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Edifício-sede do Banco Central em Brasília
Edifício-sede do Banco Central em Brasília| Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil

Comecemos pelo mais importante: a autonomia do Banco Central, aprovada na Legislatura passada por Câmara e Senado, se não foi o mais importante projeto aprovado nos últimos quatro anos certamente é o que mais proporcionou segurança e estabilidade para os brasileiros na área econômica. Como dizia durante a campanha eleitoral àqueles que mais temiam uma possível eleição de Lula, a independência da nossa autoridade monetária é um dos maiores seguros que temos contra o populismo e a irresponsabilidade governamental. Não é, pois, à toa que o agora presidente Lula tem tratado o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, como atual inimigo número um do seu governo. Por quê?

Contextualizar é preciso: responsabilidade fiscal e monetária nunca foi bandeira do PT. Pelo contrário, o partido de Lula foi contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e a criação do Plano Real quando votados no Congresso Nacional. Quando da discussão e aprovação do Banco Central independente, deputados e senadores petistas também cravaram o voto “não" nos painéis eletrônicos de cada Casa. Apesar de haver muitas razões para apontar incoerências entre discurso e prática na esquerda, nesse caso Lula e o PT têm sido consistentes: se há responsabilidade fiscal e avanço institucional, são contra.

A sanha por controle, típica da crença socialista em uma economia planejada que, no limite, levou à morte por fome na União Soviética e outros regimes comunistas; e a busca constante por inimigos para expiar as culpas das próprias políticas desastrosas, move Lula e os petistas contra uma instituição sólida comandada por um dos melhores presidentes do Banco Central em nossa história e reconhecido internacionalmente. Não importa que nossa moeda tenha se mantido nos trilhos nos últimos anos, apesar da pandemia e a pressão inflacionária mundial dela decorrentes, grande parte em razão da expansão de gastos governamentais; não importa que Roberto Campos Neto tenha sido escolhido presidente do ano de Bancos Centrais da América Latina pelo Latin Finance Banks of the Year Awards de 2021 a 2022 e o melhor presidente do mundo pela revista inglesa especializada The Banker para o ano de 2020, justamente por sua condução serena e competente nesse período, agravado pela guerra na Ucrânia: nada disso importa! Petistas querem sua cabeça porque Campos Neto não é “companheiro" e porque sua presença à frente do Banco Central seria uma “herança maldita do bolsonarismo”.

Apesar de haver muitas razões para apontar incoerências entre discurso e prática na esquerda, nesse caso Lula e o PT têm sido consistentes: se há responsabilidade fiscal e avanço institucional, são contra

A tal “herança bolsonarista”, na verdade, foi bendita. Diferentemente de Lula, Bolsonaro abriu mão da possibilidade de interferir na presidência do BC, inclusive dando mandato ao seu presidente, ao propor e encampar sua autonomia e, até onde se tem notícia, jamais tendo interferido nas suas decisões. A interferência na política de juros do banco, aliás, nunca foi competência do Presidente da República ou de seu ministro da Fazenda. Sempre foi decisão tomada pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), teoricamente sem a influência política de governantes, mesmo quando o BC não gozava da atual autonomia. Portanto, a revolta de Lula agora adquire ainda maior sentido se, no passado, era-lhe corriqueiro que, como presidente que foi, interferisse no que não era sua competência. Onde estão, agora, as estridentes vozes a acusar o atual Presidente da República de tentar interferir nas instituições?

A postura de Lula é gravíssima: a um só tempo ataca mais uma vez o Parlamento brasileiro ao questionar uma decisão congressual qualificada, aprovada por maioria absoluta nas duas casas parlamentares, e ataca nossa própria economia ao descredibilizar o Banco Central e seu comando e demonstrar claramente querer interferir em suas decisões. Felizmente, não parece haver espaço para rediscutir, no Congresso, a independência já conferida ao Banco Central. Em contrapartida, e justamente por isso, é provável que Lula aumente ainda mais o tom contra Roberto Campos Neto e dê força à máquina petista de moer reputações, a mais especializada do país em disseminar fake news, a fim de que trabalhe a todo vapor para pressioná-lo a deixar o cargo. O petismo certamente quer seu posto para concedê-lo a um genérico de Aloizio Mercadante, o “fora-da-Lei das Estatais” recém-empossado na presidência do BNDES.

Não podemos admitir retrocessos institucionais na área econômica e a ilha de sensatez representada por Roberto Campos Neto precisa ser protegida. Não se trata, tão somente, da defesa de uma pessoa qualificada para exercer a função: trata-se de defender a democracia, o avanço institucional que tivemos nos últimos anos com a autonomia do Banco Central e, sobretudo, trata-se de defender a nossa moeda e o mínimo de estabilidade econômica, já tão severamente abalada por medidas populistas já tomadas ou anunciadas por este governo. No fundo, defender o Banco Central independente é proteger o governo Lula de si mesmo: juros altos são amargos e nada desejáveis, mas são também consequência da postura fiscal irresponsável do governo Lula e o antídoto para que suas medidas populistas não resultem em ainda mais inflação, desemprego e desalento. Quem tem responsabilidade com o Brasil e não torce pelo "quanto pior, melhor", está na torcida e principalmente no apoio para que o Banco Central siga independente e Roberto Campos Neto cumpra seu mandato até o fim, em 2024.

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Conteúdo editado por:Jônatas Dias Lima
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