“Ele é o mesmo há décadas, não enganou ninguém”. O comentário surge em forma de crítica a quem votou em Jair Bolsonaro e hoje questiona o seu desempenho no comando do país. Argumenta-se, não sem razão, que as falas e atitudes do mito em toda sua trajetória política jamais sugeriram conduta diferente desta que hoje ele impõe à sociedade, ao jornalismo profissional e às instituições. A tese em torno da reprimenda pode fazer sentido, mas ela não anula o fato de que estamos testemunhando um episódio clássico de estelionato eleitoral.
O caso mais recente a explicitar essa realidade aconteceu há poucos dias, com a criação do ministério das Comunicações e o anúncio de Fábio Faria (PSD-RN) para o seu comando. Na ocasião, de uma só vez o presidente atropelou três promessas de campanha: havia garantido “no máximo” 15 ministérios, já são 23; asseverou a composição de quadros técnicos na direção das pastas, mas admitiu que Faria não é profissional do setor; por fim, sepultou de vez o combate ao toma lá, dá cá, uma de suas principais bandeiras, ao ressuscitar um ministério para agraciar o PSD de Gilberto Kassab, abrindo assim as portas do governo para o centrão.
Rifar o ex-ministro Sérgio Moro sob o pretexto de ter mais acesso a relatórios da Polícia Federal foi o sinal mais eloquente de que nem mesmo o risco de frustrar apoiadores é capaz de frear os impulsos imperiais do presidente.
Antes, houve a célebre declaração “pretendo beneficiar meu filho, sim”, referindo-se à indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada em Washington.
Depois, a demissão de Luiz Henrique Mandetta, talvez quem aos olhos da sociedade mais se encaixasse no estereótipo do perfil técnico. Em seguida foi a vez de Nelson Teich, deixando o país até hoje — em meio a uma pandemia — sem um ministro da Saúde efetivo.
Quanto à agenda liberal na economia, o que dizer? As alardeadas privatizações que gerariam aos cofres do governo R$ 1 trilhão não deram o ar da graça. O crescimento já decepcionava antes mesmo do estrago causado pela covid-19.
Ainda na seara de Paulo Guedes, conversei com alguns dos melhores economistas do país e o diagnóstico, unânime, não surpreendeu: um governo obcecado em gerar confronto e causador contumaz de ruídos afasta potenciais investidores internos e externos.
Nada pode ser mais importante no momento do que a mortandade de dezenas de milhares de brasileiros. Por isso mesmo, seria equivocado ignorar os eventos diretamente responsáveis por candidatar o Brasil a epicentro dessa tragédia global. Lembrando que fomos um dos últimos países a encarar o coronavírus.
O cinismo é do jogo — não foi a primeira vez que Bolsonaro rasgou a fantasia eleitoral e tudo indica que não terá sido a última —, mas nunca o autoengano foi tão consciente quanto em 2018.
A bronca é justificada, mas alegar surpresa é desaforo.
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