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Em um dos meus diálogos preferidos do meu filme preferido, A Missão, o padre Mendoza (Robert de Niro) diz ao padre Gabriel (Jeremy Irons) que deseja renunciar ao voto de obediência e se juntar aos índios que pretendem resistir por meio da luta armada contra os portugueses que estão a caminho para destruir a missão jesuíta. “Você não devia ter se tornado padre”, diz Gabriel. Mendoza responde: “Mas eu sou um padre, e eles [os índios] precisam de mim”. “Então ajude-os como um padre!”, retruca Gabriel imediatamente. No fim, Mendoza pega em armas ao lado dos indígenas contra os portugueses, e Gabriel ajuda-os “como um padre”, em uma das cenas mais emocionantes do filme (assista, você não vai se arrepender).
Lembrei-me desse diálogo quando li, no Crux, a história da capelania católica da Universidade de Kent, no Reino Unido. O colunista Charles Collins conta que, quando o padre Mark Wharton assumiu, as missas não reuniam mais de cinco pessoas. Aflito, ele não sabia o que fazer e procurou um sacerdote mais velho, que lhe deu um conselho básico, mas frequentemente esquecido: “você precisa fazer o que os padres fazem. Você precisa celebrar missa, ouvir confissões e promover adoração eucarística”. E foi o que o padre Wharton fez: adoração todos os dias durante o ano letivo, com missa e confissões. A missa dominical passou a ter de 50 a 60 fiéis, enquanto a adoração e as missas durante a semana reúnem 20 estudantes, em média. Parece pouco em termos relativos, mas é uma frequência 12 vezes maior que quando o padre Wharton se tornou capelão!
Se temos pouca gente nas igrejas, se é preciso ser “Igreja em saída”, como diz o papa Francisco, o padre tem de saber o que está levando ao mundo
Fazer o que os padres fazem – ou, melhor ainda, fazer o que só os padres fazem. Só o sacerdote pode trazer Cristo às pessoas na Eucaristia, só o padre pode perdoar-lhes os pecados no sacramento da confissão. Mas a realidade de muitas paróquias por aí é a de missas escassas (especialmente durante a semana), confissões em horários impraticáveis ou com burocracia digna de marcação de consulta no SUS, adoração eucarística muito ocasional... e, não raro, tudo isso não tanto por escassez de padres (que, sim, existe e é um problema sério), mas porque eles estão se dedicando a outras tarefas, muitas das quais poderiam ser confiadas a leigos (embora eu saiba que não é em todo lugar que há leigos dispostos a cuidar, por exemplo, de tarefas administrativas da paróquia).
“Mas, Marcio, você então quer que o padre se limite a ser um dispensador de sacramentos, como um caixa eletrônico?” Nem de longe. Só quero que o padre tenha consciência de que foi chamado por Deus para ajudar as pessoas a chegar ao céu, e que ele só fará isso tornando-se o próprio Cristo para os fiéis que lhe foram confiados. Que seja, antes de tudo, um pai espiritual do seu rebanho. Se temos pouca gente nas igrejas, se é preciso ser “Igreja em saída”, como diz o papa Francisco, o padre tem de saber o que está levando ao mundo; há muitas coisas que um governo ou uma ONG podem levar, mas só o sacerdote pode levar a misericórdia divina e o Pão da Vida.
Isso nos traz de volta ao padre Wharton, e a outro filme, lançado três anos depois de A Missão. Lembram de Campo dos Sonhos? “Se você construir, eles virão”, diz a voz que manda Ray Kinsella construir um campo de beisebol no meio da plantação. O capelão universitário “construiu” uma capelania centrada na missa, na confissão e na adoração, e as pessoas começaram a vir. Não é com bingo, com mídias sociais engraçadinhas, muito menos com revolução socialista que as igrejas estarão cheias. É Cristo que as pessoas procuram, e se elas não O encontrarem na paróquia mais próxima, irão procurá-Lo em outro lugar.
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Santuário de Lourdes começa a cobrir mosaicos de Marko Rupnik

A discussão demorou dois anos, mas o Santuário de Lourdes finalmente decidiu o que fazer com os mosaicos do padre abusador Marko Rupnik: ontem, dia 31, painéis de alumínio cobriram os mosaicos de duas portas laterais do santuário, e em breve o mesmo ocorrerá com as duas grandes portas centrais.
É o certo. Quem me acompanha faz mais tempo sabe que eu já cheguei a ter a arte de Rupnik em melhor conceito, mas apenas porque eu gosto de arte bizantina, que de fato é a inspiração do esloveno; depois, fui lendo mais sobre algumas características peculiares (como aqueles olhos pretos gigantes sem alma), e fui revendo minha opinião. Hoje, não acho mais que seja possível manter as obras e distanciá-las da pessoa de Rupnik, com algum aviso ou coisa do tipo; melhor remover tudo mesmo.
Agora, só faltam Fátima (podiam aproveitar e demolir toda aquela igreja redonda), Aparecida, as capelas no Vaticano, o Vatican News... e, claro, concluir de vez o processo, que já está bem enrolado, e dar ao padre Rupnik a punição merecida.








