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Muitos estão me perguntando sobre como a opinião pública pode se mobilizar para fazer grandes mudanças. A questão, no entanto, seria: como a opinião pública está formando sua opinião? Alguns segmentos da direita acreditam que precisamos engajar a população em geral, mas é necessário antes entender dois pontos.
Primeiro, quais são as camadas que permitem que as pessoas sejam “engajáveis”; segundo, em que medida a mídia afeta a sociedade, cujo perfil foi determinado há pelo menos dez anos, sem nenhum reforço novo de influência.
Elite de consciência: busca informação, é independente e, por isso, formadora de opinião. São pessoas que procuram novidades, lançam tendências e fazem análises de forma autônoma. Sempre que surgem novas ideias, são as primeiras a adotá-las, pois essas visões já correspondem a muitos de seus anseios.
Independentemente de algum canal apoiar ou não, essa elite valida as novas ideias que estão no início de divulgação. Essa perspectiva no marketing é chamada de early adopters, aqueles que adotam um produto ou serviço mais cedo, pois não estão esperando uma reação dos demais.
Early followers: são aqueles que seguem imediatamente uma ideia, pois o interlocutor principal é um influenciador, alguém com respaldo e credibilidade no segmento. Se tal influenciador enviar uma mensagem definitiva, o seguidor acaba aderindo, mesmo sem muita análise e comparação com outros canais, simplesmente pelo fato de se identificar de forma muito próxima.
Este early follower pode ser um seguidor, mas se destacar como líder, pois ele também exerce influência nas camadas de engajamento mais distante. Trata-se de um elemento importante por sua capacidade de influência, ao menos dentro de seu círculo de amigos e familiares.
Inertes: é o grupo dos influenciáveis, que está inerte às novas ideias. Ele não busca novidades nem segue lideranças e costuma ter muito contato com ideias políticas de qualquer natureza. Entretanto, sua estagnação pode se transformar em ação quando a situação é de impasse e requer sua opinião ou posicionamento. O influenciável acaba tomando decisões com base em vários canais; e os canais mais comuns são os dos influenciadores e de seus seguidores.
Entretanto, o inerte também está aberto às opiniões da mídia tradicional ou se influencia pelo convívio com colegas em clubes, escolas, universidades e trabalho. São canais mais poluídos; por isso, a formação de opinião dos inertes é mais complexa, pois estão suscetíveis a um volume muito grande de informações, tanto certas como erradas. Provocado, ele demora a se mobilizar. Ao mesmo tempo, o inerte tende a adotar o lado errado, a depender do número de canais que veiculam a informação equivocada.
Essa é a maior base política, de apoio e de formação de opinião, e todos querem que o inerte lidere, mas ele é o que menos tem condições pessoais, pois é o mais confuso. É notável o discurso da direita, indignada com a população em geral. As frases mais comuns são: “quando o povo vai acordar?” “quando o brasileiro vai reagir?”. Nunca.
Os inertes são os últimos a se mobilizarem. Portanto, não adianta depender dessa camada para construir qualquer mudança. O importante é entender como a opinião pública funciona e seus mecanismos de influência para que possamos agir de maneira contundente, por meio de volume de informações.
O maior inimigo de qualquer movimento ideológico é o ruído, criado pela imensa variedade de canais de informação a que uma pessoa tem acesso; por isso, a militância tem que ser forte e coesa na mensagem
Esse é o melhor canal que temos até agora; os demais simplesmente não pertencem à direita: universidades, mídia, escolas, grupos de trabalho e agremiações políticas e sociais, todas elas já têm um viés de pensamento de esquerda.
Mesmo diante dessa realidade, os canais da esquerda estão se esvaziando, e os da direita e de seus seguidores estão angariando poder de influência muito maior. É importante ter confiança nesse processo de engajamento.
Em artigo anterior a este, na Gazeta do Povo, mencionei a questão da influência da mídia, que vale a pena ser aprofundada. Como ela se segmenta na esquerda e na direita, lidando com líderes, seguidores e inertes? Temos hoje também três grandes segmentos de mídia para formação de opinião de pública:
Direita: segmento que está crescendo na opinião pública; muitos dizem ser majoritário. Provavelmente sim, mas ele não é totalitário, isto é, ainda há espaço para outros grupos.
