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Graças ao bom Deus e às orações de católicos do mundo todo – inclusive dos conservadores, ao contrário do que alguns paspalhos de internet andam dizendo por aí –, o papa Francisco está se recuperando. Teve alta do hospital e está de volta ao Vaticano, mas ainda sem agenda e sem receber visitas, o que é muito compreensível, porque o papa ainda não está plenamente recuperado. Quem já precisou ficar hospitalizado por muito tempo sabe bem que o mero processo de internação já pode ser bastante debilitante, e a voz do papa na saudação aos fiéis da janela do Gemelli estava bem fraca, atestando que a terapia respiratória ainda será necessária por algum tempo.
(aliás, a pergunta que não quer calar: os irresponsáveis que deram ao papa 72 horas de vida citando “fontes confiáveis do hospital Gemelli” já se retrataram, publicaram ao menos um “errei, fui moleque”, ou vão deixar quieto na esperança de que logo todo mundo se esqueça dessa barrigada monumental?)
Diz-se – não sei até que ponto é verdade – que, no fim do pontificado de São João Paulo II, o papa estava delegando muitas decisões importantes aos assessores em quem mais confiava, como o então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, ou o arcebispo Stanislaw Dziwisz, secretário pessoal do papa. Não sabemos se estamos no estágio final do pontificado de Francisco, mas de uma coisa podemos ter certeza: mesmo enquanto estava no hospital, ele fez questão de demonstrar que seguia firme e forte à frente da Igreja, tomando uma série de decisões, redigindo mensagens e homilias para as celebrações e audiências, e inclusive traçando alguns planos de médio prazo para a Igreja.
Mesmo enquanto estava no hospital, o papa Francisco fez questão de demonstrar que seguia firme e forte à frente da Igreja
Enquanto estava internado, Francisco aceitou renúncias e fez nomeações de bispos; indicou a freira Raffaella Petrini para presidir o Governatorato da Cidade do Vaticano; convocou um consistório, ainda sem data definida, para tratar de duas canonizações, além de aprovar decretos relativos a outras causas de canonização em estágios mais iniciais; e fez vários telefonemas a uma paróquia na Faixa de Gaza. Além disso, o papa ainda determinou o início de um processo, com duração de três anos, para a “implementação” dos resultados do Sínodo sobre a Sinodalidade, com encontros periódicos de avaliação que terminarão em outubro de 2028, com uma grande assembleia em Roma que substituirá a XVII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos.
A esse respeito, o leitor da coluna já sabe que tenho lá minhas críticas, a começar pelo fato de que ninguém pode dizer com toda a certeza que sabe exatamente o que é a tal da “sinodalidade”, e que tudo isso me parece autocentrado demais para uma “Igreja em saída”, que deveria estar aí levando o Evangelho ao mundo moderno, mas parece mais preocupada com seus processos internos. Mas, enfim, isso parece ser uma prioridade para Francisco, então continuaremos com essa conversa de “sinodalidade” por mais algum tempo.
Talvez esse processo, anunciado no sábado, dia 22, seja uma das “surpresas” de que o cardeal Victor Fernández falou na véspera, dia 21. Na ocasião, o prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé disse que Francisco não renunciaria, e que o pontífice “começará uma nova etapa”, embora sem entrar em muitos detalhes sobre o que caracterizaria essa nova fase do atual pontificado.
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Não sabemos as surpresas, mas sabemos que o estilo de governo de Francisco deve continuar o mesmo. Em parte, porque ele não tem (ou não quer ter) um entorno estável como o que João Paulo II tinha, formado por pessoas capazes de entender e executar à risca os desejos do papa. Francisco já trocou de secretário pessoal várias vezes, e o único membro da Cúria a se manter no mesmo cargo ao longo de todo este pontificado é o secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin; tamanha rotatividade impede a formação de um “núcleo duro” em quem o papa possa confiar, pois até mesmo o Conselho de Cardeais criado por Francisco em 2013 também tem mudado sua formação. Além disso, vaticanistas como John Allen Jr. já afirmaram várias vezes que o papa é extremamente avesso a que lhe digam o que fazer, e não quer ser visto como alguém influenciável. Não à toa Francisco tem usado o recurso do motu proprio de forma muito mais frequente que seus antecessores.
Sigamos rezando, então, para que o papa melhore de vez e que seu pontificado, dure o tempo que durar, transcorra de acordo com a vontade de Deus, que é a fonte do poder exercido hoje por Francisco.








