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Marcio Antonio Campos

Marcio Antonio Campos

Vaticano, CNBB e Igreja Católica em geral. Coluna atualizada às terças-feiras

Música

A homenagem ao padre Zezinho nos 50 anos de “Um certo galileu”

padre zezinho
O padre Zezinho, 84 anos, durante as gravações do clipe comemorativo dos 50 anos de "Um certo galileu". (Foto: Juliene Barros/Paulinas-Comep)

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Por esses dias, o Vaticano está celebrando o Jubileu dos Missionários Digitais e Influenciadores Católicos. Mas, muito antes que houvesse influenciadores digitais, muito antes até mesmo do fenômeno dos “padres cantores”, havia o padre Zezinho. Posso dizer com quase toda a certeza que não existe católico no Brasil que não o conheça e nunca tenha ouvido ao menos algumas de suas canções. O nome dele me traz muitas memórias de infância; minha avó e minhas tias sabiam que, se quisessem deixar o neto e o sobrinho feliz nas datas comemorativas, era só chegar com um LP do padre Zezinho. Ele inclusive participou, algumas vezes, da novena da padroeira na paróquia do bairro onde eu morava no interior de São Paulo; lembro também que eu vivia batendo ponto no trailer que as irmãs paulinas sempre traziam nessa época, para vender os livros da editora.

Meu sogro dizia, e eu concordo, que só a Oração pela família já bastaria para garantir o lugar do padre Zezinho no céu. Mas esse ainda é um sucesso “tardio” para os padrões dele; foi gravado em 1990, enquanto sua carreira de compositor, cantor e escritor já tinha começado lá nos anos 60. E outra de suas composições mais conhecidas está completando 50 anos: Um certo galileu, que abria o disco homônimo lançado em 1975 (e a memória pode até estar me traindo, mas acho que esse foi o primeiro disco do padre Zezinho que eu tive). Para marcar a data, a gravadora Paulinas-Comep lançou um documentário comemorativo, com depoimentos de vários outros artistas sobre como o trabalho do padre Zezinho (e essa canção em específico) os marcou, e um clipe da canção. Vejam aí:

Com a chegada das mídias sociais, o padre Zezinho passou a usá-las como mais uma forma de evangelização, compartilhando suas reflexões e catequeses, e bagunçando a cabeça de qualquer um que tente classificá-lo com um rótulo ou colocá-lo em uma caixinha fixa – ele mesmo já afirmou que não falta quem o critique por ser “de esquerda”, mas também por ser “de direita”. Um dia ele está falando de Teologia da Libertação (mas sempre ressaltando que a corrente de viés marxista foi condenada pela Igreja), outro dia está elogiando o bispo norte-americano Robert Barron – que acabou de receber um prêmio em uma diocese alemã, apesar de ser criticado por católicos dessa mesma diocese por ser contra a ideologia de gênero. Podemos concordar, podemos discordar (respeitosamente), mas não podemos ignorar a importância do padre Zezinho no catolicismo brasileiro das últimas décadas, como um dos pioneiros da evangelização pela música.

A difícil vida dos cristãos na Terra Santa, entre islâmicos e judeus radicais

igreja sao jorge taybeh cisjordaniaRuínas da Igreja de São Jorge, na vila cristã de Taybeh, na Cisjordânia, alvo de um incêndio criminoso recente. (Foto: Magda Gibelli/EFE)

A essa altura, muitos leitores já viram as cenas dos estragos na igreja da Sagrada Família, em Gaza, durante um ataque israelense no último dia 17: três pessoas morreram e várias ficaram feridas, inclusive o pároco Gabriel Romanelli. Tanto o papa Leão XIV quanto os cardeais Pietro Parolin (secretário de Estado) e Pierbattista Pizzaballa (patriarca latino de Jerusalém) condenaram o ocorrido em termos bastante duros; o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ligou para o papa, lamentando o ocorrido, e as autoridades israelenses insistem que o ataque não foi intencional, referindo-se a “munição perdida” – Parolin afirmou, mais recentemente, que não tem elementos para rejeitar categoricamente a conclusão israelense.

Acidental ou intencional, o ataque à única igreja católica na Faixa de Gaza infelizmente não é episódio isolado. O ódio dos radicais islâmicos ao cristianismo já é bastante conhecido (embora às vezes convenientemente escondido), mas o vaticanista Sandro Magister publicou, no fim da semana passada, um relato preocupante sobre como alas radicais de colonos judeus também enxergam os cristãos como um estorvo que deveria ser expulso – especialmente porque a maioria dos cristãos que vivem na Cisjordânia e em Gaza é etnicamente formada por árabes. Há episódios assustadores, como o incêndio de uma igreja do século 5.º, e ontem mesmo um novo ataque à vila cristã de Taybeh resultou em carros queimados e muros pichados com ameaças.