O segmento da direita é dependente das redes sociais, em que a comunicação flui pessoa a pessoa, e nesse meio há tanto influenciadores como seguidores, que também, como mencionei, são lideranças e formadores de opinião. Esses dois níveis estão intrinsecamente ligados à direita.
Confusos: pessoas que recebem informações da mídia tradicional, um tipo de canal que perdeu relevância, mas não a capacidade de gerar ruído. Em que pese estarem ativos, tais canais são ocos de conteúdo e conseguem, por meio de difusão de ideias falaciosas e contrárias às das redes sociais, causar confusão mental em eleitores alheios à imprensa livre.
E por que isso acontece? A grande mídia já trabalha para o governo, que a financia. Seu potencial de confundir tem como alvo o inerte, que não busca a informação. Ela não exerce poder sobre o cidadão que procura o conhecimento e a verdade. Formar opinião nas redes sociais requer muito trabalho sério e investigativo; não é “copiar e colar” de releases de agências do governo.
De qualquer modo, não é tão fácil acessar informações e se definir dependendo apenas das redes sociais, mas é possível, e é o que acontece. Receber informação passada e mastigada através de jornais, rádio e TV no sofá de casa é bem mais confortável, sem dúvida.
A preguiça e a passividade resultam no ser humano confuso, que ainda pode ser salvo pelos seguidores e produtores de conhecimento de seu círculo social. O bate-papo no botequim é um, o que ele assiste na TV é outro; não há como equilibrar-se.
Como diz o velho ditado, quem tem dois relógios nunca sabe que horas são. Apesar de terem vários relógios, felizmente muitos inertes deixaram de ser convencidos e doutrinados pela mídia tradicional.
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Extrema esquerda: tem seus influenciadores digitais e seus seguidores, mas em menor número e em menor escala de influência. Dependem mais de jornais, editoriais e informações do governo e de agências de estado, porque hoje eles comandam esses canais oficiais.
O direcional de sua ideologia já é institucionalizado e faz parte do estado brasileiro, praticamente, e por isso são mais propensos a acreditar nas narrativas criadas pelos meios tradicionais.
Essa esquerda também entende que essas narrativas são apenas uma versão, e, mesmo não sendo completa e honesta, ela é necessária para um constante e infinito processo revolucionário contra uma sociedade constituída através da ordem natural.
São revolucionários eternos, geração após geração. É uma perda de tempo tentar influenciar este terceiro grupo, pois sempre serão uma resistência contra o movimento de desmonte do estado socialista, criado pela esquerda de tempos imemoriais.
Missão clara da direita: O grupo de direita já entendeu que tem uma missão profunda a ser realizada de reforma política, econômica e social que deve ser feita no Brasil. O confuso é que precisa deixar de sê-lo para tornar-se esclarecido e advogar pelas causas reformistas. Ele é o alvo do ativismo.
E como atingi-lo? Acredito que somente com mais coesão dos influenciadores e de seus seguidores. Ainda há muito ruído dentro da direita sobre o que ela realmente quer. A direita tem amplitude, mas sua agenda não está clara, diferente da esquerda, que está mais institucionalizada e criou essa coesão no passado, há mais de 30 anos. Aliás, as ideias da esquerda não mudam há 100 anos; só foram refinadas com táticas remodeladas, mas seus objetivos continuam praticamente os mesmos.
A direita precisa, nessa ordem, definir seus objetivos e as estratégias para alcançá-los. Quem me acompanha sabe que meus objetivos pessoais passam por uma nova Constituição e pelo Plano Brasil. Faço questão de reiterar esses dois instrumentos que podem garantir a coesão que o nosso movimento precisa.
Em vez de divisão, precisamos trabalhar em torno de objetivos comuns, e esse fórum de coesão ainda não foi criado. Pela internet ou presencialmente, ele precisa acontecer, e sigo minha missão com cada vez mais adesão. Entretanto, mesmo quem adere necessita de um próximo passo, que ainda não foi dado: uma direita coesa para desmontar a agenda da esquerda.




