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Demitido por defender pedófilos, professor é contratado para defender crianças
| Foto: YouTube

Filiado a uma das universidades de maior prestígio no mundo, a Johns Hopkins, o Moore Center para a Prevenção do Abuso Sexual Infantil enfrenta um escândalo. Recentemente, anunciou a contratação de Allyn Walker para o cargo de pesquisador PhD. Trata-se do autor do livro "A Long Dark Shadow: Minor-Attracted People and Their Pursuit of Dignity", em tradução livre: Uma Longa Sombra Escura: Pessoas Atraídas por Menores e sua Busca por Dignidade.

Não é preciso nem mergulhar no tema para imaginar o tamanho do problema. Um centro de prevenção de abuso sexual talvez não seja o melhor lugar para acolher pesquisas de alguém que conseguiu uma demissão depois de uma entrevista em que defendeu pedófilos. O podcast da Fundação Prostasia saiu do ar logo depois dessa.

A fundação já enfrentava seus problemas. O linguista da Universidade de Suwon, na Coreia do Sul, Alaric Naudé, havia feito um paper levantando questões muito delicadas. Segundo o que ele pretendia publicar em The British Journal of Sociology and History, a linguagem utilizada pela Prostasia revela uma agenda escondida.

O nome do artigo proibido é eloquente: "Um estudo de caso via análise sociolinguística da organização secreta pró-pedofilia registrada como instituição de caridade de proteção à criança". A Fundação Postasia é registrada como uma entidade de proteção contra o abuso sexual infantil e pela positividade sexual, mas toda a polêmica gira em torno dos termos utilizados para se referir a pedófilos e abusadores.

Pedofilia é um tema perturbador em todos os sentidos. Há duas formas em que a manipulação do debate favorece criminosos e extremistas políticos. A primeira é dar outro nome à pedofilia, algo mais "light", como "pessoas atraídas por menores". A outra é confundir pedofilia com abuso sexual infantil. Explico quem se beneficia com cada uma das distorções que ameaça crianças.

É muito comum você ver as duas coisas enfiadas no mesmo balaio. Isso é bastante útil para campanhas políticas sensacionalistas de quem não tem o que mostrar, principalmente candidatos novatos ao poder legislativo, nacional ou estadual. Até vereador já vi usando. Eles fingem que as duas formas de manipulação são uma só para você sentir revolta e medo, então se apresentam como quem vai resolver. Só que não está na alçada deles resolver nada disso.

Abuso sexual infantil é cometido, na maioria das vezes, por gente que é só bandida mesmo. A quase totalidade dos casos é de familiares e conhecidos da criança, alguns inclusive como forma de vingança entre adultos. Não é atração sexual, não é um crime de sexo, é tortura, humilhação e crueldade. Por que então o criminoso diria que é pedófilo? Para tentar um alívio de pena. Às vezes cola.

Por isso é importante não cair nessa conversa. Eu explico detalhadamente neste artigo como funciona essa manipulação e como dar a esses criminosos o tratamento que merecem. Pedófilos jamais têm relações sexuais com adultos. São raríssimos, perigosos e são pedófilos ainda que jamais tenham cometido nenhum delito. O simples fato de sentir atração por uma criança já é pedofilia e um desvio catalogado.

Aqui no Brasil se fala muito de castração química como pena, mas não é o uso mais comum desse tipo de medida judicial na Europa e Ásia. O mais comum é que pessoas diagnosticadas como pedófilas optem voluntariamente pela castração química para evitar a possibilidade de cometer crimes. Se tiverem relações sexuais, será inevitavelmente com crianças. É esse pessoal que o tal professor agora contratado considera "oprimido".

A primeira manipulação consiste em confundir essas pessoas diagnosticadas como um desvio comprovado com criminosos comuns. Por quê? O criminoso comum vai pedir um laudo psiquiátrico dizendo que pode ser pedófilo, sendo que não é, teve diversos relacionamentos com pessoas adultas a vida inteira. Obviamente não vão achar pedofilia. E daí não importa porque pedofilia não reduz a pena de estupro. Vai que acham algum outro desvio psiquiátrico que reduz. Não é incomum em laudos particulares.

A outra manipulação é essa de catalogar o pedófilo, este que só sente atração sexual por crianças, como um "oprimido". Daí se passa a outro pulo, que é classificar a pedofilia como um tipo de "orientação sexual". Esse processo inicia com uma mudança de linguagem, precisamente o que estudava o professor da Coreia do Sul. Em vez de pedófilo, é "pessoa sexualmente atraída por menores".

"Ouvi sobre essas experiências e como os PAMs (pedófilos) frequentemente ficavam assustados quando percebiam que tinham essa atração. Eles são bastante difamados universalmente. Embora eu não seja um PAM (pedófilo), eu mesmo sou queer, e por isso também passei por experiências e percebi que tenho atrações que muitas pessoas não entenderiam, e que algumas pessoas acham imorais. E essas experiências realmente moldaram quem eu me tornei. E então eu meio que simpatizo com essas experiências, e eu queria aprender mais", disse Allyn Walker no podcast.