Alas radicais de colonos judeus também enxergam os cristãos como um estorvo que deveria ser expulso

O Franklin Ferreira, colunista da Gazeta do Povo que visita Israel com frequência, observa que parte dos colonos judeus na Cisjordânia compartilha uma mentalidade semelhante à de grupos que hostilizam cristãos em Jerusalém, como aqueles que às vezes se vê cuspindo em peregrinos. “Meus amigos judeus veem esses grupos com grande preocupação, pois consideram que sua atuação agrava as tensões na região”, afirma. Segundo ele, os colonos mais ativos na expansão dos assentamentos geralmente pertencem ao setor do sionismo religioso, com uma visão nacionalista e messiânica. Já os judeus ultraortodoxos, embora menos envolvidos nesse ativismo, também vivem em assentamentos – motivados muitas vezes por questões econômicas – e costumam estar isentos do serviço militar, dedicando-se principalmente ao estudo religioso. “Apesar das tensões que esses grupos geram dentro da própria sociedade israelense, partidos ultraortodoxos seguem sendo aliados importantes nas coalizões lideradas por Netanyahu”, acrescenta. Ferreira também alerta que a presença e as ações de alguns desses grupos podem colocar em risco a preservação de sítios arqueológicos da Terra Santa.

Obviamente, como já lembrei aqui na coluna, isso não é justificativa nem mesmo para um “bem feito” diante de barbaridades como as cometidas pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, mas é um lembrete de que os cristãos que vivem na região infelizmente sofrem nas mãos de mais de um lado nessa disputa de décadas.

Cardeal Sarah e sua bela homilia na França

cardeal robert sarahO cardeal Robert Sarah, da Guiné, durante missa pela alma do papa Francisco, em abril de 2025. (Foto: Fabio Frustaci/EFE/EPA)

Acho que já disse isso aqui: tenho amigos que tiveram uns milissegundos de êxtase quando o cardeal protodiácono anunciou a eleição do novo papa e soltou um “Eminentissimum Dominum Robertum...”, imaginando que Robert Sarah tinha sido eleito papa – como logo depois do “Robertum” já veio um “Franciscum”, a ilusão acabou rapidinho. Mas os dois Roberts, o Prevost e o Sarah, estão se dando bem, e Leão XIV escolheu o cardeal africano como enviado pontifício para a celebração dos 400 anos das aparições de Santa Ana na região francesa da Bretanha. A missa ocorreu no último sábado, dia 26 (festa de São Joaquim e Santa Ana), e a homilia do cardeal foi de cair o queixo. A vaticanista Diane Montagna traduziu quase todo o sermão para o inglês, e o publicou em seu Substack.

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Sarah pediu que a “filha mais velha da Igreja” cumpra sua vocação. “Deus escolheu a França para ser uma terra santa, um lugar selecionado para Ele. Não profanem a França com suas leis bárbaras e desumanas que promovem a morte, quando Deus quer vida”, disse o cardeal, que insistiu muito no tema dos locais e das pessoas que Deus reserva para si. “Nossas igrejas não são teatros, nem salas de concerto, nem locais para eventos culturais ou recreativos. A igreja é a casa de Deus, é reservada apenas para Ele”, afirmou, criticando a visão moderna da religião como um misto de atividade humanitária e aperfeiçoamento pessoal, e recordando que “o que salvará o mundo é o homem se ajoelhando diante de Deus, para adorá-lo e servi-lo. Deus não está à nossa disposição, nós é que estamos a seu serviço”.

Oração, adoração, silêncio (tema de um dos livros recentes de Sarah) e liturgia, confissão, fidelidade à vocação de cada um, respeito pelo nosso corpo – é por meio disso tudo, diz o cardeal, que chegaremos à santidade. E ele termina com uma mensagem de confiança: “mesmo quando tudo parecer sombrio, podemos sempre dizer, com nosso amado papa Leão XIV, que o mal não triunfará, o mal não prevalecerá. Deus, o nosso Deus, é infinitamente bom, infinitamente belo, infinitamente grande”. Palavras ao mesmo tempo duras, bonitas e encorajadoras.

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