ordem natural que conduz tudo.
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Romantismo na política
O Romantismo não foi um movimento político, mas uma corrente de valores que impactou a política. Em 1815, no Congresso de Viena, organizado por Metternich, as cabeças pensantes definiram o mapa da Europa e o propósito de seus reinos, para restabelecer a ordem e a paz a partir de valores tradicionais.
A Revolução Francesa demonstrou aos povos da Europa como o racionalismo iluminista gera caos e horror. O apoio popular ao retorno ao tradicional era muito mais forte que o fervor revolucionário da época, e foi isso que eventualmente prevaleceu.
A história não explica por que, depois da Revolução Francesa e do ilegítimo império de Napoleão, a monarquia dos Bourbon voltou a reinar na França, com Luís XVIII.
O Congresso de Viena foi um grande sucesso, pois, embora a Europa tenha sofrido levantes populares violentos ao longo do século XIX, a paz entre os países europeus só foi rompida com a Primeira Guerra Mundial, quase 100 anos depois.
Portanto, o Congresso de Viena, permeado de valores do Romantismo, criou uma estabilidade secular no continente europeu.
Pós-Modernismo já vai tarde
O correspondente contemporâneo do Neoclassicismo é o execrável Pós-Modernismo, que dura há pelo menos 50 anos, desde o século XX, com a revolução sexual e tecnológica, turbinada pela Internet e pela Inteligência Artificial.
Foi a continuidade do movimento Modernista que enfeiou a arte e as cidades, banalizou o pensamento e a literatura em sentido amplo, subverteu o olhar, os ouvidos e confundiu a juventude — que já não é tão jovem assim. Gente que envelheceu mal e ainda está na esquerda revolucionária ou no Centrão, vendendo-se e vendendo nosso futuro.
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Neo-Romantismo
O que vivemos neste século é um resgate do pensamento filosófico romântico, desencadeado a partir do assassinato do jovem mártir Charles Kirk, pois muito do que ele pregava estava em sintonia com os valores do Romantismo, trazendo luz ao que os românticos defendiam: o homem cavalheiro, herói e protetor da família, da pátria, guiado por Deus.
Kirk resgata o valor dos pais fundadores dos Estados Unidos, que eram ao mesmo tempo conservadores e sábios; segue o pensamento da ordem natural das coisas, com estabilidade social, e era voltado à paixão e à emoção em sua relação com a esposa e os filhos.
Temos o início claro de um movimento Neo-Romântico, em reação ao progressismo, à hipertecnologia e à desumanização pela utopia dos Estados tirânicos
Essas tiranias, a exemplo do século XVIII, buscaram realizar engenharia social para que a população esquecesse seus mitos, quem foi, quem é e quem seria no futuro.
Por isso, acredito que novos ventos anunciam um novo ciclo. Já mencionei esse modelo de ciclos em colunas anteriores, mas não com uma força tão evidente como agora, em que o gatilho da morte trágica de Charles Kirk encarnou o movimento que já estava em curso.
O Neo-Romantismo que hoje se apresenta abrange mais que um continente, transcende e se expande pelo mundo. Somos testemunhas do início desse processo. Sim, estamos prestes a ver, no presente, a inacreditável beleza que ocorreu no passado, não só no pensamento filosófico, mas também nas artes plásticas, na literatura, no teatro, na poesia e na música, quando as sociedades floresceram e se ergueram de tal maneira que geraram grandes inovações e obras de arte, demonstrando o que é de fato aspirar a algo superior.
Estamos prestes a reviver esse período áureo de maneira nova, meus amigos. Mais que uma esperança, é uma constatação.