A parte mais problemática e que levou ao seu desligamento do departamento de Sociologia e Justiça Criminal da Old Dominion University é a defesa de acesso a "pornografia infantil de qualidade" para pedófilos que não cometeram abusos sexuais. O professor, que é um homem trans e atualmente se descreve como não-binário, defende, por exemplo, o uso de bonecas eróticas que imitem crianças para prevenir o abuso sexual infantil.

A tese de dissertação de PhD de Allyn Walker fala especificamente do uso de pornografia infantil pelos pedófilos para evitar cometer abusos sexuais contra crianças. A difusão desse material foi o estopim para a demissão, comunicada de forma conjunta com a universidade em novembro do ano passado. O professor alegou ser vítima de transfobia e distorção da imprensa. Traduzo o trecho específico da pesquisa:

O uso de pornografia infantil era um tema complicado neste estudo, pois foi tanto uma estratégia para não cometer crimes contra crianças, quanto um (potencial) crime em si. Os participantes estavam cientes de que ver pornografia infantil era ilegal e pode ser considerado um crime. Doze participantes revelaram o uso passado de pornografia infantil em entrevistas.
É importante ressaltar que nem todos os participantes que divulgaram o uso de pornografia infantil se referiram a mimagens de crianças reais. Metade dos participantes que indicaram ver pornografia infantil viram fotos de crianças nuas que não pretendiam ser sexualmente sugestivas (como fotos de filmes convencionais ou fotos em revistas), ou imagens desenhadas ou geradas por computador de crianças, como lolicon (imagens de meninas desenhadas no estilo japonês, às vezes representando atos sexuais,nomeado após o romance de Nabokov, Lolita) e shotacon (imagens desenhadas de meninos).
(...) Vários participantes acreditavam que o uso de pornografia infantil era uma estratégia útil de resistência. Aiden, que estava se recuperando de um vício em pornografia (e que orgulhosamente falousobre estar limpo há cinco meses), acreditava que seu uso prévio de pornografia infantil o ajudou abster-se de atacar crianças. Ele argumentou que isso lhe dava uma saída para fantasiar sobre crianças, sem envolver as crianças que ele conhecia “na vida real”.
(...)
Embora Aiden lutasse com sentimentos de vergonha quando via pornografia infantil, ele sentia que era o menor de dois males quando comparado com agir contra uma criança. Floyd, que morava no Japão e teve acesso a imagens legais do que ele descreveu como “modelos infantis”, usou esse material como forma de evitar um crime, conforme explicado durante esta conversa:
AW: Pensando bem, já houve um momento específico em que você fez algo para
evitar suas atrações?
Floyd: Sim, eu esperava até ter total privacidade, estar sozinho e ver o material de pornografia infantil para me masturbar e aliviar energia.
AW: Ah, entendi. Você achou isso útil?
Floyd: Sim. Acho útil como um meio regular de gerenciar meu equilíbrio emocional.
AW: Hummm. E se outro PAM (pedófilo) lhe pedisse conselhos porque eles estavam tendo dificuldade em evitar agir em suas atrações, o que você acha que pode dizer-lhes para fazer?
Floyd: Se estiverem no Japão, eu diria para eles fazerem o mesmo, pois há uma grande variedade de material disponível para venda legal no varejo. Se estiverem em outro país, eu os aconselharia aencontrar algo semelhante, que fosse legal e não prejudicasse ninguém. Mas eu os advertiria a descobrir muito especialmente o que é localmente considerado legal e o que não é, para se protegerem.
(...)
Enquanto aqueles que consumiram pornografia infantil (especialmente ao retratar crianças reais) indicaram que foi útil para eles, esses participantes, no entanto, sentiram-se em conflito sobre a moral desses hábitos. Quando Klaus assistia pornografia, ele se perguntava: “‘Eu forneço eles com um incentivo para fazer o que eles fazem?" Isso me pegou em algum momento e eu desisti de olhar para
coisas na internet por esse motivo.”

Embora o professor tenha dito que o problema da sua demissão foi distorção da imprensa e transfobia, parece que foi a tese dele. Está aí, muito clara a consideração. São entrevistadas pessoas que consumiam pornografia infantil com crianças reais e isso não era tratado como crime, mas como um dilema moral envolvendo alguém que nem de pedófilo pode ser chamado para não ser oprimido. Não parece o perfil mais adequado para lutar contra abuso sexual infantil.

Curiosamente, foi na Johns Hopkins University que se cunhou o termo identidade de gênero, autoria de John Money, falecido em 2006. O mentor dele era Fred Berlin, que lutou bravamente contra uma lei de prevenção de abuso sexual infantil em Baltimore, nos EUA. As autoridades determinaram que autoridades de saúde eram obrigadas a reportar quando seus pacientes pedófilos ou não estivessem tendo relações sexuais com crianças e adolescentes.

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