Nas quebradas cariocas, onde falta esgoto e o distanciamento é imposto pelo tráfico à revelia do terraplanismo presidencial, Bolsonaro seria homenageado com inúmeras alcunhas. Nenhuma mais adequada do que ‘vacilão’.
Segundo o pai dos burros, o epíteto descreve pessoas inconvenientes, habituadas a cometer gafes e que “delatam ou denunciam, demonstrando traição”. Entretanto, ninguém melhor do que o agora ex-ministro da Saúde para descortinar a natureza do presidente da República. À Veja, Luiz Henrique Mandetta declarou: “Você conversa hoje, a pessoa entende, diz que concorda, depois muda de ideia e fala tudo diferente. Você vai, conversa, parece que está tudo acertado e, em seguida, o camarada muda o discurso de novo”.
Chefe do Executivo, Jair Bolsonaro tinha a seu dispor duas possibilidades envolvendo aquela que hoje é a pasta mais relevante no seu e em qualquer governo. A primeira era deixar Mandetta trabalhar. Afinal, após 14 meses impondo à sociedade um casting assaz pitoresco — destaque para Abraham Weintraub, Ernesto Araújo e Ricardo Salles —, eis que uma crise de proporções épicas lhe dava a chance de desfilar com alguém popular por merecimento. A outra seria demiti-lo.
Pois o presidente conseguiu encontrar um caminho ainda pior do que se livrar de um ministro que apresentava bom desempenho: a sua fritura.
Bolsonaro tentou de todas as maneiras forçar a saída de um subordinado que cometeu o grave pecado de emanar luz própria. Houve passeios desajuizados, contatos com populares, indiretas e ameaças. Para além de ridicularizar a ciência, seu objetivo era o de forçar Mandetta a pedir demissão e assim amenizar o desgaste político. Sem sucesso, restou vender a tese do “divórcio consensual”. Narrativa tão atrevida que nos obriga a concluir: o presidente faz da inteligência dos brasileiros o mesmo juízo que muitos deles já fazem da sua.
O desligamento sumário de Mandetta não faria sentido nenhum, mas ao menos a população não passaria pelo dissabor de, por semanas a fio, acompanhar uma postura acovardada e prejudicial ao combate da pandemia. Acima de tudo, não teríamos perdido tempo.
Nelson Teich, o novo encarregado de satisfazer os caprichos do mito se quiser permanecer no cargo, pediu 15 dias para apresentar um plano de combate ao vírus. É uma pena que, somado às máscaras, quartos de UTI, testes e pessoal qualificado, falte tempo.
Em sua compreensão antipática da realidade, Bolsonaro admite que a vida das pessoas possa até mesmo correr risco — sobremaneira a dos pobres, dos pretos e dos favelados, por meio de sua postura irresponsável e das políticas que Teich deve implementar —, mas nunca o seu projeto de poder.
“O Brasil tem que entender que quem tem que salvar a vida dele é ele, pô! Se ele não tem amor pelo pai dele, paciência!”, declarou o presidente há menos de um mês. “Essa briga de começar a abrir para o comércio é um risco que eu corro, porque se agravar vem pro meu colo”, disse há três dias.
Ambas as falas são dignas de registro. A primeira pelo óbvio: não se tem notícia de alguém eleito para chefiar o Executivo demonstrando, publicamente, tanto desprezo por seu povo. A segunda pela raridade que é ver o presidente demonstrando lucidez, ainda que deixando clara a sua prioridade.
O colo que aguarde. Pena que o preço será tão alto.
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