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Marcio Antonio Campos

Marcio Antonio Campos

Vaticano, CNBB e Igreja Católica em geral. Coluna atualizada às terças-feiras

Jubileu

O espetáculo de fé dos jovens em Tor Vergata

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O papa Leão XIV saúda os peregrinos que foram à missa de encerramento do Jubileu dos Jovens. (Foto: Fabio Frustaci/EFE/EPA)

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Quem se lembra daquela épica Jornada Mundial da Juventude de 2013, com mais de 3 milhões de pessoas na Praia de Copacabana (número que nenhum artista conseguiu igualar), deve ter se comovido ao ver os jovens do mundo inteiro em Tor Vergata, uma área periférica de Roma – tão longe do centro que fica além do anel viário que circunda a cidade –, no Jubileu dos Jovens recém-encerrado. Na noite de sábado, para a vigília, falava-se de 800 mil a 1 milhão de jovens; na missa celebrada pelo papa Leão XIV na manhã de domingo, o número certamente superou 1 milhão.

O Jubileu dos Jovens já havia começado dias antes, na terça-feira, 29 de julho, com uma missa na Praça de São Pedro, com direito a aparição surpresa do papa ao fim da celebração. Na sexta-feira, no Circo Máximo, mais de mil padres se revezaram em 200 confessionários, para ouvir as confissões dos jovens, em dez idiomas diferentes. Voluntários distribuíram 10 mil exemplares do YouCat específico sobre a confissão, disponível em quatro línguas. Os jornalistas que estiveram no local relataram longas filas, demonstrando o desejo dos jovens de se reconciliar com Deus neste Jubileu.

Algumas reportagens, especialmente na imprensa secular, destacaram o fato de a Igreja ter um novo papa, e a curiosidade que isso desperta, como um dos motivos para uma presença tão massiva de jovens – como, aliás, ocorreu também em 2013, já que Francisco havia sido eleito quatro meses antes da Jornada Mundial da Juventude e aquela seria sua primeira viagem internacional. Não descarto a possibilidade, é claro, ainda mais para quem vive na Europa e pode decidir fazer uma viagem como esta sem planejar tudo com tanta antecedência (viajando de trem, por exemplo). Mas, por outro lado, bem sabemos que muitos peregrinos já haviam feito seus preparativos e reservas bem antes da internação e do falecimento de Francisco.

“Queridos jovens, a nossa esperança é Jesus. (...) Mantenhamo-nos unidos a Ele, permaneçamos sempre na sua amizade, cultivando-a com a oração, a adoração, a comunhão eucarística, a confissão frequente, a caridade generosa.”

Papa Leão XIV, na homilia da missa final do Jubileu dos Jovens.

Independentemente de quando tenham marcado suas viagens, os jovens que foram celebrar seu jubileu com o papa ouviram muitas palavras de encorajamento de Leão XIV. Na noite de sábado, respondendo a três perguntas de jovens, o pontífice falou sobre o valor da verdadeira amizade (e a maior de todas as amizades, a amizade com Cristo), da coragem para fazer escolhas (especialmente para o matrimônio, o sacerdócio e a vida religiosa) e da busca pelo bem e pela beleza. No dia seguinte, durante a missa, o papa aproveitou as leituras do dia, especialmente o evangelho sobre os perigos da cobiça, para pedir aos jovens: “Necessitamos levantar os olhos, olhar para cima, para as ‘coisas do alto’ (Cl 3, 2), para perceber que, entre as realidades do mundo, tudo tem sentido apenas na medida em que serve para nos unir a Deus e aos irmãos na caridade”. Destaco especialmente um trecho do fim da homilia:

“Queridos jovens, a nossa esperança é Jesus. É Ele, como dizia São João Paulo II, ‘quem suscita em vós o desejo de fazer da vossa vida algo de grande […], no aperfeiçoamento de vós próprios e da sociedade, tornando-a mais humana e fraterna’. Mantenhamo-nos unidos a Ele, permaneçamos sempre na sua amizade, cultivando-a com a oração, a adoração, a comunhão eucarística, a confissão frequente, a caridade generosa, como nos ensinaram os beatos Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis, que em breve serão proclamados santos. Onde quer que estejais, aspirai a coisas grandes, à santidade. Não vos contenteis com menos. Então, vereis crescer todos os dias, em vós e à vossa volta, a luz do Evangelho.”

Espero que esses jovens tenham saído deste jubileu e deste encontro com o papa completamente energizados, e que mantenham essa força quando estiverem de volta a suas cidades, suas escolas, seu trabalho – bem sei como isso difícil às vezes, quando termina aquele tempo especial de encontro com Deus e retornamos ao cotidiano. Rezo para que tenham surgido aí muitas vocações, especialmente para o sacerdócio. E, falando nisso...

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Você já rezou pelos padres hoje?

Ontem foi a festa litúrgica de São João Maria Vianney, o Cura d’Ars, data em que tradicionalmente se celebra o dia do padre – embora as paróquias costumem comemorá-lo no domingo anterior, por razões óbvias. Festa, parabéns, presentinhos, música, os padres gostam e merecem. Mas, acima de tudo isso, do que eles precisam mesmo é de oração, e muita oração.

Em julho, o suicídio do jovem padre italiano Matteo Balzano chocou muitos católicos, inclusive (talvez especialmente) outros padres, e chamou a atenção para algo a respeito do qual muitos artigos e livros já foram escritos: a vida dos sacerdotes é humanamente muito desgastante. O padre médio de hoje em dia já não passa o dia todo celebrando missa e ouvindo confissões como o cura d’Ars: ele tem de ser pastor de almas, carismático, bom administrador e com tempo para uma série de outras atividades humanas (muitas das quais bem que podiam ficar a cargo dos leigos da paróquia, mas para isso precisaria haver leigos dispostos). Nem sempre o padre tem uma rede de apoio, como família e amigos; se é transferido de paróquia (como virou costume em muitas dioceses), tem de construir laços do zero.

Olhando de fora, não temos como saber pelo que passa um sacerdote, os fardos que ele carrega, as dificuldades com que tem de lidar, espirituais e temporais

Deus dá graça de estado aos sacerdotes, inclusive para levar adiante sua missão em circunstâncias que não são as melhores? Dá, mas o padre não é uma máquina. A verdade é que nós, olhando de fora, não temos como saber pelo que passa um sacerdote, os fardos que ele carrega, as dificuldades com que tem de lidar, espirituais e temporais – conheço padres que “herdaram” paróquias afundadas em dívidas graças à irresponsabilidade de seus antecessores, para ficar em apenas um exemplo de situação que tiraria o sono de qualquer um. Para um padre chegar ao extremo de tirar a própria vida, como fez Balzano, ele deve ter passado por provações que só Deus conhece.

Por isso, não deixe nunca de rezar pelos padres. Não apenas aqueles que você conhece, aqueles que você admira, os da sua paróquia ou diocese, mas todos eles. Porque eles precisam demais, e neste exato momento pode haver sacerdotes soterrados pela vida, que já perderam a esperança a ponto de nem conseguir mais pedir ajuda a Deus; alguém tem de fazer isso por eles, e não podemos pecar por omissão.

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