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Ao passo que a Polícia mata, Bolsonaro mente como se não houvesse amanhã e carcome a democracia por dentro. Paraíso o Brasil nunca foi, mas sobretudo nos últimos anos vem se tornando um lugar cada vez mais insuportável para se viver.

Insuportável se você for branco, diga-se. Se você for preto ou não tiver condições financeiras de morar em áreas mais seguras, a própria existência fica ameaçada. Era o caso de Kathlen Romeu.

Kathlen morava no Complexo do Lins, Zona Norte do Rio de Janeiro, tinha 24 anos e estava grávida. Tinha saído de casa na companhia da mãe para visitar a avó quando começou um confronto entre policiais militares e traficantes. Levou um tiro de fuzil no peito. O projétil saiu pelas costas.

A tragédia de sua morte não foi a primeira do tipo e certamente não será a última. Nada mudou antes e, tudo indica, nada mudará agora. Pelo menos não enquanto o Estado continuar apostando em uma política de segurança pública tão criminosa quanto eugenista

Tratou-se de um crime bárbaro, entretanto a reação geral foi tímida. Deixar de se indignar com a perda de uma vida de maneira tão estúpida dá a real medida de como já nos transformamos em uma sociedade doente, porém no Brasil de Bolsonaro o panorama não poderia ser outro.

Não que Jair deva ser individualizado como responsável maior pela criminalidade no Rio e em outras importantes capitais. Segurança pública é um problema crônico há décadas. O clima de desdém dispensado às causas humanistas, certo cinismo e até mesmo asco irracional por quaisquer propostas que promovam empatia, principalmente aquelas voltadas às minorias, estes sim têm a digital de Bolsonaro. Idem para os decretos que flexibilizaram as regras para uso e compra de armas de fogo munição.

Pretos podem continuar morrendo feito moscas e meio milhão de Covid, a prioridade de Bolsonaro continuará sendo a mesma de quando tomou posse: se reeleger. Por isso mente sem parar. A verdade aniquilaria suas chances.

Um desses episódios, em que o presidente mentiu deslavadamente, se deu na última quarta-feira, em Anápolis, quando já em clima de campanha discursou para uma plateia de empresários e pastores evangélicos.

Jair voltou a afirmar que a eleição em 2018 foi fraudada, embora jamais tenha oferecido provas que sustentassem esse argumento, mesmo quando foi interpelado judicialmente para fazê-lo.

Em seguida, insistiu na mais nova lorota: tabelas do TCU, que na realidade inexistem, comprovariam o “superdimensionamento” de mortes por Covid-19. Disse ainda que na realidade o Brasil é o país onde menos morreu gente vítima da pandemia.

Assusta que o presidente da República insista numa mentira deslavada e já esclarecida — o  Tribunal confirmou que o documento em que Bolsonaro se baseia é falso e afastou um auditor bolsonarista, agora sob investigação, cujo pai é um coronel reformado do Exército da mesma turma do presidente na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) —, mas é disso que se trata.

No bojo da falação repleta de inverdades, Jair voltou a falar em “guerra química”, a levantar dúvidas a respeito da eficácia das vacinas e a defender o uso de hidroxicloroquina.

No Brasil atual, quem não morre vítima da violência, como Kathlen, do negacionismo ou da incompetência do governo federal está fadado a conviver com narrativas construídas com o propósito de perpetuar um projeto de poder autoritário. Projeto esse que tem no presidente o seu grande arquiteto.

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